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O BISCOITO MOLHADO
Edição 5123 Data: 09 de
junho de 2015
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SABADOIDO DOS
MILITARES À FIFA
-Claudio, o Barão de Itararé dizia “De
onde menos se espera, daí é que não sai nada”, mas apareceu uma exceção que
confirma a regra.
-Foi?... - não demonstrou muito
interesse.
-Com a morte do General Leônidas Pires
Gonçalves, eu esperava ler obituários de meia página, nos jornais e só vi
poucas frases. A própria “Veja” publicou um com quase o mesmo número de
palavras do obituário de uma tal de Katherine Chappel, que foi a editora de
efeitos especiais da série “Game of Thrones.”
-Carlinhos, as pessoas estão esquecendo
que a “Veja” fez oposição dura à ditadura militar.
-A revista se opôs ao governo
ditatorial, ao governo Collor, contribuindo com a sua derrubada e ao
lulopetismo, enfim, a tudo que não prestava e contribuía para o atraso do
Brasil. Mas o General Leônidas Pires Gonçalves foi escolhido pelo Tancredo
Neves para ser Ministro do Exército, a missão dele era de uma importância
fundamental: ajustar os militares à democracia.
-Nesse ministro do Tancredo Neves, o
José Sarney não mexeu, quando fez a reforma ministerial.
-O José Sarney é tudo, menos burro; ele
sabia que o Tancredo Neves era o mestre das costuras políticas mais delicadas,
então, qualquer interferência sua seria uma lambança.
-Mas por que você citou, então, o Barão
de Itararé: “De onde menos se espera, daí é que não sai nada”?
-Porque foi o “Canal Câmara” que
colocou no ar uma entrevista de quase 40 minutos do General Leônidas Pires
Gonçalves tão logo foi anunciado o seu falecimento.
-O que você achou?
-Eu achei que o Tancredo Neves sabia o
que estava fazendo quando o nomeou Ministro do Exército, pois ele era muito
preparado, um castelista.
-Castelista?- estranhou.
-Um seguidor do Castelo Branco, como
diziam os militares, como o Coronel, um investidor, principalmente das ações do
Banco do Brasil, que eu conheci na Corretora Caravello na Rua Uruguaiana. O
Coronel me dizia que o Castelo Branco, mais de uma vez, lhe pediu, como um
sorriso maroto, que contasse a sua briga com o Jarbas Passarinho, com quem
dividia um alojamento no quartel. Brigaram por causa de um discurso polêmico do
Jânio Quadros sobre a Petrobras.
-Se reprisarem, eu vejo essa entrevista.
- garantiu meu irmão.
-O General Leônidas disse que, quando
conheceu o Castelo Branco, na década de 30, os militares sussurravam o seu nome
cheios de admiração, porque ele tinha uma auréola e era apenas major. Na Força
Expedicionária Brasileira, Castelo Branco, apesar de ser tenente-coronel, foi o
cérebro, aquele que planejou e implementou manobras militares na guerra na
Itália.
-Mas a ditadura começou com ele. -
manifestou-se meu irmão.
-Ele garantiu, peremptoriamente, que o
Marechal Castelo era legalista, que só participou do golpe porque os militares
não admitem quebra de hierarquia, marinheiros carregando almirantes, no caso o
Aragão, nos ombros, e quejandos. Eu vi o Almino Affonso, que foi ministro do
João Goulart, no programa “Roda Viva”, dizer que o militar considera a quebra
de hierarquia pior do que o comunismo.
-O Castelo Branco foi eleito pelo
Congresso. - lembrou.
-Ele só admitia o poder assim, segundo
o entrevistado. O Costa e Silva, dizendo que era o mais antigo, esquecendo o
Cordeiro de Farias, queria o poder, mas a Turma da Sorbonne, aqueles que
cursaram a Escola Superior de Guerra – Castelo Branco, Geisel, Golbery, Ademar
Queirós- manobraram nos bastidores e o Castelo Branco chegou ao poder.
-Os entrevistadores do Canal Câmara só
ouviram, não contestaram o general em momento algum? - quis saber.
-Houve um momento em que eles falaram na
repressão do governo militar e o General Leônidas disse que tudo corria bem, as
medidas usadas, até então - retirada dos direitos políticos e cassação - eram
milenares, civilizatórias, elas representavam o ostracismo da Antiga Grécia e o
banimento de Roma. Ele acusou, em seguida, os subversivos de causarem a dura
repressão, como o atentado do Aeroporto de Guararapes, que matou dezenas de
pessoas. Os entrevistadores revidaram com o atentado do Riocentro e, pela primeira
vez, na entrevista, o General se encrespou e discutiu com eles.
-Até o General Newton Cruz vira uma
fera quando alguém insinua que ele deu ordens para a missão daqueles dois
malucos que trabalhavam para a linha dura. - interveio o Claudio.
-O General garante, com convicção, que
o presidente Castelo Branco pretendia entregar o governo a um civil. E lembrou
a frase dele quando saiu do governo: “Encontrei impasses e deixei opções”.
-Boa frase.
-Claudio, para mim, nos últimos 65
anos, o Brasil teve três estadistas: Getúlio Vargas, do segundo governo,
Castelo Branco e Fernando Henrique Cardoso.
-Há controvérsias. - disse.
-Os entrevistadores do Canal Câmara
cometeram uma falha imperdoável: não perguntaram ao Leônidas Pires Gonçalves
sobre a morte do Castelo Branco. Essa, sim, foi uma morte suspeita, haja vista
que a linha dura da ditadura o via com péssimos olhos. O General garantiu que
Castelo errou ao cumprir o mandato do João Goulart e sair, ele deveria ficar
seis anos, consolidar a revolução e passar o governo para um civil.
-Ele se enganou, deveria ter dito os 5
anos do mandato de presidente, pois o do João Goulart acabou em 1965. -
acrescentei.
-Carlão, e o escândalo da FIFA? - era
meu sobrinho irrompendo pela cozinha a dentro.
-Daniel, o João Havelange levou a
técnica da corrupção brasileira, que é a mais avançada do mundo, para a FIFA.
-João Havelange não é nada disso. -
gritou a Gina, ainda fora do nosso campo visual.
Já na cozinha, completou com o seu
coração tricolor:
-João Havelange foi um grande nadador
do Fluminense.
-Arrancaram até o nome dele do estádio
Engenhão quando ficaram comprovadas as propinas na sua gestão de presidente da
FIFA. - repliquei.
-O Botafogo quer colocar o nome do
Nílton Santos no estádio, mas ainda é João Havelange.
-Continua, oficialmente, João Havelange.
- seguiram-se as palavras do Cláudio às do Daniel.
-Eu sei, o prefeito disse que, no
papel, o nome é João Havelange, mas que não havia problema de o Botafogo usar o
nome Nílton Santos. - comentei.
-O nome do Marin já foi retirado do
prédio da CBF. - disse o Daniel.
-O Ronaldo Caiado, em discurso no
Senado, disse que o Blatter renunciou por causa de 500 milhões de dólares, que
é uma mixaria comparados com os 88 bilhões da Petrobras, para não citar o BNDES,
que vai ser ainda apurado.
-E pediu a renúncia da Dilma. -
concluiu o Claudio cortando-me a fala.
-Acontece que a Dilma não está sendo
investigada pelo FBI. - manifestou-se a Gina.
-Falando nisso, o Ricardo Teixeira já
voou rapidinho de Miami para o Rio de Janeiro; está lá na cidade do Pezão. -
informou o Claudio indicando o jornal que estava sobre a mesa.
-Eu recebi um vídeo, por e-mail do
Dieckmann, em que um artista americano faz piada com a FIFA antes de o
escândalo estourar. Para ilustrar a comicidade, filmes são mostrados, como o
Blatter dizendo que a FIFA é uma entidade não lucrativa, que a reserva é de um
bilhão de dólares. Na verdade, como diria o José Simão, tudo piada pronta. É um
vídeo de 13 minutos.
-Carlão, eu só vejo vídeos até 4
minutos de duração.
-Antes de vocês chegarem, eu e Claudio
falávamos do presidente Castelo Branco. Certa vez, ao saber que o irmão ganhara
um Aero Willis de presente em agradecimento da classe da Receita Federal, por
ter participado da elaboração de uma lei que organizava a carreira, obrigou-o a
devolver o carro e ainda o ameaçou com a prisão.
-Carlão, vamos lá dentro assistir a
esse tal vídeo do Dieckmann. - propôs meu sobrinho.
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