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O BISCOITO MOLHADO
Edição 5160 Data: 31 de
julho de 2015
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CARTAS DOS LEITORES
-Passando a vista por um desses
Sabodoidos, vi que o periodista engasgou com um gole d'água por causa de uma
piada inesperada dita pelo seu sobrinho. Ora, isso não era nem para ser
registrado, haja vista que há uma diferença de muitos graus entre líquido e
sólido. Como disse o presidente Jânio Quadros, entusiasta das mesóclises (não
se trata de marca de cachaça) : “Bebo porque é líquido, se fosse sólido,
comê-lo-ia.” Eu queria saber como reagiria o redator deste periódico se o
engasgo fosse com um pedaço de carne, por exemplo. Caiana
BM: É verdade, a coisa ficaria preta se fosse com algo sólido, e o
piadista, no caso meu sobrinho, por ser o mais forte participante do Sabadoido,
teria de agir.
A propósito, lendo a narrativa do
presidente Bill Clinton sobre as gestões de paz no Oriente Médio, quando ele
juntou o líder judeu Ehud Barak e o líder dos palestinos, Yasser Arafat,
deparou-se com o que poderia ser um acidente fatal. Conta Bill Clinton que
Barak comia e trabalhava ao mesmo tempo, quando engasgou com uma castanha e
ficou 40 segundos sem respirar. Foi salvo pelo membro mais jovem da sua
delegação, Gid Gernstein, que lhe aplicou a manobra de Heimlich. O que é a
manobra de Heimlich? A mesma que a minha sobrinha aplicou no seu sogro que
havia engasgado com um pedaço de carne de churrasco em Saquarema. Consiste em
pé, atrás do engasgado, envolvê-lo com os braços e, rápida e fortemente,
pressionar-lhe o diafragma com as mãos cruzadas para que ele consiga expelir o
objeto que o sufoca. Por via das dúvidas, vou ensinar a manobra de Heimlich ao
meu sobrinho.
Quanto ao Ehud Barak, segundo o
presidente Bill Clinton, depois disso, ele continuou a trabalhar como se nada
tivesse acontecido.
-Lendo uma dessas resenhas do Rádio
Memória, detive-me no trecho em que o Homem-Calendário, Sérgio Fortes falou do
Padre Antônio Vieira, orador fabuloso e mestre do idioma português,
personalidade tão meritória que o Jonas Vieira afirmou que é parente dele.
Quando eu estava no curso primário, uma
das minhas professoras falou em “estalo de Vieira”, não me recordo de mais
nada. O que vem a ser isso. Maurunda.
BM: Reza a lenda, Maurunda, que o Padre Antônio Vieira
era burrinho e uma das razões da sua burrice era a devoção cega, quase
fanatismo, que embotava a clareza da sua mente para entender o mundo ao redor.
Então, rezando à Virgem Maria, rogou-lhe que ficasse mais inteligente, menos
obtuso, que obtivesse mais saber. Nesse momento, ouviu-se um estalo tão forte
que ele quase perdeu os sentidos como a epifania de Paulo de Tarso na estrada
de Damasco. Segundo um dos biógrafos do Padre Antônio Vieira, André de Barros,
depois do estalo, ele adquiriu “clareza de entendimento, agudeza de engenho e
sagacidade de memória.”
Os “Sermões”, de uma riqueza ímpar,
para os estudiosos, comprovam a sua genialidade.
Mal comparando, muitos petistas
receberam o estalo de Vieira, largaram o seu fanatismo e ficaram bem mais
lúcidos.
-Li o Biscoito Molhado sobre a guerra das correntes, contínua versus
alternada, Edison versus Westinghouse, para levar luz às lâmpadas. Também li o
asterisco do Dieckmann em que ele diz que o grande nome da corrente alternada,
o inventor Nikolai Tesla, só não morreu torrado na experiência a que se
submeteu para provar que poderíamos conviver com a corrente alternada, porque
não colocou cada pé em fios de alta tensão; ele fez como os pássaros: tratou de
pôr os dois num fio só. Mas não é isso que me interessa agora. Eu gostaria de
saber como se deu a iluminação elétrica no Brasil. Zorro
BM: Caro leitor, o Imperador do Brasil, Dom Pedro II,
puxou à mãe, Maria Leopoldina, que era estudiosa e possuía a mente aberta para
as criações científicas. Assim, ele se empolgou pelos daguerreótipos (primeiras
máquinas fotográficas), o telefone e, também, a lâmpada elétrica. (*)
Em 1876, na Exposição da Filadélfia,
primeira feira internacional dos Estados Unidos, Dom Pedro II se encantou com a
energia elétrica e autorizou Thomas Edison a transportar para o Brasil os aparelhos
que inventara.
Três anos depois, houve a primeira
demonstração pública da lâmpada elétrica aqui. Deu-se na Estrada de Ferro
Central do Brasil, com a presença do imperador, quando seis lâmpadas
substituíram 46 bicos de gás que, até então, iluminavam o local. Esta primeira
instalação elétrica no Brasil perdurou por sete anos.
Em 1881, a diretoria do Departamento
dos Correios e Telégrafos instalou 16 lâmpadas no Campo da Aclamação atual
Praça da República.
Em 1883, Dom Pedro II inaugurou o
primeiro serviço de iluminação pública municipal da América do Sul, que contava
com energia elétrica, em Campos. Como
Campos contava com uma usina termoelétrica, foi a primeira cidade a ter luz
elétrica nas ruas. Rio Claro, cidade de
são Paulo, que também contava com uma usina termoelétrica, foi a segunda.
O serviço da luz elétrica foi
implementado, no Rio de Janeiro, em 1904, e, em São Paulo, em 1905.
Tudo ficou muito claro para que melhor
se enxergasse a conta da luz.
-O
meu amigo recebeu em casa Jorge Luís Borges e não se referiu a “Funes, o
Memorioso.”?... Caso haja uma segunda visita, espero que o faça. Bigode.
BM: Certamente a Rosa Grieco, que leu toda a “Biblioteca
de Babel”, deve estar bem desolada com isso.
Foi de uma evidência palmar, na nossa
entrevista, que a abstinência de biblioteca do grande escritor argentino fez
com que ficasse poucas horas em minha casa e partisse; muitas das grandes obras
da sua lavra, assim, não foram mencionadas; “Funes, o Memorioso” foi uma delas.
Trata-se de um conto de menos de dez páginas, inserido no livro “Ficciones”,
editado em 1944. Ireneo Funes é um personagem que não se esquece de nada, que
guarda todos os detalhes, por isso está inteiramente preso ao passado sem o
distanciamento do presente.
Esse conto, de tão engenhoso, suscitou
inúmeros estudos. Um deles diz que, para pensar, tem-se de esquecer coisas
supérfluas, abstrair-se, o que Irineo Funes não conseguia. Ele não pensava,
Ireneo Funes só se lembrava.
Nós nos deparamos, nas nossas
pesquisas, até com abordagens semióticas do personagem de Jorge Luís Borges com
gráficos e o diabo. Não tivemos paciência de ler, e olhe, Bigode, que nós temos
saco até para ler os artigos do Luís Fernando Veríssimo sobre economia e
política.
(*) O daguerreótipo
(em francês: daguerréotype) foi o primeiro processo fotográfico
a ser anunciado e comercializado ao grande público. Foi divulgado em 1839,
tendo sido substituído por processos mais práticos e baratos apenas no início
da década de 1860. Consiste
numa imagem fixada sobre uma placa de cobre, ou outro metal de custo reduzido,
com um banho de prata
(casquinha), formando uma superfície espelhada. A imagem é ao mesmo tempo
positiva e negativa, dependendo do
ângulo em que é observada. Trata-se de imagens únicas, fixadas diretamente
sobre a placa final, sem o uso de negativo. Os daguerreótipos são extremamente
frágeis. A superfície é facilmente riscada e estão sujeitos à oxidação,
por isso precisam ser encapsulados e conservados com cuidado.
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