-------------------------------------------------------
O BISCOITO MOLHADO
Edição 4925 Data: 14 de agosto de
2014
-----------------------------------------------------------
CARTAS DOS LEITORES
-Lendo “Há 50 anos” do Globo, morri de
saudades quando li que o Lloyd Paranaguá trouxe, em agosto de 1964, para o
Brasil, os primeiros equipamentos da TV Globo. Trabalhei no Lloyd Brasileiro de
1983 até a sua extinção em outubro de 1997 e gostaria de saber mais sobre essa
embarcação. BIRA
BM: Meu caro Bira, o Lloyd Paranaguá, com 3.993 TPB foi
construído em 1961; tinha, portanto, apenas 3 anos de idade quando trouxe os
equipamentos do canal de TV do Roberto Marinho, cuja concessão saiu no governo
Juscelino Kubitschek. O Lloyd Paranaguá, infelizmente, morreu novo, em 1968;
chocou-se com o navio paquistanês Mansoor, no rio Elba e afundou.
O que ele fazia num rio entre a Alemanha
e a então Tchecoslováquia? - pergunto-me. Era provável que pertencesse a
Conferência de Fretes Brasil/Europa/Brasil; não garanto, porém, pois entrei
para a Superintendência de Marinha Mercante em 1979.
No meu tempo (é um expressão incômoda além de ser um
clichê, mas não tem jeito) o grande orgulho do Lloyd Brasileiro era o navio
porta-contêineres Lloyd Pacifico com as suas 22.783 TPB. Ele não naufragou
antes ou depois de a centenária empresa fundada pelo presidente Deodoro da
Fonseca ser extinta, foi vendido, um ano antes, para o Panamá onde passou a ser
chamado de Patsy N. (*)
-Na Austrália, os ingleses tiveram ideia
semelhante... os camelos viraram praga em determinadas regiões. Carlos Alberto
Torres.
BM: Como pode haver confusão, entre os leitores, com o capitão do escrete
brasileiro de 1970, vamos chamá-lo pelo seu acrônimo CAT (ele próprio,
espertamente faz isso, pois o gato inglês tem 9 vidas em vez de 7).
O nosso amigo CAT se refere à decisão do
imperador Dom Pedro II de trazer camelos para o nordeste do Brasil, fato esse
que foi narrado nesse periódico recentemente. Como o Dieckmann fez um adendo
aos comentários do CAT e nos enviou, vamos juntar as duas mensagens para
respondê-las, matando, assim, dois camelos de uma cajadada só.
-”Os ingleses são grandes indutores de pragas. Pelo
menos na Austrália. Levaram coelhos, virou praga. Estudaram o assunto, acharam
o predador: a raposa. Introduziram a raposa, virou praga. Daí aos camelos, nada
de estranho.
Aí foram para a Argentina.” Dieckmann.
BM: Não entendi (**) porque os hermanos entraram nessa história.
Será que o Dieckmann quis dizer que, depois, os ingleses foram à Argentina, e
colocaram os seus bichos nas Malvinas?... Dieckmann, na verdade, citou quase um
zoológico, vamos nos ater apenas aos camelos.
Os camelos do Segundo Império do Brasil
vieram da Tunísia, os da Austrália, da Arábia, Índia e Afeganistão; também
foram importados no século XIX. Tanto os brasileiros quanto os britânicos
tinham o mesmo pensamento: trazer os animais de uma ou duas corcovas para
transporte de carga e trabalho árduo no interior. Lá, com o advento dos
veículos de combustão, os camelos já não eram mais necessários; aqui, no
Brasil, bem antes, já havia murchada a euforia pelos camelos.
Mesmo sem saberem ler a Bíblia, os
camelos australianos seguiram o preceito “crescei-vos e multiplica-vos” com
tamanha disposição que, hoje, a Austrália tem o maior rebanho do mundo.
Estima-se que há mais de um milhão espalhados pelo país destruindo pastagens,
habitats de espécies nativas e, sobretudo, bebendo muita água. Um dromedário – dizem os estudiosos – bebem
100 litros de água em 10 minutos. E a água é tão importante para o consumo
humano... que o diga o governador de São Paulo Geraldo Alckmin.
Para os críticos mais cáusticos da intromissão do
estado na economia, esses camelos não serviriam nem para figurantes do filme
“Lawrence da Arábia”.
-”Gostaria
de participar dos trabalhos de “tradução” de títulos de filmes; nem trago à
baila “Os brutos também amam”. Lembro:
“Frenchman's Creek” - O Roteiro das
Gaviotas
“Jamaica Inn” - A Estalagem Maldita
“Saratoga
Trunk” - Mulher Exótica
-The
Sound of Music” - A Noviça Rebelde
-”Pal Joey” - Meus Dois Carinhos
-Strangers When We Meet” - O Nono
Mandamento
-”Room At The Top” - Almas em Leilão
E muitos outros. Haja imaginação
Rosa
BM: Rosa, parece que George Stevens foi o diretor de
cinema que mais sofreu com os “tradutores brasileiros”; não bastasse “Shane”
ter se transformado em “Os Brutos Também Amam”, “Giant” virou “Assim Caminha a
Humanidade”. Seria muita pretensão colocar num filme de apenas 3h 20min a
caminhada da humanidade; no entanto, os tradutores daqui tacharam injustamente
George Stevens de pretensioso,
Lembro-me, agora, de outra tradução
horrorosa: “Blow-Up”, de Antonioni, virou “Depois Daquele Beijo”.
Um paradoxo, Rosa, o que aconteceu com
Antonioni, que dirigia filmes que provocavam “papos- cabeça” na geração do
Cinema Paissandu e que exigia reflexões demoradas dos críticos. A sua obra mais
estudada e vista em cinematecas, recebeu, no Brasil, nome de
novelão mexicano.
Como você bem escreveu: “Haja imaginação”.
-E eu nem sabia dessa experiência com os
camelos no Brasil, e menos ainda que o pai de José de Alencar tinha sido padre
e senador. Elio
BM: Meu caro Elio, aproveitando a sua alusão a José de Alencar, vou
escrever mais alguma coisa sobre a suposição de Mário de Alencar não ser seu
filho, e sim de Machado de Assis.
Eu repercuti um trecho de Carlos Heitor
Cony que, por sua vez, se baseou em relato de Humberto de Campos. Disse este
que, em visita ao seu médico Afonso Mac Dowell, ele lhe revelara que Mário de
Alencar, filho de José de Alencar, era, na verdade, filho de Machado de Assis.
Como vemos, Elio, nos consultórios médicos do início do século XX havia fofocas
como nos cabeleireiros de hoje. Como escritor conta tudo que acontece e não
acontece (principalmente o que não acontece), Humberto de Campos pôs essa
“confidência” no seu livro “Diário Secreto”.
Carlos Heitor Cony afirmou que quem
acreditou na existência do adultério foi Humberto de Campos, não ele, que
prefere ficar com a posição do escritor Josué Montello, “atualmente o maior
conhecer da vida de Machado de Assis”. Em seguida, Cony reproduz as seguintes
linhas de uma carta do seu colega de Academia: “... compartiu a sua vida digna
com uma alta dama da sociedade brasileira, a Exma. Senhora D. Georgiana
Cockrane de Alencar, com quem teve seis filhos.”
Quanto à Capitu, Elio, é outra
história.
(*) Hamburgo
fica às margens do Rio Elba. O próprio Distribuidor do seu O BISCOITO MOLHADO
já residiu por curta temporada no sofisticado bairro Blankenese, cortado pela não
menos elegante Elbchaussee, que é uma rua que acompanha o Rio Elba. Na verdade,
o Elba desemboca no Mar do Norte, em Cuxhaven e nasce entre a República Checa e
a da Alemanha. Nada estranho que um navio do Lloyd Brasileiro estivesse em Hamburgo.
(**) Dieckmann
não é de explicar piada. “Não entendeu, passe para a seguinte. Faça que nem em
prova.” O seu Distribuidor nem arriscou argumentar, o Dieckmann é assim mesmo.
Nenhum comentário:
Postar um comentário