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O BISCOITO MOLHADO
Edição 4916 Data: 01 de agosto de
2014
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134ª VISITA À MINHA CASA
-Durant???...
-Por que a surpresa?
-Seria mais lógico que você se
materializasse na casa do Dieckmann, do Sérgio Fortes, do CAT ou de outro
colecionador de carros clássicos. E digo mais: o momento apropriado seria de
noite, às segundas-feiras, em Santa Teresa, quando se reúne a “Turma do
Bondinho”.
-Você não investiu na bolsa de valores
durante muitos anos como eu?- perguntou-me o criador da General Motors.
Era uma pergunta retórica, porque
imagino que os mortos já sabem as respostas.
-Então, não há motivos para esse espanto.
- concluiu.
A comparação era inteiramente
despropositada, pois William Crapo Durant foi um megaespeculador do mercado de
ações.
-Você não nasceu rico como William
Randolph Hearst, que inspirou o “Cidadão Kane”, do Orson Welles, mas sua
família tinha muito dinheiro.
-Meu avô materno, de quem herdei o nome,
possuía uma serraria.
-Você trabalhou com ele?
-Trabalhei na juventude. Saí da escola
secundária com 16 anos de idade. Na faculdade, fugi das atividades esportivas
e, quando podia, dos livros, pois achava que perdia meu precioso tempo.
-E foi, então, trabalhar na serraria do
pai da sua mãe?
-Por pouco tempo, pois não era o tipo de
trabalho que me estimulava. Eu logo percebi que seria um ótimo vendedor.
-Você nasceu em 1861?
-Isso.
-Com 20 anos de idade, você operava e
administrava a Flint City Waterwords, uma companhia de águas e
esgotos, que encontrou em péssima situação financeira.
-Em menos de um ano, eu reverti a
situação e adquiri, nas redondezas, fama de grande empreendedor.
-Todos o viam como uma pessoa
trabalhadora e simpática. Um grande futuro se delineava para você.
-Recebi incontáveis ofertas de grandes
empresas, mas não me precipitei. Em 1885, conheci um jovem ambicioso como eu,
Josiah Dallas Dort, e pensamos em criar uma nova empresa. Pedi 1 500 dólares
emprestados à minha mãe e, assim, fundei, com ele, a Durant-Dort Carriage
Company.
-Vocês dois se completavam?
-Sim; Dort era um capacitado técnico em
funilaria, mas um horrível comerciante, o que não era o meu caso.
-A empresa chegou a um sucesso inimaginável.
- salientei.
- A Flint City Waterwords,
em 1890, já era a maior fabricante de carrocerias para carruagens dos Estados
Unidos; nós produzíamos 50 mil por ano.
-E ficaram milionários.
-A fortuna com o negócio das carruagens
serviu para pavimentar o meu caminho para a indústria automobilística, ainda
incipiente.
-Avizinhava-se a mudança de paradigma,
passava-se da carruagem para o carro. - assinalei.
-O carro era a carruagem sem os cavalos.
- disse ele.
-Sim, as carrocerias dos carros eram
inspiradas no formato das carruagens.
E acrescentei:
-Mas você entrou na indústria
automobilística com outro sócio?
-David Dunbar Buick.
-Quando o conheceu?
-Em 1903. Ele era um inventor, oito anos
mais velho do que eu; via o advento do carro com uma força incontrolável.
Percebi, com ele, que era a hora de saltar da carruagem e pegar o automóvel.
-Ele fundou a Buick Company em Flint?
-Fui nomeado gerente-geral da empresa em
1904.
-E nesse posto, a empresa cresceu
exponencialmente.
-Tornei-me, pouco depois, presidente e,
em 1908, a Buick já era líder na produção de carruagens sem cavalo, digo, de
carros. Com a rentabilidade obtida, formei várias empresas de peças e
acessórios.
-Você intuiu a necessidade de se
garantir o fornecimento de matéria-prima, peças e acessórios, ou seja, a
integração vertical.
-O futuro da indústria automobilística
estava nisso, teríamos vantagem na produção e ganhos na quantidade a ser
ofertada aos consumidores. Nós poderíamos expandir ilimitadamente.
-Você falou em futuro, mas no presente,
ou seja, em 1907, ocorria uma crise em Wall Street.
-Inúmeras empresas pequenas fecharam.
Nós ultrapassamos essa crise, mas tirei ensinamentos dela. Entendi que as
empresas maiores deveriam se fundir numa só, afinal, os nossos interesses eram
os mesmos.
-E quais eram as maiores, Durant?
-A
Reo, a Maxwell-Briscoe e a Ford Company.
-Sei que as negociações se deram em Nova
York, com a intermediação da firma J.P. Morgan.
-Ele era tão poderoso, que trocavam o J
de John por Júpiter. Júpiter Pierpoint Morgan. - disse com esgar no canto da
boca.
-E como foram as negociações?
-O acordo começou a fazer água quando o
Henry Ford e Ramsom E. Olds da Reo pediram 5 milhões de dólares em dinheiro.
Ora, a fusão teria de ser feita através de trocas de ações como era usual nos
negócios.
-E qual seria o nome da nova empresa? -
perguntei-lhe.
-International Motor Car Company. Mas não foi adiante!
-Eu não deixei de crer que essa fusão
seria uma forma de prover vantagens competitivas; eu já fora bem sucedido com
as minhas experiências no comando da Buick.
-Como assim?
-Já foi dito. Os primeiros produtores da
indústria montavam os carros com componentes produzidos pelos fabricantes de
peças. Eu, na presidência da Buick, já respondia por muitas dessas peças,
obtive enormes lucros e, assim, fundei a General Motors.
-Quando foi isso?
-Em 16 de setembro de 1908. Eu
incorporei 25 empresas, e mais, poucos meses depois, a Olds, a Oakland e a
Cadillac.
-Soube que, por pouco, você não adquiriu
a Ford Company.
-Fiz uma proposta de 8 milhões de
dólares, e o Henry Ford aceitou.
-Isso foi quando, Durant?
-Em outubro de 1909. A General Motors
Association liberou-me o caminho para concretizar a compra, mas os banqueiros
recuaram; era muito dinheiro para a pouca ousadia deles. Por isso, o negócio
gorou.
-Certamente se a transação se
realizasse, a história da indústria de automóveis seria muito diferente do que
a que conhecemos hoje.
-Quanto a isso, não resta a menor
dúvida.
-E como você conseguiu comprar a
Cadillac, poucos meses antes dessa tentativa baldada com a Ford Company?
-A Cadillac pertencia aos Leland, pai e
filho. Henry Ford havia feito uma proposta a eles tendo, por isso, a preferência.
O problema para nós e para Ford era que os Leland queriam dinheiro vivo na mão.
Acabei comprando a Cadillac com o dinheiro que eu levantei da Buick.
-Houve uma engenharia financeira?
-Sim; a Buick vendeu a Cadillac para a
General Motors através de ações.
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