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O BISCOITO MOLHADO
Edição 4927 Data: 18 de agosto de
2014
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O GOSTO DE AGOSTO NO RÁDIO MEMÓRIA
Sou ouvinte do Rádio Memória, não
ouvidor, ainda assim, o meu amigo Luca dirigiu a mim o seu protesto:
-O Homem-Calendário cometeu uma omissão imperdoável:
não citou o falecimento do Carlos Drummond de Andrade.
Luca, porque disputa certames de tênis
de mesa enquanto escuta, nos intervalos das raquetadas, o programa mencionado,
não atentou para o momento em que o Homem-Calendário mencionou o passamento do
nosso grande poeta em 17 de agosto de 1987.
Sérgio Fortes abriu o calendário com um
fato histórico, ocorrera em Portugal, o que parecia uma anedota, pela bizarrice
do nome, “Batalha da Roliça”, mas que teve uma repercussão inimaginável. Nesse combate, as tropas anglo-portuguesas,
comandadas pelo tenente-coronel Wellesley,
rechaçaram a primeira invasão francesa às terras lusitanas em 17 de
agosto de 1808. Foi o batismo de fogo de Wellesley, como ele mesmo reconheceu.
De quem mesmo?... Do futuro Duque de Wellington, aquele que, sete anos depois,
derrotaria Napoleão Bonaparte em Waterloo.
Como o Homem-Calendário tem um imenso
rol de fatos ocorridos nesse dia e mês, não pôde se deter nesses fatos que citamos.
-Em 17 de agosto de 1942, os navios Araxá
e Itagiba foram bombardeados por um submarino alemão.
-Há controvérsias, Sérgio. - interveio o
Jonas Vieira.
Apesar da guerra, eram os bons tempos em
que o Brasil tinha cargueiros operando na navegação de longo curso.
Ele passou imediatamente para outro fato
histórico:
-Em 1940, se deu o primeiro concerto da
Orquestra Sinfônica Brasileira, fundada por José Siqueira, sob a regência de
Eugen Szenkar.
Ao pronunciar o nome do regente, pediu
ajuda ao Jonas Vieira, que é professor de inglês, não de húngaro; ainda assim,
o “Eugen” foi pronunciado corretamente (Óiguin). Dizemos isso com certeza
porque tivemos um amigo, na década de 70, que sempre corrigia para “Óiguin”
quando era chamado de “Eugen”. Para simplificar, recebeu o apelido de Gaúcho.
-Eugen Szenkar, nascido em Budapest, foi
maestro titular da OSB de 1940 a 1948. - complementou o Sérgio Fortes e seguiu
adiante com o calendário.
-No dia 17 de agosto de 1998, Bill
Clinton admitiu que teve uma “relação física imprópria” com a estagiária Monica
Lewinsky.
-Um boquetezinho. - disse o Jonas Vieira
incorporando o Simon Khoury.
-Na esquina da República do Peru com a
Barata Ribeiro, nós falávamos outra coisa. - lembrou o Sérgio Fortes.
-Nas Termas de Caracala, os latinos
diziam “felatio”; nos rendez-vous conceituados, beijo francês. Não podemos,
porém, negar a imaginação do presidente dos Estados Unidos, ou do seu ghost
writer, na criação desse eufemismo: “relação física imprópria”.
Agora, éramos informados que, no dia 17
de agosto de 1893, nascia a atriz Mae West.
-Conheceu-a, Jonas?
Era uma atriz mais atraente pela
inteligência do que pela beleza; algumas das suas frases são sempre lembradas.
Aqui, vão duas:
-Você está com uma pistola no bolso ou
ficou feliz em me ver?
-Quando eu sou boa, sou boa, mas quando
sou má, sou melhor ainda.
Agora, o Homem Calendário aludia à morte
de Ira Gershwin, em 1983.
-O irmão George Gershwin viveu tão pouco.
- lamentou o Jonas Vieira.
No
instante em que o Luca, disputava, suponhamos, uma renhida disputa de
pingue-pongue, o Homem-Calendário nos participou da grande perda para a poesia
brasileira, em 1987, assunto esse a que já nos referimos nos primeiros
parágrafos deste texto.
A palavra, agora, retornava ao Jonas
Vieira.
-Gente importantíssima da música popular
brasileira morreu em agosto: Carmem Miranda, Orlando Silva, Luiz Gonzaga, Jacó
do Bandolim, Francisco Carlos. E vamos homenageá-los neste programa.
Recordei-me que, nesse mesmo mês do ano
passado, o titular do programa Rádio Memória fizera o mesmo.
Sérgio Fortes, a quem cabia a primeira
escolha musical, não tinha esse comprometimento e, por isso, anunciou um cantor
que está bem vivo: Márcio Gomes. O parceiro do Jonas Vieira revelou, em
seguida, o seu deslumbramento quando se deparou com um seu CD: “Márcio Gomes
canta Francisco Alves”.
-Márcio Gomes está, agora, em Buenos Aires.
- informou o Jonas.
Quem é Márcio Gomes? - perguntei-me.
Não esperei muito para saber; a resposta
logo foi dada. Um cantor com um belo vozeirão, ou seja, com poucas
possibilidades de fazer sucesso no Brasil, infelizmente.
Sérgio Fortes havia selecionado do CD do
jovem cantor, “Nervos de Aço”, de Lupicínio Rodrigues. Como o grande compositor
faleceu em agosto, ano 1974, dia 27, corrigimos o que escrevemos três ou quatro
parágrafos acima.
-Neste ano, comemoramos o centenário
desse grande compositor. - frisou o Jonas Vieira.
Sabedor que Lupicínio Rodrigues é o
autor do hino do Grêmio, Sérgio Fortes não perdeu a oportunidade para uma
piada.
-Não sei se o Lupicínio aprova a
contratação do Felipão pelo Grêmio.
-Tem de ter “nervos de aço”. - espetou o
Jonas Vieira.
O entrosamento da dupla do Rádio Memória
estava perfeito; o entrosamento, aliás, inexistiu no escrete dirigido pelo
Felipão na Copa do Mundo de 2014.
-Agora, Carmem Miranda.
Depois de anunciar o nome da grande
estrela, Jonas Vieira investiu indignado contra o esquecimento a que ela está
sendo relegada no Brasil e citou os Estados Unidos, a Argentina, entre outros
países, onde ela é celebrada.
-Ela vai cantar a marchinha “Endereço
Errado”.
Eu ouvia e me recordava do Tom Jobim,
que dizia que o brasileiro não aceitava quem fazia sucesso no exterior, tinha
implicância. E não é de hoje: Carlos Gomes, quando retornou ao Brasil, já
doente, teve de ir para Belém onde morreria – só o governador do Pará, Lauro
Sodré, lhe deu o merecido valor.
-Carmem Miranda canta de cinco maneiras
diferentes. Cada vez que ela repete a frase musical, canta de outro jeito. -
expressava o Jonas Vieira o seu encantamento.
-E a letra é genial. - acrescentou o
Sérgio Fortes.
E se deteve ainda na letra:
-O carioca tem dessas coisas: “Apareça
lá em casa”.
-Sim, estão sempre falando isso aqui, no
Rio. - concordou o Jonas Vieira.
-E Sérgio Fortes prosseguiu:
-”Apareça lá em casa...” E se o sujeito
aparece mesmo, é um constrangimento... Fica a pão e água.
É isso mesmo, Sérgio, ratificamos nós,
do Biscoito Molhado. Meu pai, carioca de quatro costados, sempre dizia: “Não
visito para não ser visitado”.
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