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O BISCOITO MOLHADO
Edição 5156 Data: 27 de
julho de 2015
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SABADOIDO
1ª PARTE
-Eu peguei a correspondência na caixa
dos correios e lá estava um envelope com a imagem da Nossa Senhora de Fátima, e
vi que a destinatária, a minha mãe, era chamada de dizimista.
-Qual é o espanto, Carlinhos? -
interveio a Gina – a Igreja Católica também cobra dízimo, não são só os
evangélicos.
-Na missa de sétimo dia do Vagner,
passaram com uma sacola enorme para recolher dinheiro da gente. - manifestou-se
o Claudio.
-As pessoas alardeiam mais os dízimos
pagos pelos evangélicos.
E lembrei um vídeo que foi divulgado
pela TV Globo em que aparece o bispo Macedo incitando os pastores a tirar o
dinheiro dos fiéis.
-O lema do bispo Macedo era: “Ou dá ou desce”.
Está lá no vídeo.
-Carlinhos, a Globo vislumbrou que ele
se tornaria um concorrente, com um canal de televisão e tratou de
desmoralizá-lo.
E prosseguiu meu irmão.
-A Globo faz tudo para quebrar os
concorrentes e ficar sozinha no mercado. Lançaram o “Extra” para acabar com “O
Dia”, mas não conseguiram.
Quando ele exemplificou com a derrocada
do Jornal do Brasil, eu discordei.
-Claudio, eu trabalhei lá; o Jornal do
Brasil se afundou quando investiu naquelas instalações suntuosas da Avenida
Brasil 500. Antes, o Nascimento Brito, genro da Condessa Pereira Carneiro,
comprou a Tribuna da Imprensa por um valor exagerado.
O espírito polemista do Claudio não
arrefeceu:
-Mas o Jornal do Brasil sempre quis um
canal de televisão e não conseguiu; o dedo da Globo deve estar aí.
-Bem, eu estranhei que os católicos
tratassem seus seguidores de dizimistas. - voltei à correspondência remetida à
minha mãe.
-Eles cobram, Carlinhos. - insistiu a
Gina.
-Uma vez o bispo Macedo foi preso.
-Quando? - estranhou a minha cunhada,
que é eleitora do Marcelo Crivela, mas não vai além disso, religiosamente
falando.
-Foi sim, mas não me lembro do ano. Ele
até escreveu um livro.
-Que livro, Claudio? - indagou a Gina
com ceticismo na voz.
-Mein Kampf . - respondeu
inesperadamente o Daniel que, até então, estava absorvido pela tela do seu
celular.
Eu, que nesse exato momento, engolia um
pouco da água no copo que me fora servido pela Gina, quase engasguei.
-Poxa, Daniel, deixa-me engolir a água
para, depois, fazer as suas piadas.
-Carlão, se eu fosse esperar por você,
eu perderia o “timing” da piada.
Transcorridos alguns minutos, anunciei
que ia urinar. Se eu não me referir às minhas idas ao banheiro, a Rosa Grieco,
que me chama de “Fontana dei Quattro Fiumi”, por causa dos meus esguichos, não
acreditaria na veracidade deste Sabadoido, Quando retornei do banheiro, a minha
cunhada falava de uma tal de Vilma.
-O marido dela tinha tanto medo de ser
eletrocutado, que tomava banho de chuveiro elétrico com os tamancos nos pés.
Agora, era a vez de o Daniel rir de
causar abalos sísmicos na barriga.
-Eu me lembro que o pai usava tamancos,
mas nunca tomou banho com eles.- entrei no espírito de descontração.
-Eu não me esqueço dos seus tamancos
por causa de uma tamancada que ele me deu nas costas e que a Tia Esmeralda,
quando era nossa vizinha, tratou.
-E eu me lembro, porque você varejou um
sobre mim e quebrou meu dente.- acrescentei.
-Esses tamancos não vão adiantar nada
numa descarga elétrica. - afirmou meu irmão.
-Cláudio, por que as aves não morrem
quando pousam nos fios de alta tensão?
Era uma pergunta retórica, pois a
própria Gina respondeu.
-Porque o circuito não se fecha nelas;
a eletricidade passa (*). O fio terra é seguro porque leva o escoamento da
descarga elétrica para a terra, fazendo que ele passe pela gente como pelas aves.
Claudio recordou, então, uma tragédia
ocorrida com dois trabalhadores da Light que mexiam na fiação da Avenida
Suburbana esquina com a Rua Chaves Pinheiro.
-Eu estava com a Rosângela quando os
dois foram eletrocutados. Ela passou mal, mas não era para menos.
-Eu estava em casa quando ouvi o
estrondo, saí para ver e vi um deles grudado no poste, pegando fogo. O cheiro
era de churrasco. As botas deles caíram. O outro ainda foi lançado ao chão,
onde morreu. - foi a vez de a Gina narrar a cena dantesca que testemunhou.
-A borracha é melhor isolante. -
manifestou-se o Daniel lembrando os pneus do seu carro nas horas dos raios dos
temporais.
-Seria mais seguro se ele tomasse banho
com sandálias de borracha. - disse a Gina.
-Hoje, há um circuito que desliga
automaticamente quando os trabalhadores vão lidar com fios de alta tensão. -
disse meu irmão.
-Esses dois morreram como condenados à
cadeira elétrica. Vocês devem saber que foi Thomas Edison que inventou a
cadeira elétrica.
-Inventou a lâmpada e outras coisas. - seguiram-se
as palavras do Daniel às minhas.
-Edison estava mais interessado no
dinheiro que ganharia com os inventos elaborados pela equipe dele. Ele era mais
empresário do que inventor. - comentei.
-É uma tese.
-Quando a lâmpada foi inventada, a
ambição dele era iluminar Nova York e, depois, o mundo, com usinas de
eletricidade. O problema é que seria usado a corrente contínua, o que
aumentaria os custos, pois seriam necessárias muitas dessas usinas para chegar
às lâmpadas. Então, Westinghouse, outro empresário, comprou a ideia de Nikola
Tesla sobre a corrente alternada, que seria bem mais econômica.
Em seguida, tentei discorrer sobre as
duas correntes elétricas, mas minhas palavras saíram titubeantes e meu irmão me
gozou.
-Claudio, eu não domino esse matéria.
Resumindo: Edison, para mostrar o perigo que representava a corrente alternada,
inventou a cadeira elétrica e eletrocutou elefantes.
-Eletrocutou elefantes?
-Daniel, há documentários que mostram
essa maldade e eu vi.
-Tudo por dinheiro. - criticou a Gina.
-Quando Nikola Tesla mostrou a energia
alternada passando por ele, como passa pelos passarinhos, o Westinghouse ganhou
a guerra das correntes, iluminou Nova York, todo o país e o mundo. - concluí.
-Carlão, quem entende muito de energia
elétrica é a Dilma Rousseff.
-Falando nela, vamos desligar a luz que
a conta está cada vez mais cara. - ralhou meu irmão.
(*) Um amigo
do Distribuidor do seu O BISCOITO MOLHADO informa que se uma ave pousar com uma
perna (membro posterior) em cada um dos fios de transmissão de energia não
isolados, ela morrerá, seja um deles fio terra, ou não. Como os pássaros, que
estão vivos, pousam em apenas um dos fios, não há diferença de potencial
elétrico entre cada perna e não passa nenhuma corrente pelo corpo. Qualquer um
de nós, se voasse, poderia se dependurar em um fio e nada aconteceria. Mas não
poderia esbarrar em mais nada. Se Nikola Tesla se dependurou assim, sobreviveu,
mas não foi encontrado nenhum registro a respeito desse teste.
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