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O BISCOITO MOLHADO
Edição 4979 Data: 04 de novembro de
2014
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ORLANDO SILVA E FRANK SINATRA NO RÁDIO MEMÓRIA
-Muitíssimo
bom dia.
-Jonas, vamos
começar pelo calendário? Semana passada,
cheguei atrasado; fui repreendido e ficamos sem calendário.
-Claro,
Sérgio.
-Ele é curto,
mas muito bom.
E seguiu
adiante:
-2 de
novembro, em 1830, Chopin deixa a sua cidade natal, Zelazowa Wola.
-Você fala
polonês cada vez melhor. – embasbacou-se com a pronúncia caprichada do seu
parceiro.
-O polonês é
danado; são quatro consoantes para uma vogal. - observou o Sérgio. (*)
Fosse o
Sérgio Fortes comentarista de política internacional em meados dos anos 70,
seria capaz de pronunciar naturalmente o nome do Conselheiro de Segurança dos
Estados Unidos, do governo do Jimmy Carter, que se chamava Zbigniew Brzekinski?
Acreditamos que sim, que a língua do nosso amigo não ficaria com sequelas. (**)
-Sérgio fala
russo, polonês e Javanês.
Jonas Vieira
aludia, provavelmente, aos nomes com que ele se depara quando apresenta o
programa da Orquestra Sinfônica Brasileira na Rádio MEC. No caso da língua
javanesa, a citação era do conto do Lima Barreto; apesar de o homem que sabia
javanês ser dado a patranhas, Sérgio não se abalou, nem havia razão para isso.
-Em casa, eu
falo aramaico.
Como o nosso amigo
é extremamente modesto, o oposto do Dieckmann, nós informamos aos nossos
leitores que Mel Gibson só dirigiu o filme “A Paixão de Cristo”, com a fala em
aramaico, que era a língua do Salvador, porque teve o Sérgio Fortes como autor
dos diálogos e monólogos.
Depois dessas
considerações, voltemos ao calendário.
-Chopin saiu
da sua cidade natal, foi para Varsóvia e, de lá, rumou para Paris, onde
construiu a sua excepcional carreira.
E passou para
a primeira disputa automobilística nos Estados Unidos ocorrida em 2 de novembro
de 1895.
-Como
aficionado por carros, eu não podia deixar passar em branco.
Mas não se
referiu ao ano de 1988, quando se deu a primeira propagação de vírus na
Internet. Um deles foi batizado de “I Love You”, talvez o mais destruidor de
todos, não só no terreno da cibernética, mas isso é outra história.
-Nascimentos.
– impostou ainda mais a voz.
-Em 69 a.C,
Cleópatra, a rainha do Egito.
-Grande Cleópatra!
As Cleópatras do cinema foram belíssimas. – assanhou-se o Jonas Vieira.
-Na vida
real, havia controvérsias. – demonstrou o Sérgio Fortes menos entusiasmo.
-Discordamos.
César, que se dizia homem de todas as mulheres e mulher de todos os homens, fez
um filho nela, Cesarion. Marco Antonio, que viajou ao Egito para impor a força
de Roma, se aliou a ela na guerra civil contra Otávio; morreram os três: o
casal mais Cesarion – Otávio não queria uma sombra ao seu poder, então ordenou
que o filho de César fosse executado.
-Em 1734, nascia Daniel Boone,
colonizador, explorador e aventureiro estadunidense.
Personagem de gibis e seriados de TV,
povoou o imaginário infanto-juvenil do Sérgio Fortes, como o das demais pessoas
da sua geração como nós, porém, a memória do Sérgio rateava:
-Jonas, Daniel Boone era aquele que
tinha um chapéu ridículo com um rabo (de castor)?
Sim; hoje, ele seria preso por crime
ambiental, mas quem respondeu foi o Peter com uma voz sumida a quilômetros do
microfone.
-Era o Daniel Boone, mesmo, Peter?...
Não era o Davy Crockett?
Na verdade, o caçador de ursos de mira
infalível, usava o mesmo modelito do Daniel Boone.
Sérgio Fortes teve mais uma
oportunidade de exibir a sua perícia na língua polonesa citando o nascimento,
em 1754, do matemático e geômetra, além de geodeta, Yanacy Zabarowski, porém, a
modéstia o levou a passar para outro nascimento no dia 2 de novembro.
Zabarowski, como anotamos, também era geodeta? O que é geodeta?... Nem adianta
perguntarmos ao Sérgio Fortes, pois a sua especialidade é o polonês.
-Em 1906, nascia Luchino Visconti,
cineasta.
-Em 1913, Burt Lancaster.
Aqui, uma pausa nossa. Apesar de cinema de bairro, o Cine Cachambi
colocava, algumas vezes em cartaz, lançamentos, e eu acredito que isso
aconteceu com o filme “Homem Até o Fim”, de 1955. Creio que foi um dos primeiros
filmes a que assisti. Ficou marcada para sempre na minha memória a agonia
porque passei ao ver o herói ser surrado de chicote pelo vilão, até que uma
carroça saiu do lugar, prendeu a ponta da chibata e o Burt Lancaster surrou
(que maravilha!) o bandido.
-Em 1917, nascia José Perácio.
E voltou-se para o seu colega:
-Jonas, quem foi Perácio?
Parecia que o Jonas Vieira escreveu
também uma biografia do jogador. A sua
paixão pelo rubro-negro aflorou.
-Foi grande jogador do Flamengo, tinha
um chute potentíssimo. Formou a famosa linha do Flamengo de 1944: Valido, Zizinho, Pirilo, Perácio e Vevé.
O tricolor Sérgio Fortes prosseguiu:
-Perácio nasceu em Nova Lima. Chegou ao
Botafogo em 1937 e foi à Copa de 38. Em 1940, partiu para o Flamengo e lá ficou
até 1949. Serviu na Força Expedicionária Brasileira.
Aqui um parêntese: alguém imagina os
jogadores brasileiros da Copa do Mundo de 2014, que cantavam o hino nacional
com arroubos patrióticos, alistando-se para ir à guerra?
Provocado pelo Sérgio Fortes, Jonas
Vieira escalou todo o time de 1944, tricampeão carioca:
-Jurandir, Newton e Quirino, Biguá,
Bria e Jaime, Valido, Zizinho, Perácio e Vevé.
O Homem-Calendário seria ainda mais
provocador se citasse a decisão de 1944, contra o Vasco da Gama, quando Valido
fez um gol, no final do jogo, até hoje contestado pelos nossos avôs vascaínos,
pois teria empurrado Argemiro. A praga lusitana teve efeito, pois o time da
Gávea ficou 8 anos sem vencer seu rival; é verdade que, a partir de 1945, se
iniciava a hegemonia vascaína, com o Expresso da Vitória, que duraria até 1952,
quando houve o que denominaram “O Crepúsculo dos Deuses”. Mas sigamos antes que
pensem que este redator torce pelo Vasco.
-Falecimentos. - soou grave a voz do
Homem-Calendário.
-Aí é geral. É uma redundância. –
comentou o Jonas Vieira.
-Em 1950, morria Bernard Shaw.
Depois de 94 anos de vida, a morte, no
seu dia, deve ter dito que, hoje, ele não escapava.
-Em 1995, o cineasta Pier Paolo
Pasolini.
De novo, voltou-se para o Jonas,
confessando que nunca assistira a um filme do Pasolini.
-Eu assisti; eram bons filmes. O
Pasolini era hermético, para se entender tinha-se de pensar muito.
E prosseguiu o Jonas:
-Há gênios assim, uns você descobre
rapidamente a sua arte, outros, você tem de refletir muito para chegar até
eles.
Com a devida vênia do Jonas Vieira,
nós, deste periódico, que assistimos a alguns filmes do Pasolini – época em que
tínhamos veleidades de intelectual, consideramos que ele se enquadra naquela
frase dos anos 60: “O diretor é um gênio, mas o filme é uma merda.”
O titular do Rádio Memória se revelou
um rato de cinema, deixando de o ser quando saíram os musicais da tela e
entraram a violência e o sexo.
Como o Sérgio Fortes anunciara, o
calendário foi curto, mas muito bom.
(*) O
Distribuidor do seu O BISCOITO MOLHADO conhece o economista Sergio Fortes e
sabe que ele é pouco chegado à Aritmética simples, preferindo as equações
laplacianas com mais incógnitas do que as consoantes da Polônia e República
Checa somadas. Daí o equívoco do economista, pois, no exemplo citado, Zelazowa Wola (até pronuncia-se como se escreve:
tcelatçovavola) há o mesmo número de vogais e consoantes, 6 e 6, pelo menos na
escrita em polonês).
(**) Bem lembrado pelo redator. O Zbigniew é aquele que, no exame de
motorista, quando o oculista pediu para ler as letras da última linha:
V-Z-Y-S-K disse: Ler as letras??!! Eu conheço esse cara!
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