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O BISCOITO MOLHADO
Edição 5125 Data: 11 de
junho de 2015
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CARTAS DOS LEITORES SOBRE O JOGO DE XADREZ
-O redator do Biscoito Molhado
deblatera contra a partida de xadrez em que enfrentou o irmão, porque durou
mais de três horas. Ora, as partidas de xadrez contra a morte duram bem mais.
Graças a Deus. Ruy López
BM: O caro leitor está, provavelmente, aludindo à partida
de xadrez entre o Cavaleiro e a Morte, ocorrida na Idade Média, que Ingmar
Bergman nos mostra no seu filme “Sétimo Selo”. No momento em que o Cavaleiro recebesse
o xeque-mate, a sua vida se extinguiria.
Sim, há muitos “cavaleiros”, como Paulo
Maluf, Luís Inácio, Marin, Ricardo Teixeira e outros recebendo cheques, mas não
aquele, o xeque-mate, que tornaria o mundo mais honesto. Ah, sim: lembrei o
João Havelange; há 99 anos que ele joga a sua partida de xadrez contra a morte.
Eta jogo demorado!
-No seu Minidicionário Autobiográfico,
o redator escreveu que reproduzia no tabuleiro, com suas peças, os confrontos
de xadrez entre os grandes mestres internacionais. Ele fez o mesmo com os
grandes vultos do pensamento que, embora arregimentassem os seus neurônios para
outras atividades intelectuais, jogaram xadrez? Steinitz
BM: Benjamin Franklin, que colaborou na redação da
Declaração da Independência dos Estados Unidos da América, inventor do
para-raios, foi também enxadrista, no entanto, não conhecemos partida alguma
sua.
Napoleão Bonaparte, entre uma batalha e
outra, também exercitava os seus neurônios – Goethe dizia que o xadrez é a
ginástica da inteligência – movendo peões, torres, cavalos, bispos, rainhas e
reis, mas não obtivemos nenhum desses combates para reproduzir. Gostaríamos, se
nos fosse dada a opção, de ter em mãos a sua partida contra o “Turco”. Esse
embate se deu, em 1809, no palácio Schäunbrunn, quando o imperador francês
invadiu a Áustria pela segunda vez. No décimo nono lance, Napoleão Bonaparte
tombou o rei, reconhecendo a derrota.
Anos antes, quando era embaixador dos
Estados Unidos da América na França, Benjamin Franklin se confrontou com o
“Turco”, que excursionava em Paris, e não teve melhor sorte no tabuleiro.
Quem era esse vencedor das grandes
personalidades históricas nos confrontos neurônicos? Segundo a literatura a
respeito, era uma máquina de jogar xadrez supostamente provida de inteligência
artificial, que foi elaborada em 1770 por Wolfgang von Temperer para deixar
deslumbrada a imperatriz Maria Teresa de Habsburgo da Áustria tanto quanto Mozart, com sete anos de idade, o fizera em
1763.
Na realidade, o “Turco” era uma ilusão
mecânica que permitia a um enxadrista oculto operar a máquina.
O campeão mundial Garry Gasparov jogou
duas séries de seis partidas contra os supercomputadores Deep Blue da IBM; na
primeira, em 1996, na Filadélfia, o grande mestre do Azerbaijão venceu, mas na
segunda, realizada em Nova York, no ano seguinte, contra um Deep Blue
repaginado, foi vencido. Como houve um lance do computador, nessa série,
estranhamente malicioso, que só poderia ser concebido pela mente humana, Gary
Gasparov ficou emocionalmente desestabilizado, perdeu essa segunda série e o
Deep Blue, por isso, foi comparado por alguns ao “Turco” com seu enxadrista
oculto.
Respondendo com mais objetividade à
carta do nosso leitor, nós reproduzimos jogos do filósofo Jean-Jacques Rousseau,
mas preferíamos, mesmo, as partidas de Benjamin Franklin e de Napoleão contra o
“Turco”.
-Concordo com o que foi dito no
Minidicionário Autobiográfico: Há vinte anos que não se dá o mesmo destaque aos
campeonatos que mais exigem da nossa massa cinzenta. O último comentarista que
li, nos nossos periódicos, foi a Iluska Simonsen, que tinha uma coluna de
xadrez no Jornal do Brasil. Alekhine
BM: Iluska Simonsen, esposa do Professor Mário Henrique
Simonsen, era enxadrista e influenciou o marido a praticar o esporte. Ele, como
possuía um extraordinário raciocínio matemático, chegou a ser ótimo jogador,
mas não foi excelente porque o jogo de xadrez é muito ciumento, exige dedicação
total e Simonsen, que deixava um pouco de lado a Economia, convergiu seu
talento matemático para a música erudita. A música, dizia o filósofo alemão
Leibnitz , é uma equação sofrida e Mário Henrique Simonsen preferiu essa
equação, escrevendo críticas musicais na revista VEJA e sendo presidente do
corpo de jurados em concursos de canto lírico. Ainda assim, reagia com
mau-humor , segundo seus amigos, quando lhe diziam que a sua mulher era melhor
jogadora do que ele.
Iluska Simonsen, sempre mais fixada nas
peças de xadrez, construiu um apreciável currículo de enxadrista, sendo uma das
suas maiores façanhas, se não a maior, um empate com Boris Spassky, numa
simultânea do ex-campeão mundial, em Brasília, no ano 1978.
-É isso mesmo: parece que o campeonato
mundial de xadrez se encerrou com Kasparov, pelo menos nos jornais do Rio de
Janeiro, não sei se em São Paulo é assim também. Ele perdeu para o
supercomputador da IBM, e nunca mais se falou nesse esporte... caso seja
esporte mesmo, pois, como falava o comentarista de futebol João Saldanha: “Se
xadrez fosse esporte, festa de São Jorge sairia na página de turfe”. Capablanca
BM: Caro Capablanca, tivemos de recorrer ao Google pra
responder as suas perguntas que eram, também, nossas. O indiano Viswanathan
Anand foi, durante seis anos, o campeão mundial até que o norueguês de vinte e
dois anos, Magnus Carlsen abocanhou o seu título, tornando-se o primeiro
ocidental campeão do mundo desde 1972, quando Bobby Fisher pôs por terra os
reis do Boris Spassky.
Magnus Carlsen foi considerado pelo
Washington Post o “Mozart do Xadrez”. Detentor de uma memória assombrosa, com
cinco anos de idade já enumerava todos os países do mundo com as suas
respectivas capitais e populações. Com dez anos, já ganhava torneios e, com
treze anos, ficou frente a frente com Gasparov, um tabuleiro de xadrez entre os
dois. Com a impaciência dos garotos, irritou-se com o ex-campeão do mundo
porque ele pensava muito antes de mover uma peça. A partida terminou empatada.
No ano passado, Magnus Carlsen
“enfrentou”, diante das câmeras de televisão, Bill Gates. A intenção era
divulgar o jogo de xadrez pelo mundo, porém, no Brasil, não deu resultado.
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