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quinta-feira, 6 de novembro de 2014

2730 - cantores de lá e de cá


           

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O BISCOITO MOLHADO

Edição 4980                                 Data: 05  de  novembro de 2014

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ORLANDO SILVA E FRANK SINATRA NO RÁDIO MEMÓRIA

PARTE II

 

-Quem não foi ao show do Cariocando não sabe o que perdeu. O show foi melhor do que eu esperava. As pessoas ficaram fascinadas.

-O Paulo Marquez cantando muito... e um conjunto, Jonas, que  era um deslumbramento.  Aquele violonista Sérgio... não sei o sobrenome dele.

-Sérgio Sete Cordas.- socorreu-o.

-Ele estava encapetado.

-E o Simon falando bobagem. – interveio o idealizador do evento que deu início às homenagens pelo centenário do Orlando Silva, que ocorrerá em 2015.

-Eu ri muito com o Simon, Jonas. A Bete, ao meu lado, me perguntava: “O que isto tem a ver com o Orlando Silva?”

Um parênteses: está ai, Sérgio,  o encanto do Simon Khoury. Faltou ele nas nossas reuniões do Sabadoido, porque não há TEI - Transtorno Explosivo Intermitente – de polemistas que resista aos causos que ele conta.

-Ele disse uns disparates; as pessoas morriam de rir.

-O Simon estava lá para descontrair. – afirmou o Jonas Vieira.

Logo em seguida, o seu tom de voz se tornou mais sério.

-Hoje, nós voltamos a homenagear Orlando Silva com mais um cantor.

-Frank Sinatra. - completou o Sérgio Fortes a informação.

Ficou assim configurado o programa: Jonas Vieira, de um lado, com o Orlando Silva e Sérgio Fortes, do outro,  com o Frank Sinatra, cujo centenário será também no ano que vem. Perguntará o leitor afeito ao boxe: cada um num corner com o seu treinador?  Não, não houve nada de pugilismo, apesar de muitos chamarem o boxe de nobre arte. No Rádio Memória, haveria arte de verdade.

-Então, os dois estão disputando?!... Eu sou mais o Orlando.

Sérgio riu e o Jonas Vieira seguiu adiante:

-Aqui está Orlando mostrando como se canta um fox.  Mais um sucesso da sua carreira.

Encerrada a primeira gravação do Rádio Memória. Jonas Vieira repetiu o nome da música e seus autores: “Dai-me Suas Mãos”, de Roberto Martins e Mário Lago.

-Sérgio Fortes, e o Frank Sinatra, o que vai cantar?

-O Francis Albert para os íntimos... - quebrou o clima de duelo canoro.

-Vamos de Cole Porter para abrir os trabalhos, para mostrar a que viemos: “I Concentrate  On You”, uma gravação de 2 de agosto de 1960.

Jonas Vieira aprovou a escolha e Sérgio Fortes mencionou, parece que tinha se esquecido, a orquestra, que era de Nelson Riddle.

-Nelson Riddle, Cole Porter e Frank Sinatra, tudo resolvido. - assinalou o titular do Rádio Memória.

Sérgio Fortes repetiu que a gravação era de 1960 e o seu companheiro afirmou que foi a melhor fase do Frank Sinatra. Há controvérsias.  Não teria sido em meados dos anos 40 e no início dos 50? ... O certo é que não foi a fase do Sinatra dos últimos anos, embora o seu sucesso  fosse extraordinário. Saltam aos olhos (aos ouvidos, principalmente) que a parafernália das gravadoras, que Orlando Silva não alcançou, permite uma espécie de “photoshop” na voz, viabiliza o sumiço das celulites vocais, isto é, das notas desafinadas sem falar de outros artificialismos.

Jonas Vieira elucubrou:

-Imagine o Frank Sinatra com o Nelson Riddle e o Orlando Silva com o Radamés Gnattali juntos.

E concluiu:

-Só no céu.

Logo, voltou a pôr os pés no chão:

-Muito bem; vamos de Orlando num samba do Ataulfo Alves. Todos os sambas do Ataulfo Alves são maravilhosos. O que é o samba? Ataulfo responde em “Exaltação À Cor”. A gravação é de 1954 com Orlando Silva.

Após as notas musicais cantadas e tocadas, Jonas Vieira citou trechos da letra e aludiu à onipresença do maestro Radamés Gnattali.

Pediu licença para registrar a assiduidade de um ouvinte, procurador federal, que disse acompanhar este programa das manhãs dominicais como se fosse uma missa.  Diante de tão inspirada comparação, Jonas Vieira lhe enviou o seu “demorado abraço”.

Sérgio Fortes aproveitou o gancho para se referir a este jornal que dedicou quatro edições ao Orlando Silva, quando o Ricardo Cravo Albim também esteve presente. Bem, não fizemos mais que a nossa obrigação; se Wagner e Simon Khoury têm uma tetralogia, por que não o “Cantor das Multidões”? Sérgio Fortes não parou aí; registrou a “descompostura” que lhe passamos porque, ao citar Ramon Vinay e Carlo Bergonzi, no programa passado, não aludiu ao Mario Del Monaco, nosso ídolo, que cantava, numa mesma récita, o Prólogo de “Os Palhaços”, na tessitura de barítono e passava para a voz de tenor, encarnando Canio, o protagonista dessa ópera.

Acreditamos que, na realidade, Sérgio Fortes sofreu remorsos por ter esquecido um dos seus ídolos canoros, ainda mais na presença do Jonas, que não se esquece jamais. Certa vez, num almoço de aniversário do Dieckmann, sentado ao meu lado, revelou-me que se hospedou, em Buenos Aires, num hotel decadente, só porque soube que o grande Mario Del Monaco já estivera lá numa temporada no Teatro Colón.

-Del Monaco é um desses fenômenos. - afirmou.

-E agora, Sérgio?- pediu mais música o Jonas Vieira.

-Agora, vamos partir para Irving Berlin, que é outro autor que você não desgosta.

E anunciou “Always”, com Frank Sinatra.

-O Orlando gravou a versão. Se eu soubesse que você ia trazer com o Frank Sinatra, eu teria trazido a versão do Orlando Silva para responder à altura.

A versão de “Always” de Irving Berlin foi elaborado por Mário Rossi e gravada por Orlando Silva em 1945, com a orquestra Odeon.    

 

 

 

 

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