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O BISCOITO MOLHADO
Edição 4918 Data: 03 de agosto de
2014
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134ª VISITA À MINHA CASA
2ª PARTE
-Você, Durant, tinha o faro aguçadíssimo
para os negócios que envolviam ações; tornou, assim, muitas empresas que
estavam à beira da falência lucrativas.
E acrescentei essa observação:
-Henry Ford agia diferentemente de você.
-Em termos financeiros, Ford era
extremamente cauteloso; também, era muito centralizador, tudo passava por ele.
-Você, um descentralizador convicto,
agressivo nos investimentos, e Henry Ford, o oposto.
-A Ford era uma empresa que vendia o
mesmo produto para um único mercado.
-Essa estratégia, que redundou num carro
para as massas, se mostrou bem sucedida, Durant.
-A minha estratégia como presidente da
General Motors era atender às necessidades de diferentes mercados-alvo. O
futuro grandioso da indústria automobilística, com a intensa evolução
tecnológica, estava aí e não no que o Henry Ford pensava.
-Mas o que se viu, depois, é que,
naquele contexto, Henry Ford agia corretamente. - retruquei.
-Ele trabalhava com um único produto e,
assim, podia reduzir os custos de produção. Quanto à General Motors, empresa
altamente diversificada em suas linhas de produção, era mais difícil abaixar
esses custos.
-Para ganhar mercado, você tinha de diminuir
os preços dos carros sem perder a lucratividade do negócio, mas a conta não
fechava.
-Uma saída para o nosso mercado crescer
seria nos voltarmos para a inovação tecnológica. O potencial da General Motors
era grande para sacolejar ainda mais o processo produtivo, facilitando a
implantação de novos produtos e processos.
-E isso implicava em elevados
investimentos e fragilizava a General Motors como, por exemplo, num cenário
recessivo com quedas na venda, e isso ocorreu em 1907. - objetei.
-Depender ainda mais dos financiadores
era um risco que tínhamos de correr.
-Como já se disse: A ética do lucro é o risco.
- lembrei.
-Quem vê os capitalistas como demônios,
desconhecem os riscos por que nós passávamos.
-Naquele período, Durant, a indústria
automobilística ainda não se firmara, havia incerteza quanto à viabilidade de
novas tecnologias.
-Nesse momento, William Crapo Durant
tomou a palavra, e seu tom de voz se tornou professoral:
-Um ponto considerado pela General
Motors: produzir carros para vários mercados e para níveis econômicos diversos
– Buick, Oakland, Cadillac, Olds... e, mais tarde, Chevrolet. Outro ponto:
testar tecnologias e, para tanto, adquirimos empresas visando o desenvolvimento
de um determinado produto ou componente. Terceiro ponto: o dinamismo proveniente
da integração com fabricantes de peças, acessórios e componentes.
-Certo. - balancei a cabeça.
-O mercado era instável e mutante, mas
tínhamos de estar garantidos na questão do financiamento da matéria-prima. E
uma coisa era ponto pacífico: produzindo componentes, nós garantíamos projetos
mais adequados para observar as necessidades específicas dos carros a serem
produzidos.
-A
sua política, como presidente da General Motors, de expansão agressiva cobrou o
seu preço em 1910.
-Devíamos alguns milhões de dólares. Com
o First National Bank of Boston a nossa dívida atingiu os 7
milhões de dólares.
-Os bancos cortaram os créditos da
General Motors, suponho.
-Elaborei um plano de recuperação
financeira, mas foi rejeitado pelos credores.
-Plano com compra e venda de ações,
naturalmente?
-Os credores aceitaram que parte da
dívida fosse paga com ações, mas a condição imposta por eles era o controle do
Conselho de Administração.
-E então?...
-Perdi o cargo de presidente da General
Motors, mas fiquei como membro do Conselho de Administração. Charles Nash me substituiu na presidência da
General Motors.
-Lê-se que o grupo de banqueiros que
controlou a General Motors de 1910 a 1915, a dirigiu com eficiência, fechando
unidades deficitárias e só se expandindo até onde ia o pé.
-Com isso, enquanto a indústria
automobilística crescia 600% de 1910 a 1916, a General Motors estacou nos 150%.
Na minha presidência, a fatia do mercado era de 22%, despencou para menos de
10% com eles.
-E a Ford Company?
-Passou a abocanhar 50% do mercado. -
respondeu.
-Há pouco, você citou a Chevrolet, mas
essa empresa não estava ainda englobada na General Motors.
-Isso foi depois,
E continuou.
-Louis Chevrolet era um destacado piloto
de corridas que pretendia construir seu próprio automóvel. Ele não tinha
capacidade técnica e, então, se associou a um engenheiro, executivo da Walter
Automobile Company. Os dois, no entanto, não conseguiram fabricar o
primeiro Chevrolet devido à carência de recursos financeiros.
-E Louis Chevrolet o procurou?
-Ele buscou em mim a pessoa que
financiaria o novo investimento.
-Você não estava fora do controle da
General Motors?
-Estava, pois isso se deu em 1911,
porém, minha natureza de empreendedor falou mais alto, e, no mês de novembro
desse ano, nós dois fundamos a Chevrolet Motor Company.
-Mas vocês logo dissentiram numa
questão: como seria o carro.
-Louis Chevrolet queria um automóvel de
luxo com um preço elevado, enquanto eu queria um carro com preço mais baixo
para concorrer com a Ford e a própria General Motors.
-Apesar dessa divergência, o negócio foi
em frente.
-Recuei, no início, e ele produziu o
automóvel que queria.
-E como se chama esse carro tão especial
para ele?
-Classic Six. Tinha 4 portas,
mais de 3 metros de comprimento, motor de 6 cilindros e de 5 litros. Era,
realmente, um belo carro que incorporava acessórios avançados.
-E as vendas, Durant?
-Em 1912, foram vendidos 3 mil e, no ano
seguinte, 5987 carros.
-Nada mal para um mercado de alto poder
aquisitivo. - disse-lhe.
-Sim, mas só com a produção de um carro
mais barato, eu conseguiria levantar o capital necessário para reconquistar o
controle da General Motors.
-Essa, então, era a sua intenção? -
perguntei-lhe com ironia.
-Em 1913, quando Louis Chevrolet viajou
para a sua Europa, de férias, alterei a política de produção da empresa.
-Isso não foi muito ético?
Ignorou a minha pergunta e seguiu em
frente:
-Contrariado, Louis Chevrolet deixou a Chevrolet
Motor Company. Chamei, logo depois, Bill Little, que fora gerente da Buick,
para chefiar a empresa.
E declarou briosamente:
-Em 1 ano, 1914 a 1915, a Chevrolet
vendeu 15 000 carros.
-E você, evidentemente, aproveitou esse
sucesso.
-Tenho muitos defeitos, mas minha
principal qualidade era ser um trabalhador incansável. Com as ótimas vendas,
passei a vender ações da Chevrolet e comprar as da General Motors. Minha
intenção era retomar o controle da General Motors?
-E retomou?
-Retomei.
José Candido Muricy, uma autoridade em Cadillac e suas réplicas, comentou:
ResponderExcluirEsta edição do BISCOITO está ótima, molhada que foi em óleo e graxa, “comme il faut”
E ai o Leland saindo do “embroglio” Durant/General Motors em 1909, continuou à frente da Cadillac e repassando a todas as demais divisões o sistema de qualidade na fabricação dos componentes mecânicos.
Leland, depois de obter mais um enorme sucesso em 1914 com a introdução do primeiro motor V8 enfrentou novamente o crápula do Crapo Durant que, em 1916 através de manobras na bolsa de valores, assumiu novamente o controle acionário da General Motors. O pomo da discórdia desta vez, foi a fabricação de motores para aviões dentro do plano de esforço de guerra americano do qual Leland era um entusiasta, em 1917.
Durant, um ferrenho adepto do isolacionismo americano e contrário a participação no conflito impôs a sua decisão.
Os Leland (pai e filho) insatisfeitos e contrariados,saíram da Cadillac juntamente com muitos dos seus devotados empregados e fundaram a Lincoln Motor Company em agosto de 1917 com o objetivo de fabricarem os motores de aviação Liberty V12.