Infelizmente , perderá as comemorações do centenário de Orlando Silva, mas, fazer o quê, fica pro próximo.
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O BISCOITO MOLHADO
Edição 4928 Data: 19 de agosto de 2014
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O GOSTO DE AGOSTO NO RÁDIO MEMÓRIA
PARTE II
-Agora, um tango. - soou quase solene a
voz do Sérgio Fortes.
E completou com timbre mais brando:
-Nós temos de nos render aos argentinos.
Jonas Vieira interveio prontamente:
-Eu nada tenho contra os argentinos;
gosto da sua música, da sua literatura, do seu futebol...
E se esqueceu de aludir ao cinema que,
nos últimos anos, é de uma qualidade admirável.
-Os argentinos são bem chatinhos e têm a
mania de escolher mal seus governantes.
-Essa mania nós também temos. - retrucou
o Jonas Vieira.
Depois de morder, Sérgio Fortes
assoprou:
-Os argentinos nos recebem muito bem.
Depois da concordância do Jonas Vieira,
foi anunciado o tango: “Caminito”, de Juan de Dios Filiberto e Gabino Peñaloza,
na portentosa voz do tenor Placido Domingo.
Emitida a última nota, vieram os
comentários:
-Meu pai dizia que Placido Domingo era o
melhor dos três tenores.
-Sim, Sérgio, ele era o “mais” dos três.
-Placido Domingo toca piano, rege
orquestra. Ele possui a técnica, a inteligência de escolha de repertório que o
levam a cantar até hoje com 74 anos de idade.
-E é uma pessoa extremamente simpática. -
realçou o Jonas Vieira.
Logo após, o titular do programa se
desviou do tema musical para registrar dois acontecimentos de “suma importância”
para a cidade do Rio de Janeiro: a reunião, daqui a quatro anos dos maiores
matemáticos do mundo e também dos arquitetos, derrotando, nesta disputa, Paris.
Sérgio Fortes aparteou para citar Artur
Ávila que fora agraciado, recentemente, com o “Nobel” da Matemática.
-Estudou no São Bento, no Santo
Agostinho...
-No IMPA e, depois, foi estudar na
França. - acrescentou o Jonas.
E
também se referiu o Sérgio Fortes aos grandes arquitetos que o Brasil teve.
E voltaram para a música:
-Vamos homenagear Luiz Gonzaga, falecido
no mês de agosto. Em dupla com Dominguinhos, cantam “Depois da Derradeira”.
Logo, a voz do Jonas Vieira deu passagem
para as “sanfonas” dos dois mestres.
Encerradas a audição e mais uma
investida contra o mau gosto que a mídia repercute atualmente, chegou a “Pausa
para Meditação”.
-Vamos ver o que o Fernando Milfont tem
a nos dizer.
O título da crônica para nós meditarmos
era “Vendem-se Armários”, que tratava maliciosamente dos homossexuais que,
“saindo do armário”, tornavam esse móvel sem serventia.
Ao retornar, Jonas Vieira disse que a
crônica do Fernando Milfont o fez lembrar o grande compositor e cantor Chico da
Silva. Era o momento exato para a entrada do Simon Khoury, mesmo que fosse
através de uma ligação telefônica.
-Vocês falavam do Chico da Silva?... Era
mesmo do Chico da Silva?... - insistiu, demonstrando espanto, o Simon Khoury.
Ele é um grande cantor e compositor que surgiu na década de 80. Cantou esse
samba do Noca da Portela...
A sua voz rouca não o impediu de
trautear o samba em questão.
-Qual é a sua queixa, Simon? - atalhou o
Jonas Vieira.
E o Simon Khoury alardeou a sua
reclamação.
-Esse ator Robin Williams, que falou mal
da gente – ele dissera que o Rio foi escolhido como sede das Olímpiadas porque
enviou 50 strippers e meio quilo de pó para os julgadores – morreu e dedicaram
a ele, nos principais jornais do Brasil, um obituário de uma página inteira.
E prosseguiu com a sua indignação:
-Morre Ademilde Fonseca, a Rainha do
Choro, e só dão uma pequena nota na imprensa, Morreu Carmela Alves, a Rainha do
Baião, e nada. Morrem artistas brasileiros importantíssimos e não recebem uma
linha.
-Se morre um traficante, é manchete. -
aparteou o Jonas Vieira.
-Um absurdo! - exclamou o Sérgio Fortes.
-Infelizmente, a nossa mídia está
voltada para as coisas negativas. - diagnosticou o Jonas Vieira.
-Agora, se o Caetano Veloso espirra,
vira notícia. - aludiu o Simon Khoury a uma recente entrevista de uma página,
no Globo, do compositor em que ele falou muito e nada disse.
-O cantor Roberto Paiva morreu há poucos
dias e não escreveram uma só linha.
Ao se lembrar, em seguida, da pouca
repercussão, na imprensa, do falecimento do Zé Menezes, Jonas Vieira ficou
ainda mais irado:
-E o Zé Menezes?!... Um músico que foi
um gênio! Nada.
E acrescentou:
-Eu trabalhei num jornal em que o editor
não sabia quem era Lírio Panicalli.
Um absurdo, maior ainda para os
tricolores, pois Lírio Panicalli, dizem, compôs a maior parte do hino do
Fluminense, o seu clube de coração.
-Altamiro Carrilho merecia todo um
caderno de jornal quando nos deixou; e isso não aconteceu. - bradou o Simon
Khoury.
Apesar das injustiças, do mau gosto e da
sabujice que caracterizam, atualmente, a nossa mídia, Simon Khoury voltou à sua
costumeira descontração e contou um caso, mais um do seu vastíssimo repertório:
o da sua cozinheira que pretendia fazer uma omelete sem ovos.
Depois de o Simon Khoury desligar, Jonas
Vieira recorreu ao maestro Peter que, nos bastidores, lhe dissera que o artista
mencionado era Silva, e não Chico Silva, correção mais do que necessária por
causa da relação com a crônica do Fernando Milfont.
-Então, vamos à “Visita”, de Silva.
Reparem no primor de arranjo.
Valeu a expectativa.
-Sensacional!...
E voltou o Jonas Vieira a deixar bem
claro que se trata do Silva, “somente Silva”.
-Voz agradável. Peter nos informa que “A
Visita” já é tocada na Roquette Pinto. - interveio o Sérgio Fortes.
-E agora?
-Não temos Rádio Memória sem Kiri Te
Kanawa e sem Cole Porter, mas, em vez dele, teremos Irving Berlin.
E Sérgio Fortes escolheu uma das 3000
canções mais inspiradas de Irving Berlin: Blue Skies.
Quando confessava o seu desconhecimento
da pronúncia correta de Te Kanawa, devido à origem da grande diva ser a
tribo Maori, na Nova Zelândia, foi aparteado pelo titular do programa – o tempo
urgia e rugia – que anunciou Francisco Carlos, falecido há 11 anos,
interpretando o samba-canção “A Tua Vida é Um segredo”, de Lamartine Babo.
Sem perda de tempo, veio a homenagem a
Jacob do Bandolim, tocando “Ingênuo”, do Pixinguinha.
-Jonas, você programou isso para
“enlouquecer” o Borer. - constatou o Sérgio.
Não só ele como todos nós, pois ali
estavam dois dos maiores nomes de toda a música popular brasileira.
O fecho de ouro do Rádio Memória seria
com Orlando Silva.
-Trata-se de uma valsa-canção de Dante
Santoro, excelente compositor e flautista e de Kid Pepe...
Essa pareceria suscitou dúvidas no Jonas
Vieira?
-Kid Pepe era pugilista, não podia
compor isso. Ele entrou como Pilatos no Credo...
Calou-se, então, para que reinasse a
absoluta voz do grande artista.
Quando retornou, ainda sentia o impacto
da gravação que escutara.
-Orlando Silva é um cantor sem igual no
Brasil e no mundo. E eu ouço os cantores de todos os lugares. Da sua garganta
saem notas altas e graves como um instrumento.
-É sem igual. - concordou seu parceiro.
Vieram-me logo à mente os comentários do
Ricardo Cravo Albim sobre Orlando Silva, na Rádio MEC, em que dizia que o Frank
Sinatra, para emitir determinadas notas, precisava treinar a respiração na
piscina, procedimento esse que não era necessário para o Orlando Silva.
-Ano que vem é o centenário dele e nós
já estamos cuidando disso. - garantiu o Jonas Vieira.
Ficou a cargo do Sérgio Fortes encerrar
os trabalhos.
-Vamos terminar de uma maneira não
usual?... Um demorado abraço.
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