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O BISCOITO MOLHADO
Edição 5222 Data: 02 de novembro de
2015
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SABADOIDO
-Como é o nome do camarada da Banda Calypso?
-Chimbinha. – disse-me a Gina.
-Eu cismo com Chiminho, um gato que tivemos na rua
Cachambi. E o nome da outra pessoa dessa banda?- emendei com outra pergunta.
-Joelma.
-Carlão está interessado agora em ouvir brega pop? –
ironizou o Daniel logo que a sua mãe me respondeu.
-Não; fiz essas perguntas porque vazou no Facebook uma
redação do ENEM sobre “Violência contra a mulher”.
E prossegui:
-Nessa redação, que até dava para entender a letra...
-Normalmente, não se entende a letra nem o que o
candidato quis dizer.- interrompeu-me o Claudio.
-Nessa redação sobre violência contra a mulher, dizia
eu, o camarada, no primeiro parágrafo, escreveu que a Banda Calypso alcançou um
grande sucesso graças a Joelma, e, no entanto, o Chiminha, que tudo devia a
ela, baixou-lhe o cacete.
-Eles eram casados, têm até filhos, agora, se separaram.
- comentou a Gina.
-Seguiram-se, nessa redação, uns três ou quatro
parágrafos, que dava para ler, mas não para entender, até que o candidato termina
com esta pérola: “Com os pratos na mesa na hora certa, roupa lavada e bem
passada, não haverá violências contra as mulheres.”
Gina resmungou a sua contrariedade com esse machismo,
enquanto meu irmão imitava o Carlos Imperial quando anunciava as notas dos
quesitos dos desfiles das escolas de samba: “nota deeeeeeeeeeeeeez.”
-Ele, então, foi favorável ao Chiminha meter a porrada
na Joelma?
-Sei lá, Daniel; na cabeça desses caras, as sinapses
estão desconectadas.
-Sinapses, sinopses, sinusites, tudo se desconectou. -
brincou meu sobrinho com as palavras.
-Carlinhos, você que já assistiu ao “Poderoso Chefão”
cinco vezes, o cantor Jimmy Fontana é o Frank Sinatra? – quis saber a Gina.
-Sim; o Frank Sinatra até ameaçou o Mario Puzo, que
foi quem escreveu a história. Aquela cena do Poderoso Chefão em que o produtor
de cinema, que não queria dar um papel para o Jimmy Fontana, acorda com a
cabeça decapitada do seu melhor cavalo na cama, se reporta ao Frank Sinatra e
ao filme “A Um Passo da Eternidade”. Sinatra queria atuar nessa fita, mas, como
fizera uma das suas em Hollywood, negaram-lhe o papel, ele recorreu, então, ao
Sam Giancana, chefão da máfia, que entrou em ação com aquela sutileza que
convence todas as pessoas que desejam viver.
-E o Frank Sinatra ganhou o Oscar de melhor ator
coadjuvante com “A Um Passo da Eternidade”. - lembrou meu irmão.
-Frank Sinatra foi crooner
da orquestra do Tommy Dorsey. Com o
sucesso que obtinha, quis sair e fazer carreira solo, mas estava preso por
contrato. Dizem que, depois de a máfia ameaçar o Tommy Dorsey, ele liberou o
Sinatra. – citei mais esse caso.
-Pelo menos, ele fazia por merecer, Carlão; atuou bem,
cantou bem.
-Numa dessas, ele quase se dá mal... Claudio (voltei-me
para meu irmão), lembra-se daquele ator que pertencia à turma do Frank Sinatra
juntamente com Dean Martin, Sammy Davis Júnior e era casado com uma Kennedy?
-Peter Lawford. – respondeu-me rapidamente.
-Através dele, John Kennedy, quando ainda era senador,
conheceu Frank Sinatra. Quando ele disputou com o Nixon a presidência dos
Estados Unidos, os Kennedy procuraram o Frank Sinatra com o objetivo que ele
intermediasse um acordo com Sam Giancana, o poderoso chefão.
-O Kennedy ganhou do Nixon por uma margem muito
pequena. – cortou-me o Claudio, que se calou, em seguida, para que eu
continuasse.
-Sam Giancana dominava os sindicatos de Chicago e a
intervenção dele foi fundamental para a vitória do Kennedy. No poder, seu
irmão, Robert Kennedy, nomeado procurador-geral dos Estados Unidos, abriu uma
espécie de CPI contra a máfia. Muitos mafiosos queriam o fígado do Frank
Sinatra, mas o Sam Giancana interveio, dizendo que o Sinatra entrara de otário
nessa história. Quando falam do assassinato do John Kennedy, para mim a máfia é
a principal suspeita.
-Aquele assassino não agiu sozinho. – quebrou a Gina o
seu silêncio.
-O Lee Oswald... não, ele estava a serviço de alguém.
-Depois ele é assassinado quando estava cercado de
policiais...
-Por um tal de Jack Rubin. – completou o Claudio a
frase que a Gina deixou nas reticências.
-No Poderoso Chefão 2, há uma cena de um mafioso
assassinando idêntica a essa do Jack Rubin e Lee Oswald. Poucos anos depois, o
assassino do assassino morreu de câncer. Tudo muito suspeito. – manifestei-me.
Daniel, que havia retornado ao seu quarto uns cinco
minutos atrás, para tocar teclado, gritou de lá:
-Carlão, quer que eu toque alguma coisa da Chiminha e
da Joelma?-.
-Nãoooooooooooooooooo.
-Quer sim.- incentivou-o o Claudio sadicamente.
Afastado esse perigo, prosseguimos.
-Esse candidato do ENEM poderia citar as porradas que
o candidato do Eduardo Paes a prefeito, o Pedro Paulo, deu na mulher.
-O Eduardo Paes está colocando panos quentes.
-Panos quentes nos olhos dela que ainda estão
inchados.- seguiram-se as palavras do Claudio às da Gina. (*)
-Depois dessa, não se elege mais. - observei.
-O eleitor brasileiro a tudo perdoa, principalmente
aos ladrões. - expressou seu ceticismo minha cunhada.
-Carlinhos, eu me encontrei, no Carrefour, com o Tião.
Como ele não identificou logo esse Tião, o primeiro
que me veio à cabeça foi um que jogava truco e buraco com ele, mas que havia falecido
uns cinco anos antes, porém, sempre lembrado pelo Claudio.
-Que Tião?
-Ora, o da Chaves Pinheiro.
-Há uns 200 anos que ele sumiu. - justifiquei-me.
-Ele foi viver numa cidade do Espírito Santos na
divisa com a Bahia.
-Tião estava muito feliz. A mulher dele morreu...
(enveredou pelo humor negro.
-Aquela que você chamou, num Sabadoido, de abjeta e o
Luca lhe disse que a palavra era muito forte. - voltei-me para a Gina.
-Eu não suporto pessoa que é sua amiga, mas, quando
passa em companhia da mulher, finge que nunca o viu. O Tião era assim, quando
estava com a mulher; Kung Fu, também, quando passava do lado da Nicinha. –
reclamou a Gina.
-Eu lamento, até hoje, o Luca não ter dado umas boas
porradas no Kung Fu no Lar de Júlia.- afirmei.
Claudio voltou ao encontro com o nosso amigo de
décadas que andava sumido.
-O Tião queria comprar um molho, mas não havia Cristo
que conseguisse entender o que ele queria dizer.
-Pior do que a Dilma, Claudio.
-Pior é impossível, Carlinhos. Depois de muita luta,
entendeu-se: barbecue, era molho de barbecue.
-Barbecue é
churrasco em inglês. Por que ele não falou molho de churrasco?
-Porque o brasileiro quer falar a língua do americano,
por isso se confunde. - explicou-me a Gina.
-Como diz o Ancelmo Goes: “barbecue é o cacete”. – pilheriou meu irmão.
-O Augustinho me dizia (irmão do Tião), quando era
garoto, que a grande preocupação do Seu Lins (o pai) era o Tião, porque andava até
com ladrões de cavalos.
-Tião andava com maus elementos. - ratificou meu
irmão.
-Então – prossegui – disse-me o Augustinho que o Seu
Lins o colocou para trabalhar, ainda rapazinho, na Casa José Silva. O lema dele
era: não quer estudar?... vai trabalhar, então.
-Tem de ser assim. - concordou a Gina.
-Agora, que ele é viúvo, volta a morar aqui? –
indaguei.
-Nada; já voltou para a tal cidade.
-Nós falamos em ladrões de cavalos... leram, nos
jornais, que roubaram dois, e um deles
se chamava Petrobras.
-Carlinhos, quem põe o nome de alguma coisa de
Petrobras está pedindo para ser roubado. – não perdeu a deixa a Gina
(*) Esse “acidente” ocorreu quando a
agredida descobriu o romance entre o agressor e o dos panos quentes, em 2011,
mais ou menos. Ocorre que o romance entre eles está de pé até hoje e ela deve
ter sido convencida a ficar calada, mas a queixa ficou.
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