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O BISCOITO MOLHADO
Edição 5230 Data: 12 de novembro de
2015
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SABADOIDO
-Então, vocês não foram assistir ao Vasco x
Fluminense?
-Carlinhos, o Engenhão é muito difícil de se chegar.
Estacionamento não existe.
-Ora, você e o Daniel fariam uma boa caminhada de 3
quilômetros daqui até lá e ainda veriam a vitória do tricolor.
-Esse Eurico Miranda é maluco; tirar o jogo do
Maracanã porque a torcida do Vasco não ficaria no lado que ele queria. -
esbravejou meu sobrinho.
-Essa guerra dele pelo lado do Maracanã em que a
torcida vascaína tem de ficar me lembra “As Viagens de Gulliver”.
-O que isso tem isso a ver com “As Viagens de
Gulliver”? - estranhou meu irmão.
-Quando Gulliver chega a Lilliput, descobre que essa
ilha vive em constante guerra com a ilha vizinha, Blefuscu e que a causa da
discórdia é a maneira de quebrar a casca do ovo.
-O Eurico Miranda deve ser o rei de Blefuscu ou mesmo
de Lilliput. - aproveitou o Daniel a deixa.
-O escritor Jonathan Swift quis mostrar o quanto todas
as guerras são estúpidas. - comentei.
-Eu vi esse filme no Cinema Cachambi.
-Eu também, Claudio. Fiquei abismado em ver o Gulliver
diminuto, numa hora e depois, de um tamanho descomunal em Lilliput.
-Esse filme, se não me engano Carlinhos, é anterior a
1940. O cinema já tinha esses recursos naquele tempo. Caramba!
-E a luta do MMA, Carlão, viu?
-Daniel, eu não assisto luta em que um lutador bate no
outro caído. No tempo da TV Continental, eu ainda via “Luta Livre Americana”,
por influência do meu pai e da fama da família Gracie, quando havia pancadaria;
depois, acompanhei somente as lutas de boxe.
-As lutas de boxe são mais violentas, Carlinhos.
Quantos lutadores já morreram no ringue?
-Sei disso, Claudio; creio que o maior exemplo é a
luta entre Emile Griffith versus Benny Paret, em 1962, que foi televisionada
através de todo os Estados Unidos. A imprensa criou um clima de guerra entre
Estados Unidos e Cuba; John Kennedy, embora Emile Griffith fosse um crioulo
retinto, contra Fidel Castro.
-Benny Paret era cubano?
Respondi ao meu irmão afirmativamente meneando a
cabeça e prossegui:
-O clima de hostilidade passou para os lutadores e, no
ringue, Benny Paret chamou o seu rival de maricón.
Resumindo, o Emile Griffith desferiu uma saravaida de murros no adversário que
ele foi à lona, estrebuchou e morreu.
-Como você sabe disso tudo, Carlão?
-Porque Norman Mailer escreveu sobre essa luta no
livro “Cartas Abertas ao Presidente”, que o Vagner me emprestou.
-Cumééééééééééérça. - o Luca foi imitado pelo Daniel,
que, assim, chamava o Vagner.
-Lembro-me bem, nesses ensaios do Norman Mailer que,
no momento em que o médico sobe ao ringue para socorrer o Benny Paret, ele
escreveu que deixassem o lutador morrer em paz.
-Norman Mailer era outro aficionado pelo boxe; chegou
a viajar para Kinshasa, no Quênia, quando lutaram George Foreman e Muhammad
Ali. – acrescentei.
-É tudo uma violência desgraçada. – vociferou a Gina.
-Mas nessa luta, por exemplo, o Cassius Clay apanhou
tanto que deixou o Foreman estafado. Quando ele dá o soco fatal e o Foreman
dobra os joelhos, Clay poderia desferir mais uma porrada, que atingiria a
cabeça daquele que tanto o espancara, no entanto, percebendo o nocaute eminente,
poupou o adversário. É por isso que o boxe é a nobre arte.
-Que nobre arte, Carlinhos! É uma luta de selvagens. -
bradou a Gina.
-Mudemos de assunto porque eu não sou polemista. Mas
antes, deixem-me dizer que, recentemente, ou seja, décadas depois, o Emile
Griffith revelou que era maricón.
-Vamos, então, Carlão, falar do You Tube.
-Caramba! Tudo você acha no You Tube. - aceitei a
proposta do meu sobrinho e segui em frente.
-Dia desses, no meu trabalho, na hora do almoço, navegando
pelo You Tube, deparei-me com a ópera “Tosca” de Puccini, dirigida pelo Jean
Renoir.
-Aquele que é nome de rua na pracinha de Del Castilho?
- manifestou-se a Gina com um ar zombeteiro.
-Não, o cineasta é filho do pintor impressionista, que
dá nome à rua. Há pinturas que o pai fez dele pequerrucho. São quadros famosos,
é evidente.
-E o filme é bom? - interessou-se o Claudio.
-Realizado na Itália, em 1941, foi um fracasso de
bilheteria. Por quê? Porque os italianos, no meio da guerra, queriam esquecê-la
assistindo a uma boa ópera, como é a Tosca de Puccini. O problema é que o Jean
Renoir quis fazer cinema com travellings de câmera e outros
rebuscamentos de filmagem.
-Isso é um saco mesmo. - ralhou a minha cunhada.
-A plateia queria Puccini e não Jean Renoir. -
atalhei.
-Mas ele foi um grande cineasta. - ponderou meu irmão.
-Sim; dois filmes dele são clássicos, “A Regra do
Jogo” e “As Ilusões Perdidas”. Os especialistas os colocam entre os maiores
filmes de todos os tempos. Ele puxou ao pai.
-Como puxou ao pai, Carlão? Ele era diretor de cinema
e o pai, pintor.
-Refiro-me à
genialidade artística.
-Mas filmaram, mesmo, na Itália no meio da Guerra?
-Eu não estranhei tanto, Claudio, porque soube, antes,
que uma fita sobre a vida de Rossini, a que assisti no Cinema de Arte da TV
Excelsior, foi filmada na Itália em plena guerra.
-Onde não dava para filmar nada, na Segunda Guerra,
era na Rússia. - declarou meu irmão.
-Carlão acha o que quer no You Tube.
-Tudo, Daniel, menos as palestras do Lula. Por mais
que alguém escarafunche todo o You Tube, não encontra uma só palestra do Lula.
-Não encontram porque não existe. É óbvio. - afirmou a
Gina.
-O instituto do Lula é uma fachada para recebimento de
propinas. - aditou o Claudio.
-Eu preferiria, Carlão, uma palestra da Dilma, pois
seria muito mais engraçado.
-Concordo, Daniel.
-O Lula despiu a fantasia de “Lulinha, paz e amor” e
voltou a ser raivoso, a salivar ódio. - observou o Claudio.
-Com a Polícia Federal nos calcanhares dos filhos
dele... -disse a Gina.
-Ele declarou, recentemente, que a América Latina
corre o risco de regredir por causa da iminente vitória da oposição na
Argentina.
-Ele chegou a ir à Argentina fazer campanha para o
candidato da Cristina Kirchner. - seguiram-se as palavras do Claudio às minhas.
-Para o Lula, avanço na América Latina é Maduro, que
um dia cairá de podre.
-Carlinhos, avanço para o Lula é muito dinheiro na
conta dele e da família. - bradou a Gina.
Em seguida, falamos de assuntos mais distendidos até
mais uma sessão do Sabadoido chegar ao seu fim.
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