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O BISCOITO MOLHADO
Edição 4918 Data: 03 de agosto de
2014
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134ª VISITA À MINHA CASA
3ª PARTE
-Com a troca das ações da Chevrolet pela
General Motors, você retomou para si a General Motors?
-Fui para o Conselho de Administração da
General Motors, em 1916, com quase a metade das ações. Eu estava em posição
vantajosa.
-Charles Nash era o presidente da GM com
o apoio dos banqueiros até então?
-Antes da reunião do Conselho, Charles
Nash me pediu que o voto de confiança aos banqueiros se mantivesse.
-E a sua reação, Durant?
-Disse-lhe: “Não haverá dificuldades,
Charles, não renovaremos o acordo, e não haverá dificuldades. O que acontecerá
quando eu controlar a General Motors.”
-O que aconteceu, inevitavelmente.
-Em 18 de abril de 1916.
-E Charles Nash?
-Ele saiu e fundou a “Nash Motors
Company” com o apoio dos banqueiros de Boston.
-As mudanças, com você na presidência,
logo vieram, deduzo.
-A General Motors não seria mais uma
holding e sim uma empresa operacional. Também mudamos a sede de New Jersey para
Delaware. Éramos, agora, General Motors Corporation.
E prosseguiu:
-O capital da General Motors Corporation
foi de 40 milhões de dólares para 100 milhões, e as unidades das empresas foram
fundidas numa só.
-Que decisões importantes você citaria
quanto retomou o controle da GM?
-Uma delas foi contratar Alfred Sloan
Jr, que era proprietário de uma empresa que fabricava mancais e rolamentos.
Através de mais uma engenharia financeira, essa empresa passou para a General
Motors e Sloan se tornou vice-presidente.
-Da General Motors?...
-Sim; ele ficou encarregado de
administrar as empresas que fabricavam peças e acessórios de carro, matéria que
ele conhecia como ninguém.
-E a sua política expansionista retornou
à General Motors nessa sua segunda gestão? Nem há necessidade de perguntar.
- Para essa gestão, contei com a família
Du Pont.
-Desde o meu curso de Economia que sei
bem quem foi Pierre Samuel Du Pont de Nemours; foi um destacado membro da
fisiocracia, a primeira escola econômica a surgir.
-Ele foi da França para os Estados
Unidos e tivemos uma dinastia de grandes empresários a partir do século XIX.
Mas deixe-me prosseguir.
-Esteja à vontade.
-Os Du Pont acreditavam no futuro da
indústria automobilística e, desde 1914, já adquiriam, através da Du Pont
Company, ações da General Motors, e mais ainda quando reassumi a presidência.
-Você adquiriu novas empresas, até a
Frigidaire.
-A geladeira número um de uso doméstico
foi criada em 1913, e eu comprei, então, a Guardian Frigerator Company, que
viria a se chamar Frigidaire. Eu cria que a geladeira tinha também um grande
futuro, embora, nos primeiros anos, surgissem alguns percalços pelo caminho.
-Sim, mas o seu negócio, até então, eram
os automóveis.
-Nessa minha segunda gestão, tivemos a
General Motors of Canada Ltd, a General Motors Acceptance Corporation e mais as
empresas que fabricavam eixos, engrenagens, virabrequins e outras peças.
Enquanto isso, a Primeira Guerra Mundial
se desenrolava na Europa.
-Produzimos equipamentos bélicos, os
lucros subiram exponencialmente. Preparamo-nos, então, para o crescimento
econômico que viria com o fim da guerra.
-Sempre otimista. - disse-lhe já
conhecendo essa história.
-Planejamos a construção do edifício
sede da General Motors, em Detroit. Chamou-se “Durant Building”, e foi
concluído em 1923.
-Mas 3 anos antes, em 1920,
precisamente, brotou uma nova crise.
-Eu estava convencido que a demanda
subiria acentuadamente no pós-guerra, mas isso não aconteceu.
-O mercado de automóveis sofreu um forte
baque, e as empresas como a GM, que se expandiram em demasia, sentiram mais. -
comentei.
-Com essa crise, deparei-me com dois
problemas: estoques excessivos e forte endividamento.
-Os estudiosos de Administração afirmam
que não houve eficácia no gerenciamento da GM.
-Meus críticos disseram que houve uma
descentralização total sem a coordenação, porém, tudo, até então, ia muito bem.
-E dentro da GM, qual foi a reação?
-Um dos meus homens mais proeminentes,
Walter Chrysler saiu e fundou a Chrysler Corporation. Alfred Sloan foi outro
executivo que se rebelou contra a minha gestão.
-E o preço das ações da General Motors
com essa crise pós-guerra?
-Caíram de 400 dólares para 12.
-Caramba!
-Enfiei a mão no bolso e tirei 100
milhões de dólares para sustentar os preços das ações.
-E você ainda tinha empréstimos pessoais
garantidos pelas ações da GM para exacerbar ainda mais as coisas.
-Perdi quase tudo. Os banqueiros
pressionaram pela minha saída da presidência e, pela segunda vez, venceram.
-E quando isso se deu?
-Em 1º de dezembro de 1920.
-Um baque desse liquida qualquer
empresário.- concluí.
-Mas não a mim Com os recursos que ainda
restaram e a minha confiança nos automóveis, investi em outra companhia, a
Durant Motors Incorporated.
-Mas você tinha perdido muito dinheiro
para fundar outra empresa.
-Os Du Pont não perderam a fé em mim e
financiaram o empreendimento.
-O que eu gosto disso tudo é que o
estado americano não entra no negócio para socorrer empresário algum.
Depois desse meu comentário, perguntei:
-Os Dupont não se arrependeram?
-O “Durant Tour” saiu em 90 dias, e 3
meses após há havia 30 mil automóveis solicitados, o que representava vendas de
31 milhões de dólares.
-E como você conseguiu essa reviravolta?
-O mercado demandava carros de baixo
preço, assim, eu lancei o “Star”, um carro de 4 cilindros e design
original.
-E você recuperou a sua fortuna?
-Em 1927, a Durant Motors equivalia 50
milhões de dólares.
-Ajustando o valor do dólar desse ano
para hoje, seria 1 bilhão de dólares? - tentei calcular de cabeça.
-Por volta de meio bilhão de dólares.-
corrigiu-me.
-Uma maravilha!
-Era um período de vitória, mas sofri o
golpe terrível: a perda da minha mãe.
E exclamou resignado:
-Vida que segue!
-O diabo é que se avizinhava a grande
depressão de 1929, que foi um terremoto que abalou todo o planeta nem os
banqueiros cautelosos escaparam.
-Com a quebra de Wall Street, os nossos
investidores financeiros queriam dinheiro para saldar seus débitos. Em 1933, a
Durant Motors foi à falência. Eu tinha no bolso apenas 250 dólares.
-De um golpe desse, nem mesmo William
Crapo Durant se recuperara. - afirmei.
-Não me dei por derrotado. Eu ainda
respirava.
Especulei na década de 30 no mercado de
grãos, houve problemas com o Departamento de Agricultura e o negócio gorou.
-Mas você ainda não se deu por vencido?
-Quando apareceu algum dinheiro, em
1940, investi em pistas de boliche. Depois de tanto sofrimento, a família de
classe média americana buscaria mais lazer, além do cinema. Abri 50 pistas de
boliche pela América. Não deu certo.
-A idade já lhe pesava?
-Bem eu já passava dos 80 anos de idade,
mas morri, tentando me levantar com 86 anos de idade em 1947.
-O mesmo ano da morte de Henry Ford.
-lembrei.
-Eu não tinha até agora pensado nisso. -
disse, enquanto partia.
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