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O BISCOITO MOLHADO
Edição 5113 Data: 24 de
maio de 2015
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SABADOIDO DA FESTIVAIA AO SENADO FEDERAL
Eu e Claudio fazíamos algumas
observações sobre os festivais da canção dos últimos anos da década de 60.
-Muitos valores surgiram desses
festivais.
-Sim, Claudio, mas, apesar disso,
naqueles festivais, houve momentos de estupidez de uma infinitude de que
Einstein falou. Uma dessas incontáveis burrices: vaiaram o Henry Mancini.
-Porque o Henry Mancini era americano e
os Estados Unidos estavam em guerra com o Vietnã. - contemporizou.
-O que o “Passo do Elefantinho” e a
“Pantera Cor de Rosa” têm a ver com a guerra?
Em seguida, protestei com mais
seriedade.
-Astor Piazzolla foi vaiado quando se
apresentou, como atração, no Maracanãzinho. Um compositor que é reverenciado
até pelos músicos da Orquestra Sinfônica de Berlim, principalmente pelo naipe
de violoncelistas, deve ser aplaudido de pé.
-Vaiaram “Sabiá”. - lembrou meu irmão.
-O maestro Isaac Karabitchevsky, que
participou do corpo de jurados, declarou, num desses documentários, que “Sabiá”
possui uma inventiva melódica, uma riqueza harmônica e outras qualidades que a
colocavam muito acima das outras canções que concorriam com ela nacional e
internacionalmente.
-Musicalmente falando, não há nem
comparação.
Enquanto o Claudio se distraía com uma
tangerina que apanhou na geladeira, passei para outro assunto.
-Eu ficaria menos surpreso lendo nos
jornais a notícia que o Barcelona perdeu de 8 a 0 do Rayo Vallejano do que a
que li na coluna do Ancelmo Gois: o filme “Chatô, o Rei do Brasil” irá para as
telas de cinema.
-Só você se surpreendeu?!... Creio que
o Brasil todo.
-O Spike Lee, no meio da filmagem do
“Malcolm X”, ficou sem recursos; ele, então, procurou Magic Johnson, Mike Jordan,
Kareem Abdul-Jabbar e outros negros milionários que enfiaram a mão no bolso e
lhe deram o dinheiro necessário.
-Aqui, no Brasil, isso é impossível
acontecer.
-Será que o José Dirceu, que é muito
amigo do Fernando Morais, não pingou uns 5% do que ele ganha com assessoria,
entre aspas, na conta dos realizadores do “Chatô, o Rei do Brasil?” -
elucubrei.
-Carlinhos, no bolso do José Dirceu, o
dinheiro só entra, não sai.
-Na época do lançamento do livro do
Fernando Morais, alguns volumes ficavam expostos nas gôndolas de livro do Wal
Mart. Enquanto a mamãe fazia as compras, eu lia.
-E, assim, leu todo o livro sem comprar.
- pilheriou.
-Claudio, na época, o Fernando Henrique
Cardoso se lançou candidato à presidência da República e o Rubens Ricupero
assumiu o ministério da Fazenda. Como ministro, ele aconselhava a população a
poupar porque, agora, declarava, a nossa moeda tinha valor.
E concluí:
-Alguém me emprestou o livro “Chatô,
Rei do Brasil”, creio que o Luca, e eu terminei a leitura confortavelmente em
casa.
-Ele, finalmente, me ligou felicitando
pelo dia do meu aniversário. - era a Gina que aparecia na cozinha juntamente
com o Daniel.
-Ligou com um mês e um dia de atraso. -
assinalou o seu filho.
-No dia 23 de abril, há duas
referências mnemônicas poderosíssimas: o aniversário do Pixinguinha e o Dia do Choro.
- manifestei-me.
-Ele me contou que, nesse dia, não me
telefonou porque esqueceu o celular na Hebraica, e, quando apareceu a filha com
o dela, já passava das 11 horas da noite.
-E o telefone fixo? - indagou o
Claudio.
-Ele ficou três dias sem o telefone
fixo. - respondeu a Gina.
-Quando roubaram os cabos, em Del
Castilho, nós ficamos mais de uma semana sem telefone, e, isso, por duas vezes.
- intervim.
-O Luca me contou que tem jogado tênis
de mesa pela equipe sênior do Fluminense, vestido com a camisa do clube e tudo.
- retomou a Gina a palavra.
-Quando enfrentar os velhotes do
Flamengo, o Luca tem de estar “endiabraaaaaaaaaado”. - procurou o Daniel
imitá-lo quando ele contava as suas façanhas na época em que as sessões do
Sabadoido se realizavam na vaga do antigo fusquinha da Gina.
-Vocês dois estão vestidos para
sair?... - expressei a minha curiosidade.
-Vamos pegar o resultado de um exame de
imagem no Nova América. - esclareceu a Gina.
-Fique tranquilo, Carlão, que não são
as imagens da terça-feira de carnaval.
-Aquelas que você postou, na mesma
hora, no Facebook com o comentário que o Shopping virou cinzas antes da
quarta-feira? - ironizei.
Os dois saíram e eu e o Claudio
voltamos a ser os únicos na cozinha.
-Eu assistia à sessão do Senado que
debatia o ajuste econômico do governo...
-Assistia às Medidas Provisórias 664 e
665?... Eu vejo a TV Senado, às vezes. - cortou-me.
-Em dado momento, reclamaram que havia
ainda onze oradores inscritos, que, assim, a votação atravessaria pela madrugada.
Surgiu, então, na mesa do Renan Calheiros, um requerimento de dois líderes para
passar logo à votação no painel.
-E passaram?... Pelo que sei, foi
adiada.
-Chiaram, e com toda razão. O regimento
interno concede o tempo de dez minutos a cada orador, mas a Gleisi Hoffmann,
antes desse imbróglio todo, falou por uns vinte e cinco minutos.
-A Narizinho? - chamou-a pelo apelido
dado por seus pares.
-A oratória dela é articulada, mas sem
consistência racional; comparou o governo de um estado com o do Brasil,
enquanto defendia os trabalhadores ao mesmo tempo em que justificava as medidas
que vão incidir no lombo deles.
-Deixaram que ela discursasse por vinte
e cinco minutos e queriam barrar os restantes?- revoltou-se.
-Entre esses onze, Claudio, estava o Cristóvão
Buarque que, em menos de dez minutos, logo depois da oratória da Narizinho,
mostrou que havia vida inteligente no Senado.
-Ela nada tem de loura burra, está
levando vantagem com essa situação toda; como aqueles dois milhões de reais mal
explicados na conta dela.
Depois desse comentário, fez-me uma
pergunta:
-Você assistiu a todos os discursos?
-Não; gravei e, no dia seguinte, vi os
oradores que me interessavam, entre eles aquele do PSOL que tem cara de garoto
e fala fina.
-O Randolfe Rodrigues?... Você gosta do
que ele fala?
-Claro que não; mas eu tinha de ouvi-lo
porque ele falou grosso, e eu não podia perder.
-Ele votou contra o governo?
-Votou, Claudio; por isso, ele
engrossou a voz.
-Do jeito que está esse governo,
Carlinhos, não é vantagem alguma falar grosso contra ele.
Com essas palavras, levantou-se e foi observar
as obras da Prefeitura que tomam a frente da sua casa.
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