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O BISCOITO MOLHADO
Edição 5099 Data: 5 de
maio de 2015
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SABADOIDO DE BILL CLINTON AOS MISERÁVEIS
-Cláudio, você se lembra do “Poema em
Linha Reta” do Fernando Pessoa?
-Em que ele diz que não conhece ninguém
que tenha levado porrada, que todos os conhecidos dele têm sido campeões em tudo...
-Até parece que Fernando Pessoa antevia
o Facebook, mas não é sobre computador que quero falar. Eu quero dizer
que estou lendo a autobiografia do Bill Clinton e ele conta as porradas que
levou de o sangue escorrer pelo rosto, conta as suas derrotas.
-Ele conta como foi com a Monica
Lewinsky? - interrompeu-me com a expressão marota.
-Claudio, eu estou ainda na página 60 e
são mais de 900; pretendo dosar a minha expectativa; por pouco, não consegui e
pulei para as páginas em que ele narra a sua visita ao Brasil.
-Quando ele foi à Mangueira e se sentiu
feliz como um pinto no lixo, segundo o Jamelão. - lembrou.
-Lá, o Bill Clinton bateu aquele
pênalti em que o Pelé deixou o menino que estava no gol sem nada entender
porque, enquanto ele dizia para o Clinton que ia perder, pedia ao goleiro que
deixasse a bola passar.
-A bola entrou.
-Sim, Claudio, o menino disse que o
presidente estava com o corpo tão entortado diante da bola que, quando chutou,
mesmo que tentasse não conseguiria defender.
-Ele expõe, então, tudo da vida dele?
-Até onde eu li, parece que sim. O
padrasto, de quem incorporou o sobrenome Clinton, pois não conhecera o pai,
bebia como um gambá e, quando se tornava violento, agredia a mãe dele, certa
vez, com uma tesoura e em outra, desferiu um tiro de revólver que passou entre
ele e a mãe. Ficou uns dias na cadeia por isso.
-Clinton contou isso?- abismou-se.
-É verdade que a mãe do Clinton já
escrevera as suas memórias, então, se ele pulasse essa parte sombria da sua
vida, receberia críticas duras, principalmente da oposição. Ainda assim, Bill
Clinton foi muito corajoso em contar algumas mazelas da sua vida que ninguém
conhecia.
-Será que ele escreverá todas as
mazelas, pois, pelo que você disse, não leu nem 7% do livro?
-Claudio, eu compulsei as 1200 páginas
das memórias do Roberto Campos, “A Lanterna na Popa”, doido para saber toda a
história das facadas que ele recebeu, em São Paulo, de uma amante quando era
embaixador em Londres. A coisa foi tão
séria que o Jânio Quadros saiu do hospital, quando foi visitá-lo, aos prantos,
e o General Figueiredo teve de dizer à telefonista que era o presidente da
República para poder falar com a vítima. Na autobiografia dele, nem uma só
linha sobre o assunto.
-A amante era a Marisa Tupinambá, que
usava o sexo com pessoas poderosas para enriquecer. Roberto Campos não iria
confessar nada, ainda mais que os seus amigos conseguiram abafar o caso na
época. A mulherzinha ameaçou colocar a boca no trombone e tiveram de dar uma
dinheirama a ela que, então, sossegou. - disse meu irmão.
-Claudio, é extremamente embaraçoso
para mim, pelo menos, revelar assuntos íntimos da minha vida.
-Então, você está do lado do Roberto
Carlos, Gilberto Gil, Caetano Veloso, Chico Buarque e Paula Lavigne no caso das
biografias não autorizadas?
-De jeito nenhum, Claudio, se eu fosse
famoso e alguém escrevesse sobre a minha vida expondo o que eu não teria
coragem de escrever, tudo bem, desde que não minta, que não faça ficção.
-Qualquer problema, Carlinhos, o
processo judicial está aí mesmo.
-Sim, eu sou radicalmente contra o
autoritarismo desses artistas que você citou.
-Por sinal, ainda não se resolveu nada
sobre as biografias não autorizadas e, com isso, livros do Ruy Castro e do João
Máximo, entre outros, estão censurados. - comentou.
Voltando ao Bill Clinton, ele escreveu
que, adolescente, assistia a muitos faroestes e o seu predileto era “Matar ou
Morrer”.
-Ele disse por quê?
-Ele disse que o medo está na expressão
do Gary Cooper durante o tempo todo, no entanto, em momento algum ele recua,
enfrenta o perigo. Bill Clinton, então, transpõe a história da fita para o seu
período na Presidência da República, quando, mesmo temeroso, teve de enfrentar
os desafios e seguir adiante.
Com a entrada do Daniel, com a sua
alegria esfuziante, esse assunto morreu.
-Carlão – disse sentando-se no sofá de
alvenaria da cozinha – você viu o balanço da Petrobras? Se roubassem, apenas, o
prejuízo seria de 6 bilhões, mas como realizaram projetos, o buraco foi de 44
bilhões.
-Quando o Mário Henrique Simonsen foi
ministro, ele formulou uma frase ferina sobre os lobistas.
-Que frase foi essa?
-Quando alguém chegava ao Simonsen
entusiasmado com um lobista, ele dizia: “Deem-lhe os 10% e esqueçam o projeto.”
Nesse caso, a frase do Simonsen se mostrou bem apropriada; se tivessem dado os
10% e esquecido o projeto, o prejuízo seria só de 6 bilhões, não de 44 bilhões.
-Quem está atrás desses projetos é o
Lula. - ralhou meu irmão.
-Sim.
-Você lembra que, quando terminou o
segundo mandato do Lula, queriam que ele fosse presidente da Petrobras?
-Lembro-me, Claudio. Depois que a
Petrobras foi privatizada, deixando de ser uma estatal para pertencer a um
partido político, o Lula passou a querer refinarias em todo o lugar sem que,
antes, houvesse estudos de viabilidade econômica.
-O Lula era dado a estudos, Carlão? -
fingiu-se o Daniel, velhacamente, de bobo.
-A mistura de amadorismo com corrupção
levou a maior empresa do Brasil à derrocada.
-Carlão, você me aconselha a comprar
ações da Petrobras? - permaneceu no papel de bobo.
-Se você gosta de viver sobressaltado,
eu aconselho.
Nesse instante, a Gina entrou na
cozinha.
Apareceu com outro assunto:
-Você viu a violência nas manifestações
dos professores no Paraná? - dirigiu-se a mim.
-Vi; os black blocs se imiscuíram para
desvirtuar tudo.
-Carlinhos, policiais com cães
pitbull?...
-Sim, Claudio é inconcebível; esse
animal, com um maxilar de tubarão, poderia romper a artéria femural do
cinegrafista e matá-lo. Mas, como eu falava, os black blocs estragam tudo.
-Foram eles que acabaram com as
manifestações de 2013. Eles e os marginais, que formavam uma minoria, se
enfiaram no meio da multidão pacífica, com reivindicações justas, e
esculhambaram tudo, fazendo, mesmo sem querer, o jogo do governo. - disse o
Claudio.
-Quando os estudantes se prepararam
para levantar barricadas em luta pela República, na França, o Inspetor Javert
se pôs em alerta, porque nesse momento, ele dizia que toda a escória sai dos
bueiros e vem à tona.
-Carlão, você viu “Os Miseráveis”?
-Daniel, vi umas quatro versões do
filme e li o romance.
-Eu acabo de ler também o romance.
-Até que enfim, Daniel, você largou o
computador por algum tempo, e leu as mil páginas de “Os Miseráveis” do Victor Hugo.
- entusiasmei-me.
-Carlão, “Os Miseráveis”, que eu li
tinha uma 90 páginas, era um resumo.
-E não ficou motivado a encarar as mil
páginas?
-Para que, Carlão, já sei da história
toda.
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