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segunda-feira, 18 de agosto de 2014

2675 - cartas para a Redação, ou, para a Distribuição.




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O BISCOITO MOLHADO
Edição 4925                                       Data:  14 de  agosto de 2014
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CARTAS DOS LEITORES

-Lendo “Há 50 anos” do Globo, morri de saudades quando li que o Lloyd Paranaguá trouxe, em agosto de 1964, para o Brasil, os primeiros equipamentos da TV Globo. Trabalhei no Lloyd Brasileiro de 1983 até a sua extinção em outubro de 1997 e gostaria de saber mais sobre essa embarcação. BIRA
BM: Meu caro Bira, o Lloyd Paranaguá, com 3.993 TPB foi construído em 1961; tinha, portanto, apenas 3 anos de idade quando trouxe os equipamentos do canal de TV do Roberto Marinho, cuja concessão saiu no governo Juscelino Kubitschek. O Lloyd Paranaguá, infelizmente, morreu novo, em 1968; chocou-se com o navio paquistanês Mansoor, no rio Elba e afundou.
O que ele fazia num rio entre a Alemanha e a então Tchecoslováquia? - pergunto-me. Era provável que pertencesse a Conferência de Fretes Brasil/Europa/Brasil; não garanto, porém, pois entrei para a Superintendência de Marinha Mercante em 1979.
No meu tempo (é um expressão incômoda além de ser um clichê, mas não tem jeito) o grande orgulho do Lloyd Brasileiro era o navio porta-contêineres Lloyd Pacifico com as suas 22.783 TPB. Ele não naufragou antes ou depois de a centenária empresa fundada pelo presidente Deodoro da Fonseca ser extinta, foi vendido, um ano antes, para o Panamá onde passou a ser chamado de Patsy N. (*)


-Na Austrália, os ingleses tiveram ideia semelhante... os camelos viraram praga em determinadas regiões. Carlos Alberto Torres.
BM: Como pode haver confusão, entre os leitores, com o capitão do escrete brasileiro de 1970, vamos chamá-lo pelo seu acrônimo CAT (ele próprio, espertamente faz isso, pois o gato inglês tem 9 vidas em vez de 7).
O nosso amigo CAT se refere à decisão do imperador Dom Pedro II de trazer camelos para o nordeste do Brasil, fato esse que foi narrado nesse periódico recentemente. Como o Dieckmann fez um adendo aos comentários do CAT e nos enviou, vamos juntar as duas mensagens para respondê-las, matando, assim, dois camelos de uma cajadada só.
-”Os ingleses são grandes indutores de pragas. Pelo menos na Austrália. Levaram coelhos, virou praga. Estudaram o assunto, acharam o predador: a raposa. Introduziram a raposa, virou praga. Daí aos camelos, nada de estranho.

Aí foram para a Argentina.” Dieckmann.

BM: Não entendi (**) porque os hermanos entraram nessa história. Será que o Dieckmann quis dizer que, depois, os ingleses foram à Argentina, e colocaram os seus bichos nas Malvinas?... Dieckmann, na verdade, citou quase um zoológico, vamos nos ater apenas aos camelos.
Os camelos do Segundo Império do Brasil vieram da Tunísia, os da Austrália, da Arábia, Índia e Afeganistão; também foram importados no século XIX. Tanto os brasileiros quanto os britânicos tinham o mesmo pensamento: trazer os animais de uma ou duas corcovas para transporte de carga e trabalho árduo no interior. Lá, com o advento dos veículos de combustão, os camelos já não eram mais necessários; aqui, no Brasil, bem antes, já havia murchada a euforia pelos camelos.
Mesmo sem saberem ler a Bíblia, os camelos australianos seguiram o preceito “crescei-vos e multiplica-vos” com tamanha disposição que, hoje, a Austrália tem o maior rebanho do mundo. Estima-se que há mais de um milhão espalhados pelo país destruindo pastagens, habitats de espécies nativas e, sobretudo, bebendo muita água.  Um dromedário – dizem os estudiosos – bebem 100 litros de água em 10 minutos. E a água é tão importante para o consumo humano... que o diga o governador de São Paulo Geraldo Alckmin.
Para os críticos mais cáusticos da intromissão do estado na economia, esses camelos não serviriam nem para figurantes do filme “Lawrence da Arábia”.

 -”Gostaria de participar dos trabalhos de “tradução” de títulos de filmes; nem trago à baila “Os brutos também amam”. Lembro:
“Frenchman's Creek” - O Roteiro das Gaviotas
“Jamaica Inn” - A Estalagem Maldita
“Saratoga Trunk” - Mulher Exótica
-The Sound of Music” - A Noviça Rebelde
-”Pal Joey” - Meus Dois Carinhos
-Strangers When We Meet” - O Nono Mandamento
-”Room At The Top” - Almas em Leilão
E muitos outros. Haja imaginação
Rosa
 
BM: Rosa, parece que George Stevens foi o diretor de cinema que mais sofreu com os “tradutores brasileiros”; não bastasse “Shane” ter se transformado em “Os Brutos Também Amam”, “Giant” virou “Assim Caminha a Humanidade”. Seria muita pretensão colocar num filme de apenas 3h 20min a caminhada da humanidade; no entanto, os tradutores daqui tacharam injustamente George Stevens de pretensioso,
Lembro-me, agora, de outra tradução horrorosa: “Blow-Up”, de Antonioni, virou “Depois Daquele Beijo”.
Um paradoxo, Rosa, o que aconteceu com Antonioni, que dirigia filmes que provocavam “papos- cabeça” na geração do Cinema Paissandu e que exigia reflexões demoradas dos críticos. A sua obra mais estudada e vista em cinematecas, recebeu, no Brasil,  nome de  novelão  mexicano.
Como você bem escreveu: “Haja imaginação”.


-E eu nem sabia dessa experiência com os camelos no Brasil, e menos ainda que o pai de José de Alencar tinha sido padre e senador. Elio

BM: Meu caro Elio, aproveitando a sua alusão a José de Alencar, vou escrever mais alguma coisa sobre a suposição de Mário de Alencar não ser seu filho, e sim de Machado de Assis.
Eu repercuti um trecho de Carlos Heitor Cony que, por sua vez, se baseou em relato de Humberto de Campos. Disse este que, em visita ao seu médico Afonso Mac Dowell, ele lhe revelara que Mário de Alencar, filho de José de Alencar, era, na verdade, filho de Machado de Assis. Como vemos, Elio, nos consultórios médicos do início do século XX havia fofocas como nos cabeleireiros de hoje. Como escritor conta tudo que acontece e não acontece (principalmente o que não acontece), Humberto de Campos pôs essa “confidência” no seu livro “Diário Secreto”.
Carlos Heitor Cony afirmou que quem acreditou na existência do adultério foi Humberto de Campos, não ele, que prefere ficar com a posição do escritor Josué Montello, “atualmente o maior conhecer da vida de Machado de Assis”. Em seguida, Cony reproduz as seguintes linhas de uma carta do seu colega de Academia: “... compartiu a sua vida digna com uma alta dama da sociedade brasileira, a Exma. Senhora D. Georgiana Cockrane de Alencar, com quem teve seis filhos.”
Quanto à Capitu, Elio, é outra história.  

(*) Hamburgo fica às margens do Rio Elba. O próprio Distribuidor do seu O BISCOITO MOLHADO já residiu por curta temporada no sofisticado bairro Blankenese, cortado pela não menos elegante Elbchaussee, que é uma rua que acompanha o Rio Elba. Na verdade, o Elba desemboca no Mar do Norte, em Cuxhaven e nasce entre a República Checa e a da Alemanha. Nada estranho que um navio do Lloyd Brasileiro estivesse em Hamburgo.

(**) Dieckmann não é de explicar piada. “Não entendeu, passe para a seguinte. Faça que nem em prova.” O seu Distribuidor nem arriscou argumentar, o Dieckmann é assim mesmo.

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