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O BISCOITO MOLHADO
Edição 5137 Data: 31 de
junho de 2015
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MINIDICIONÁRIO AUTOBIOGRÁFICO XLII
PROVA (01) – Algumas vezes, eu sonho que estou prestando uma prova
escolar, não são pesadelos, mas quase isso. As provas escolares me marcaram
tanto, que posso citar notas que tirei com 7 anos de idade sem recorrer à
ficção – juro com a mão sobre a Bíblia de Mogúncia (citação recorrente da Rosa
Grieco).
Comecei com um 17, num espectro que ia
até a nota 100; no mês seguinte, baixei para 15. Com esse desempenho,
transferiram-me da turma 3 para a turma 1, a mais atrasada da Escola 9-10
Manoel Bomfim. Perfiladas todas as turmas da tarde para o início das aulas ao
meio dia (saíamos às 16h 30min) éramos escarnecidos pela turma 2 que, ao lado
da nossa, cantava em tom de marcha: “Turma 1”. A nossa retrucava sem a minha
participação, porque eu estava voltado para um coleguinha, mais baixo do que
eu, que todos os dias me pedia para eu ser o primeiro da fila crescente em
ordem de altura. “Turma 1, 2, feijão com arroz”. Com essa réplica, ficavam as
duas turmas na mesma panela.
Na Turma 1 da Dona Maria Teresa, eu
comecei a me recuperar e até com medalha fui contemplado. Não me recordo das
minhas notas, só a da prova final, 85, que era a maior comparada com as dos
meus colegas. Soube pela minha mãe que só passaram para a segunda série três
alunos apenas, e que a professora chorou copiosamente. Coitada da Dona Maria
Teresa! Deram-lhe os mais cabeçudinhos e poucos deles queriam se apurar.
Na formação das turmas do segundo ano, colocaram-me
no turno da manhã, a dos alunos mais adiantados. Minha entrada na escola seria
agora às 7h30min da manhã, e minha saída ao meio-dia. Minha mãe, sabendo que
uma professora necessitava de uma vaga do turno da manhã, para encaixar o
filho, que já estudava no Colégio São Bento, aceitou a troca proposta por ela e
lá fui eu de volta para o horário vespertino. Então, a minha luz começou a
esmaecer. Por quê?... Penso, às vezes, que foi uma revolta inconsciente minha
pelo fato de não ter sido consultado nessa permuta. Ora, eu era um pirralho de
8 anos de idade para decidir o que era melhor, ou não, para a minha mãe. Seria
muita pretensão minha.
Passei da segunda para a terceira série
com a nota 64, da terceira para a quarta, com 53, da quarta para a admissão,
com 50. Por duas vezes, fiquei no fio da navalha, pois, naquela época,
reprovava-se mesmo. Nunca me esqueci de um colega de turma, chamado Édison,
chorando dramaticamente porque não passou de ano.
Recordo-me das notas, mas não das
professoras; uma colega de classe que se tornaria minha vizinha e, agora, amiga
de Facebook, Candinha, refrescou-me a memória, além de me mostrar as fotos das
nossas turmas do terceiro, quarto ano e da admissão. Dona Eunice, Dona Arlete e
Dona Dulce foram nossas professoras – disse-me.
Além de eu perder a motivação do tempo
da Turma 1, sofri, nos anos seguintes, com as ausências das professoras.
Ficávamos nas salas de aula e nada de elas aparecerem. Depois de muitos minutos
transcorridos e de muita bagunça dos alunos ociosos, vinha Dona Palmira ou Dona
Léa, as professoras da secretaria, confirmar a falta da professora e que nós
ficávamos com a opção de voltar para casa ou assistir à aula de outra turma da
mesma série. Eu sempre ficava com a segunda opção, mas, com o descompasso das
matérias ministradas entre a professora assídua e a ausente a didática ficava
capenga.
Quando a ausência das professoras se
tornava sumiço, a transferência de uma turma para outra se consolidava; e,
assim, tornei-me colega de sala da minha irmã (como as fotos da Candinha
provam), pois, inicialmente, éramos de turmas diferentes.
Na minha quinta série, a chamada
admissão, o ensino melhorou muito, dentro daquele contexto, não houve solução
de continuidade quanto à professora, tanto que guardei seu nome e sobrenome:
Dulce Consuelo Silveira Lopes. Ela era filha da proprietária do Colégio
Piratininga, na Rua Hermínia, no Cachambi. Com o magistério no DNA, foi uma
ótima professora, mas não podia fazer milagres. Minhas notas melhoraram, embora
eu não repetisse a minha performance da Turma 1.
Quando prestei exame de admissão para o
Colégio Militar, em 1960, sofri o choque da realidade: o meu curso primário
tinha sido bem deficiente. Deparei-me com questões que me pediam o sujeito das
frases? Sujeito?... Eu nunca ouvira falar nisso. E o aumentativo de
incêndio?... Nos cinco anos que passei na Escola 9-10 Manoel Bomfim, como aluno
pontual, ninguém falou em grau de aumentativo de substantivo analítico, assim,
respondi que o aumentativo de incêndio era “incendiadez”. Que coisa horrorosa!
Sempre que leio os trocadilhos das crônicas com temas políticas do Aldir Blanc,
eu me lembro do “incendiadez”.
Quando saiu o resultado do concurso de
1960 do Colégio Militar, disseram apenas que eu não passei. Não revelaram a
minha nota. Graças a Deus.
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