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O BISCOITO MOLHADO
Edição 5101 Data: 7 de
maio de 2015
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201 ª CONVERSA COM OS TAXISTAS
-Você nunca fez ponto na Rua Van Gogh
antes de amanhecer o dia? - perguntei ao taxista mal entrei no seu carro em
Maria da Graça.
-Não, eu começo a trabalhar mais tarde;
mas soube que alguns colegas foram vítimas de assalto e passaram para a Rua
Itamaracá, entre o posto de gasolina e a padaria que é mais movimentado.
-Se eles estivessem ainda no antigo
ponto iam ver cinema, como se dizia antigamente, às 5h 30min da manhã, só que
cinema pornô.
-O que houve. - despertei-lhe a
curiosidade.
-Entrei na Rua Van Gogh, saindo da
Vlaminck e desci uns 30 metros mais ou menos quando divisei ao longe um sujeito
de calças arriadas e uma mulher ajoelhada diante dele...
Como esse taxista sempre se mostrou
muito educado, quando me conduziu até em casa, pensei em usar o termo latino fellattio,
pensando no personagem de John Malkovich, no filme “Relações Perigosas”, que,
ao seduzir uma jovem, lhe diz que era hora de ela aprender uma palavra latina
“cunnilingus”, mas ele se antecipou:
-Ela estava chupando o cacete dele?
-Essas cracudas – disseram-me os seus
colegas – fazem qualquer coisa por 5 reais para obter dinheiro para a droga.
-O sujeito deveria estar drogado, pois
nem procurou um lugar mais escondido. - deduziu.
-Apesar de muito cedo, há, pelo menos,
umas quatro pessoas que fazem esse caminho rumo ao trabalho, como eu, nessa
hora, porém, nessa segunda-feira, só passava eu por lá.
-E o que você fez?
-Passei para a outra calçada e segui em
frente como se nada estivesse acontecendo.
-A Rua Luiza Vale está tomada de
cracudos e eu soube que eles também fazem sexo mesmo à luz do dia. - disse-me.
-Sim; mas eles se deitam naqueles
inúmeros colchões espalhados pela calçada em que há até cobertores. Creio que
as cenas de sexo que eles praticam é uma espécie de Big Brother Brasil
dos pobres. - comentei.
-O que a droga não faz... - lamentou.
-Quando eu era adolescente, via muitas
relações sexuais, na rua, de cachorros, mas, agora, vejo de seres humanos. -
pensei em voz alta.
-Talvez por isso, as mulheres fáceis
são chamadas, agora, de cachorras. - falou, enquanto me deixava na porta do meu
prédio.
Se a memória me impediu de identificar
o taxista do dia anterior, agora, ela estava bem aguçada, pois o 151 da Metrô
Táxi, até me levou, numa eleição passada, à rua onde eu voto, e ainda me
esperou para trazer-me de volta, pois a fila dos eleitores era diminuta.
-Você viu o depoimento do Paulo Roberto
Costa na CPI da corrupção da Petrobras? - indagou-me quando eu ainda me
entendia com o cinto de segurança.
-O diretor de abastecimento da
empresa?... Assisti a alguns trechos.
-Ele abasteceu foi o bolso dele e de
muitos outros corruptos da política e das empreiteiras. - indignou-se.
-Eu fico abismado, quando o vejo com
sua serenidade, elegância no vestir e em falar, na barba bem aparada sem um fio
de cabelo fora do lugar...
-Sim; com a dinheirama que embolsou,
anda nos trinques. Mas isso não quer dizer nada, pois o Lula anda desleixado e
roubou muito mais do que ele. - comparou.
-Eu não concebo que um diretor da
Petrobras, que ganha um polpudo salário, ainda querer mais, mesmo que tenha de
percorrer caminhos escusos.
-É a ganância, a maldita ganância. -
bradou.
-Dos trechos a que assisti, gostei do
deputado, que foi da Polícia Federal, que, enojado com toda aquela pose do
depoente, lhe perguntou se ele se mostraria tão arrependido, tão bom
samaritano, caso toda essa roubalheira não viesse à luz do dia.
-Claro que não; continuaria roubando
com a mesma cara de pau. - esbravejou.
-A corrupção está, infelizmente,
entranhada na cultura brasileira; então, existe aquele ditado popular:
“Vergonha é roubar e não poder carregar”. No caso do Paulo Roberto Costa e de
outros corruptos, eles estão envergonhados porque não puderam carregar, não
porque roubaram. - comentei.
-É isso aí. - disse ele seguindo
adiante com outros comentários sobre a CPI da corrupção.
O 017 é irascível, já escrevi diversas
vezes neste periódico, mas, nessa dia, ele se superou.
-Você trabalha na cidade?
-Sim, na Rua Rodrigo Silva, que fica
entre a Sete de Setembro...
-Conheço; eu conheço toda a cidade. -
cortou-me.
E prosseguiu:
-Agora, os pivetes estão roubando ainda
mais.
-O Jornal Nacional mostrou alguns
desses assaltos... um senhor sendo atacado por um bando deles, no ponto de
ônibus e sendo esfaqueado. É o cúmulo! Em pleno Centro da cidade na hora de
maior movimento. - manifestei-me.
-Eu não sei se você trabalhava na
cidade quando houve aquele caso da Candelária.
-Foi no início da década de 90, eu
trabalha na Avenida Rio Branco. - respondi-lhe.
-Eu trabalhava no Jockey, na Nilo
Peçanha. Cansei de ver esses moleques empurrando as pessoas, geralmente velhos
e depois que eles caíam tiravam as suas carteiras do bolso; sem falar nos
cordões que arrancavam, e das bolsas das senhoras que levavam.
E concluiu salivando ódio:
-A polícia fez uma faxina na
Candelária, só não foi melhor porque um deles escapou e, quando cresceu,
sequestrou um ônibus e matou uma moça.
-Terrível. - lastimei.
-Agora, os assaltos aos cidadãos
voltaram como naquele tempo.
-Sim; uma reportagem do RJTV de sábado,
na Globo, mostrou camelôs receptadores de celulares roubados; vendem por 400
reais celulares de 2000 reais que chamam de seminovos.
-É tudo uma quadrilha e eu não duvido que
tenha policial envolvido. - esbravejou.
-A partir dessas reportagens da TV
Globo, a cidade ficou bem policiada; pelo menos, num trecho de 500 metros da
Rio Branco, que percorri, hoje, vi seis viaturas da polícia.
-E adianta? - demonstrou seu ceticismo.
-Bem, essas filmagens de assaltos vão
para as televisões estrangeiras, e como as Olimpíadas do Rio de Janeiro estão
próximas, o policiamento tem de ser o mais rigoroso possível para não afastar
os turistas. - comentei.
-Eles pensam que olimpíadas é Copa do Mundo,
não é não.
-Claro que não – concordei – a Copa do
Mundo se espalhou pelo Brasil, mas as olimpíadas vão se concentrar toda,
praticamente, aqui na cidade do Rio de Janeiro.
-E Copa do Mundo é só um esporte,
enquanto as olimpíadas são dezenas.
-Sim.
-Já
imaginou as olimpíadas com esses pivetes roubando pela cidade?
E concluiu, enquanto eu saía do seu
táxi na Rua Modigliani.
-A polícia tem de fazer o que foi feito
na Candelária.
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