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O BISCOITO MOLHADO
Edição 5150 Data: 20 de
julho de 2015
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SABADOIDO
-Como Sabadoido tem a ver com
sabatina...
-Por causa do sábado, Carlão? -
interrompeu-me.
-Sim, Daniel; a palavra sabatina vem
dos exames que eram prestados aos sábados.
-Você vai, então, sabatinar a gente? -
perguntou a Gina sem alterar a voz, apesar de parecer indignada.
-Longe de mim vestir a beca de
professor, que acho mais apropriada no carnaval.
-Eu também. - concordou ela.
-É que eu tenho um teste aqui. -
disse-lhes, voltando para a minha pochete, sobre a mesa da cozinha, de onde
saquei um papel dobrado.
-O que o Carlão está aprontando?
-Trouxe esse teste porque vocês gostam
de exercitar a mente.
-É pegadinha, Carlão?
-Podemos consultar os universitários? -
pilheriou a Gina.
-Trata-se de Lógica. - exagerei.
-Mande esse negócio. - aceitou o Daniel
o desafio.
Desdobrei o papel e li:
-Um homem viaja para Kasoa e, em uma
parada de ônibus, encontra um homem com 7 mulheres. Cada mulher tinha 12 filhos
e 12 filhas. Cada filha de cada mulher tem 4 filhos e 7 filhas. Cada filho de
cada mulher tinha 7 filhos e 4 filhas. Cada neta tinha 4 amigos. Quantas
pessoas chegaram a Kasoa? (*)
-Vou precisar de uma máquina de
calcular. - foi a Gina a primeira a se manifestar, enquanto o seu filho se
tornava pensativo.
-Gina – disse-lhe enquanto estendia o
braço – pegue este papel e leia a questão.
Daniel se tornou pescoçudo para também
se inteirar do que estava escrito ali, naquele papel, que permanecia nas mãos
da sua mãe.
Veio a resposta da minha cunhada e eu ratifiquei
o que dissera antes:
-Trata-se de Lógica.
Quando a resposta do Daniel foi dada,
eu, na ausência do Claudio, que se achava no quintal, imitei o personagem
Cascata, do Chico Anísio, como ele o fizera no sábado passado:
-Meu garoto!
-Carlão, a única dificuldade que
encontrei foi saber onde fica Kasoa, Onde fica?
-Na África.
-Carlão é bom em geografia.
-Quando fiz concurso para admissão ao
Visconde de Cairu tirei 4 em geografia, e eu não vi nota menor do que a minha
quando examinei a página do Diário de Notícias dos aprovados.
-Você soube do Vagner? - indagou-me o
Claudio de supetão quando chegou à cozinha.
-Ao vir do trabalho, na segunda-feira,
o Lopo me deu a má notícia.
-Ele estava internado no Salgado Filho.
- disse a Gina.
-O Vagner, quando aparecia cedo no
Sabadoido, gostava de se reportar aos velhos tempos do Cachambi, mormente à Rua
Chaves Pinheiro, com o Claudio; eu não participava com frequência desses papos
porque muitos daqueles casos eu não vivenciei.
-A mulher dele me disse que uma das suas
poucas distrações era as reuniões aqui nos sábados. - informou-me a Gina.
-Eu soltava pipa no muro da nossa casa
da Rua Cachambi, com o vento para os lados da Chaves Pinheiro, quando a minha
pipa se embolou com outra e as duas acabaram enroscadas na fiação da Light, um
cemitério de varetas com papel fino rasgado. Ouvi, então, pela primeira vez, o
nome do Vagner, pois era ele o meu adversário. Como parei de soltar pipa com 12
anos de idade, nós éramos bem garotos.
-Ele soube disso, Carlão?
-Eu lhe contei numa dessas sessões do
Sabadoido e ele sorriu.
-O
Vagner, como você, não se dedicou muito às pipas. - lembrou o Claudio.
-Larguei a pipa, mas sempre adorei
jogar bola, mesmo mal. Quanto ao Vagner, nunca vi jogando bola, praticando um
só esporte.
-Ele havia feito uma cirurgia muito
delicada no joelho. - explicou-me a Gina.
-Pois é, era sedentário. Com o diabo
dessa doença que o pegou quando adulto, locomovia-se muito pouco. O coração é
um músculo e ele o exercitou poucas vezes. - comentei.
Gina, que se erguera da poltrona de
alvenaria, abriu a geladeira e me deu um copo d' água.
-Como você adivinhou?
O seu filho respondeu:
-Carlão, isso é mais fácil do que esse
teste que você apresentou. Você bebe água de hora em hora.
-E já passava uma hora e meia. - completou
a Gina.
-Assistindo ao programa “Bem-estar”, no
Canal Viva, aprendi que nós perdemos água respirando, não só defecando,
urinando e suando.
-Sim, Carlão, por isso, o espelho fica
embaçado quando respiramos nele.
-Daniel, eu penso que você assistiu também
a ele, porque você não domina as Ciências Naturais.
-Não só domino, como lhe dou uns
pontapés e uns cascudos.
-Eu bebia um copo e meio de água, logo
que acordava, e agora sei o porquê: perdemos água também quando dormimos.
-Claro, Carlão, ninguém para de
respirar quando pega no sono.- insistiu com as piadas.
-Eu havia comprado e lido, uns três
anos atrás, o livro “Semente da Vitória”, do Nuno Cobra, em que ele escreve que
não se deve beber enquanto se come que, caso contrário, junto com a comida vem
uma chuva que prejudica a digestão.
-Eu bebo. - garantiu a Gina.
-Ele não esclareceu, para mim, a razão,
ainda assim passei a evitar líquidos no almoço e no jantar. Soube, depois, que
o suco gástrico já é a quantidade suficiente para lidar com os alimentos ingeridos,
que mais líquido atrapalha tudo.
-Soube por esse programa do Canal Viva?
-Trataram disso, mas, antes, eu
encontrei um artigo numa revista ou num jornal, que me explicou o que o Nuno
Cobra deixara no ar.
-Nuno Cobra foi o personal trainer
do Senna. - comentou o Daniel, dessa vez, com seriedade, pois se tratava do seu
grande ídolo dos tempos da infância.
Prossegui:
-Li que se deve beber água meia hora
antes das refeições; até aí, tudo bem. Quando me deparei com a recomendação
que, uma hora antes de dormir, um copo de água evita derrame cerebral...
-Você bebeu, Carlinhos. - calculou meu
irmão.
-Uma vez para nunca mais; creio que
acordei umas cinco vezes para ir ao banheiro.
-Com esse frio, a gente já mija além da
conta, e ainda vai beber água antes de dormir... Eu que não sigo essas
recomendações. - manifestou-se o Claudio.
-Fizeram algum estudo para provar que
isso é verdadeiro? Não creio, mesmo com estudos, pois muitos são furados. -
manifestou a Gina o seu ceticismo.
-O que achei interessante foi o fato de
a pessoa que bebe muita cerveja, exigir tanto dos rins que até a água, que
constitui grande parte do cérebro, se esvair pela urina, daí a ressaca, a dor
de cabeça.
-Falou mal da cerveja, falou mal de
mim. - fingiu meu irmão indignar-se.
-Vou para o computador. - anunciou o
Daniel rumando para o seu quarto.
(*) O
Distribuidor do seu O BISCOITO MOLHADO, preocupado com a apreensão dos leitores
e com a consequente disritmia cardíaca que possa advir, visto que o quiz ficou
sem resposta, esclarece:
Apenas o
homem que viaja a Kasoa chega lá, porque ele encontrou aquela multiplicidade
genética na parada, mas nada indica que tenham ido todos com ele, ou Kasoa
transbordaria. Se você, em vez de reclamar, atentar para o fato de que nem
sabia o que era Kasoa – talvez mais conhecida pelo antigo nome: Odupongkpehe
– e agora sabe que fica na África, em Gana, a meros 28 km da capital Accra e a
32 km do Kotoka International Airport, ou seja, um lugar plenamente acessível,
agradeça ao Departamento Cultural de O BISCOITO MOLHADO.
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