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quarta-feira, 20 de agosto de 2014

2677 - Endereço Errado




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O BISCOITO MOLHADO
Edição 4927                                         Data:  18 de  agosto de 2014
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O GOSTO DE AGOSTO NO RÁDIO MEMÓRIA

Sou ouvinte do Rádio Memória, não ouvidor, ainda assim, o meu amigo Luca dirigiu a mim o seu protesto:
-O Homem-Calendário cometeu uma omissão imperdoável: não citou o falecimento do Carlos Drummond de Andrade.
Luca, porque disputa certames de tênis de mesa enquanto escuta, nos intervalos das raquetadas, o programa mencionado, não atentou para o momento em que o Homem-Calendário mencionou o passamento do nosso grande poeta em 17 de agosto de 1987.
Sérgio Fortes abriu o calendário com um fato histórico, ocorrera em Portugal, o que parecia uma anedota, pela bizarrice do nome, “Batalha da Roliça”, mas que teve uma repercussão inimaginável.  Nesse combate, as tropas anglo-portuguesas, comandadas pelo tenente-coronel Wellesley,  rechaçaram a primeira invasão francesa às terras lusitanas em 17 de agosto de 1808. Foi o batismo de fogo de Wellesley, como ele mesmo reconheceu. De quem mesmo?... Do futuro Duque de Wellington, aquele que, sete anos depois, derrotaria Napoleão Bonaparte em Waterloo.
Como o Homem-Calendário tem um imenso rol de fatos ocorridos nesse dia e mês, não pôde se deter nesses fatos que citamos.
-Em 17 de agosto de 1942, os navios Araxá e Itagiba foram bombardeados por um submarino alemão.
-Há controvérsias, Sérgio. - interveio o Jonas Vieira.
Apesar da guerra, eram os bons tempos em que o Brasil tinha cargueiros operando na navegação de longo curso.
Ele passou imediatamente para outro fato histórico:
-Em 1940, se deu o primeiro concerto da Orquestra Sinfônica Brasileira, fundada por José Siqueira, sob a regência de Eugen Szenkar.
Ao pronunciar o nome do regente, pediu ajuda ao Jonas Vieira, que é professor de inglês, não de húngaro; ainda assim, o “Eugen” foi pronunciado corretamente (Óiguin). Dizemos isso com certeza porque tivemos um amigo, na década de 70, que sempre corrigia para “Óiguin” quando era chamado de “Eugen”. Para simplificar, recebeu o apelido de Gaúcho.
-Eugen Szenkar, nascido em Budapest, foi maestro titular da OSB de 1940 a 1948. - complementou o Sérgio Fortes e seguiu adiante com o calendário.
-No dia 17 de agosto de 1998, Bill Clinton admitiu que teve uma “relação física imprópria” com a estagiária Monica Lewinsky.
-Um boquetezinho. - disse o Jonas Vieira incorporando o Simon Khoury.
-Na esquina da República do Peru com a Barata Ribeiro, nós falávamos outra coisa. - lembrou o Sérgio Fortes.
-Nas Termas de Caracala, os latinos diziam “felatio”; nos rendez-vous conceituados, beijo francês. Não podemos, porém, negar a imaginação do presidente dos Estados Unidos, ou do seu ghost writer, na criação desse eufemismo: “relação física imprópria”.
Agora, éramos informados que, no dia 17 de agosto de 1893, nascia a atriz Mae West.
-Conheceu-a, Jonas?
Era uma atriz mais atraente pela inteligência do que pela beleza; algumas das suas frases são sempre lembradas. Aqui, vão duas:
-Você está com uma pistola no bolso ou ficou feliz em me ver?
-Quando eu sou boa, sou boa, mas quando sou má, sou melhor ainda.
Agora, o Homem Calendário aludia à morte de Ira Gershwin, em 1983.
-O irmão George Gershwin viveu tão pouco. - lamentou o Jonas Vieira.
 No instante em que o Luca, disputava, suponhamos, uma renhida disputa de pingue-pongue, o Homem-Calendário nos participou da grande perda para a poesia brasileira, em 1987, assunto esse a que já nos referimos nos primeiros parágrafos deste texto.
A palavra, agora, retornava ao Jonas Vieira.  
-Gente importantíssima da música popular brasileira morreu em agosto: Carmem Miranda, Orlando Silva, Luiz Gonzaga, Jacó do Bandolim, Francisco Carlos. E vamos homenageá-los neste programa.
Recordei-me que, nesse mesmo mês do ano passado, o titular do programa Rádio Memória fizera o mesmo.
Sérgio Fortes, a quem cabia a primeira escolha musical, não tinha esse comprometimento e, por isso, anunciou um cantor que está bem vivo: Márcio Gomes. O parceiro do Jonas Vieira revelou, em seguida, o seu deslumbramento quando se deparou com um seu CD: “Márcio Gomes canta Francisco Alves”.
-Márcio Gomes está, agora, em Buenos Aires. - informou o Jonas.
Quem é Márcio Gomes? - perguntei-me.
Não esperei muito para saber; a resposta logo foi dada. Um cantor com um belo vozeirão, ou seja, com poucas possibilidades de fazer sucesso no Brasil, infelizmente.
Sérgio Fortes havia selecionado do CD do jovem cantor, “Nervos de Aço”, de Lupicínio Rodrigues. Como o grande compositor faleceu em agosto, ano 1974, dia 27, corrigimos o que escrevemos três ou quatro parágrafos acima.
-Neste ano, comemoramos o centenário desse grande compositor. - frisou o Jonas Vieira.
Sabedor que Lupicínio Rodrigues é o autor do hino do Grêmio, Sérgio Fortes não perdeu a oportunidade para uma piada.
-Não sei se o Lupicínio aprova a contratação do Felipão pelo Grêmio.
-Tem de ter “nervos de aço”. - espetou o Jonas Vieira.
O entrosamento da dupla do Rádio Memória estava perfeito; o entrosamento, aliás, inexistiu no escrete dirigido pelo Felipão na Copa do Mundo de 2014.
-Agora, Carmem Miranda.
Depois de anunciar o nome da grande estrela, Jonas Vieira investiu indignado contra o esquecimento a que ela está sendo relegada no Brasil e citou os Estados Unidos, a Argentina, entre outros países, onde ela é celebrada.
-Ela vai cantar a marchinha “Endereço Errado”.
Eu ouvia e me recordava do Tom Jobim, que dizia que o brasileiro não aceitava quem fazia sucesso no exterior, tinha implicância. E não é de hoje: Carlos Gomes, quando retornou ao Brasil, já doente, teve de ir para Belém onde morreria – só o governador do Pará, Lauro Sodré, lhe deu o merecido valor.
-Carmem Miranda canta de cinco maneiras diferentes. Cada vez que ela repete a frase musical, canta de outro jeito. - expressava o Jonas Vieira o seu encantamento.
-E a letra é genial. - acrescentou o Sérgio Fortes.
E se deteve ainda na letra:
-O carioca tem dessas coisas: “Apareça lá em casa”.
-Sim, estão sempre falando isso aqui, no Rio. - concordou o Jonas Vieira.
-E Sérgio Fortes prosseguiu:
-”Apareça lá em casa...” E se o sujeito aparece mesmo, é um constrangimento... Fica a pão e água.
É isso mesmo, Sérgio, ratificamos nós, do Biscoito Molhado. Meu pai, carioca de quatro costados, sempre dizia: “Não visito para não ser visitado”.




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