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O BISCOITO MOLHADO
Edição 4980 Data: 05 de novembro de 2014
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ORLANDO SILVA E FRANK SINATRA NO RÁDIO MEMÓRIA
PARTE II
-Quem não foi
ao show do Cariocando não sabe o que perdeu. O show foi melhor do que eu
esperava. As pessoas ficaram fascinadas.
-O Paulo
Marquez cantando muito... e um conjunto, Jonas, que era um deslumbramento. Aquele violonista Sérgio... não sei o
sobrenome dele.
-Sérgio Sete
Cordas.- socorreu-o.
-Ele estava
encapetado.
-E o Simon
falando bobagem. – interveio o idealizador do evento que deu início às
homenagens pelo centenário do Orlando Silva, que ocorrerá em 2015.
-Eu ri muito
com o Simon, Jonas. A Bete, ao meu lado, me perguntava: “O que isto tem a ver
com o Orlando Silva?”
Um parênteses:
está ai, Sérgio, o encanto do Simon Khoury.
Faltou ele nas nossas reuniões do Sabadoido, porque não há TEI - Transtorno
Explosivo Intermitente – de polemistas que resista aos causos que ele conta.
-Ele disse uns
disparates; as pessoas morriam de rir.
-O Simon
estava lá para descontrair. – afirmou o Jonas Vieira.
Logo em
seguida, o seu tom de voz se tornou mais sério.
-Hoje, nós
voltamos a homenagear Orlando Silva com mais um cantor.
-Frank Sinatra.
- completou o Sérgio Fortes a informação.
Ficou assim
configurado o programa: Jonas Vieira, de um lado, com o Orlando Silva e Sérgio
Fortes, do outro, com o Frank Sinatra,
cujo centenário será também no ano que vem. Perguntará o leitor afeito ao boxe:
cada um num corner com o seu
treinador? Não, não houve nada de
pugilismo, apesar de muitos chamarem o boxe de nobre arte. No Rádio Memória,
haveria arte de verdade.
-Então, os
dois estão disputando?!... Eu sou mais o Orlando.
Sérgio riu e o
Jonas Vieira seguiu adiante:
-Aqui está
Orlando mostrando como se canta um fox.
Mais um sucesso da sua carreira.
Encerrada a
primeira gravação do Rádio Memória. Jonas Vieira repetiu o nome da música e
seus autores: “Dai-me Suas Mãos”, de Roberto Martins e Mário Lago.
-Sérgio
Fortes, e o Frank Sinatra, o que vai cantar?
-O Francis
Albert para os íntimos... - quebrou o clima de duelo canoro.
-Vamos de Cole
Porter para abrir os trabalhos, para mostrar a que viemos: “I Concentrate On You”, uma gravação de 2 de agosto de 1960.
Jonas Vieira
aprovou a escolha e Sérgio Fortes mencionou, parece que tinha se esquecido, a
orquestra, que era de Nelson Riddle.
-Nelson
Riddle, Cole Porter e Frank Sinatra, tudo resolvido. - assinalou o titular do
Rádio Memória.
Sérgio Fortes
repetiu que a gravação era de 1960 e o seu companheiro afirmou que foi a melhor
fase do Frank Sinatra. Há controvérsias.
Não teria sido em meados dos anos 40 e no início dos 50? ... O certo é
que não foi a fase do Sinatra dos últimos anos, embora o seu sucesso fosse extraordinário. Saltam aos olhos (aos
ouvidos, principalmente) que a parafernália das gravadoras, que Orlando Silva
não alcançou, permite uma espécie de “photoshop” na voz, viabiliza o sumiço das
celulites vocais, isto é, das notas desafinadas sem falar de outros
artificialismos.
Jonas Vieira
elucubrou:
-Imagine o
Frank Sinatra com o Nelson Riddle e o Orlando Silva com o Radamés Gnattali
juntos.
E concluiu:
-Só no céu.
Logo, voltou a
pôr os pés no chão:
-Muito bem;
vamos de Orlando num samba do Ataulfo Alves. Todos os sambas do Ataulfo Alves
são maravilhosos. O que é o samba? Ataulfo responde em “Exaltação À Cor”. A
gravação é de 1954 com Orlando Silva.
Após as notas
musicais cantadas e tocadas, Jonas Vieira citou trechos da letra e aludiu à
onipresença do maestro Radamés Gnattali.
Pediu licença
para registrar a assiduidade de um ouvinte, procurador federal, que disse
acompanhar este programa das manhãs dominicais como se fosse uma missa. Diante de tão inspirada comparação, Jonas
Vieira lhe enviou o seu “demorado abraço”.
Sérgio Fortes
aproveitou o gancho para se referir a este jornal que dedicou quatro edições ao
Orlando Silva, quando o Ricardo Cravo Albim também esteve presente. Bem, não
fizemos mais que a nossa obrigação; se Wagner e Simon Khoury têm uma
tetralogia, por que não o “Cantor das Multidões”? Sérgio Fortes não parou aí;
registrou a “descompostura” que lhe passamos porque, ao citar Ramon Vinay e
Carlo Bergonzi, no programa passado, não aludiu ao Mario Del Monaco, nosso
ídolo, que cantava, numa mesma récita, o Prólogo de “Os Palhaços”, na tessitura
de barítono e passava para a voz de tenor, encarnando Canio, o protagonista
dessa ópera.
Acreditamos
que, na realidade, Sérgio Fortes sofreu remorsos por ter esquecido um dos seus
ídolos canoros, ainda mais na presença do Jonas, que não se esquece jamais.
Certa vez, num almoço de aniversário do Dieckmann, sentado ao meu lado,
revelou-me que se hospedou, em Buenos Aires, num hotel decadente, só porque
soube que o grande Mario Del Monaco já estivera lá numa temporada no Teatro
Colón.
-Del Monaco é
um desses fenômenos. - afirmou.
-E agora,
Sérgio?- pediu mais música o Jonas Vieira.
-Agora, vamos
partir para Irving Berlin, que é outro autor que você não desgosta.
E anunciou
“Always”, com Frank Sinatra.
-O Orlando
gravou a versão. Se eu soubesse que você ia trazer com o Frank Sinatra, eu
teria trazido a versão do Orlando Silva para responder à altura.
A versão de
“Always” de Irving Berlin foi elaborado por Mário Rossi e gravada por Orlando
Silva em 1945, com a orquestra Odeon.
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