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O BISCOITO MOLHADO
Edição 5096 Data: 29 de abril de 2015
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SABADOIDO FALA DO CINEMA NACIONAL
-”Falem mal, mas falem do cinema
Nacional”. - era o lema do comentarista de cinema da Rádio Nacional, Adolfo
Cruz, nos anos 50 e 60; e o Sabadoido se iniciou com a Gina falando do cinema
brasileiro, mal naturalmente.
-Você gosta de algum filme brasileiro,
Carlinhos?... Eu não gosto de nenhum.
-Gina, “Cidade de Deus” é um bom
filme...
Não me deixou prosseguir:
-O cinema daqui tem a mania de mostrar
tudo que há de pior, pobreza, assaltos, favelas, o que o cinema americano não
mostra.
-Bem, Gina, eles mostram, por exemplo,
a máfia, e quem glamourizou os mafiosos foram o Coppola, o Martin Scorsese, os
cineastas ítalo-americanos. Aquele seriado de televisão, “Os Intocáveis”, mostrava
bem o mundo do crime nos Estados Unidos.
Mas a discussão começara dias antes
entre ela e meu irmão, e, agora, os dois a requentavam.
-Há bons filmes brasileiros: “Memórias
do Cárcere”, “Vidas Secas”, “Deus e o Diabo na Terra do Sol”, Central no
Brasil”...
A lista do Claudio também foi
intempestivamente interrompida pela Gina.
-Mas não receberam prêmio algum. -
rebateu ela.
-”Central do Brasil” só não ganhou o
Oscar de melhor filme estrangeiro porque disputou com “A Vida é Bela”, que era
imbatível. - contra-atacou o Claudio.
-”O Pagador de Promessas” levou a Palma
de Ouro do Festival de Cannes. - intervim.
-Você gostou desse filme?- voltou-se a
Gina para mim.
-Bem, muita gente do Cinema Novo não
gostou, mas foi pura inveja: Anselmo Duarte era muito bonito e ainda conquistou
por lá uma cobiçada francesa.
-Não era só a inveja, Carlinhos, ele
não era engajado na esquerda. - manifestou-se meu irmão.
-Ah, sim. Anselmo Duarte sofria para
conseguir financiamentos para fazer filmes. Com todo o lastro que possuía,
preferiram financiar “Deu no New York Times”, dirigido pelo Henfil, que não era
da área, a um filme dele.
-E você viu o filme do Henfil?
-Claudio, uma porcaria. O “Caboclo
Mamador”, o paradigma do patrulhamento ideológico do Pasquim, deve ter chupado
o cérebro do Henfil, quando dirigiu esse
filme.
Gina aproveitou as minhas críticas para
insistir que todos os filmes brasileiros só mostram o que há de pior aqui.
-Gina, você certamente viu “A Um Passo
da Eternidade”, um clássico do cinema dos Estados Unidos? - perguntei.
-Vi.
-Alguns daqueles militares americanos
se odiavam tanto que precisou daquele ataque traiçoeiro dos japoneses a Pearl
Harbor para eles se unirem, mas não totalmente. E, assim, com outras fitas de
lá sobre a guerra. - argumentei.
Aproveitei a entrada do meu sobrinho na
cozinha para passar para o futebol.
-Daniel, um absurdo essa suspensão do
Jóbson por quatro anos. Não acha?
-Mas ele se recusou a se submeter a
exame antidoping. - interferiu a Gina.
-Gina, Jóbson pertence a uma família
pobre, estava se firmando no Botafogo depois de problemas com o craque. Se o
suspendem, agora, por quatro anos, liquidam, praticamente, com a vida dele. Se
fosse jogador de outro clube, eu diria a mesma coisa.
-Covardia pior fizeram com o Dodô, que
recebeu dois anos sem ter antecedentes de uso de drogas.
-Eu sei, Claudio, mas o Dodô ainda teve
uma estrutura que não liquidou com a vida dele, mas com o Jóbson a coisa é
diferente.
-O Fluminense tem um chincheiro lá, o
Michael, que pegou dezesseis meses. - voltou a Gina ao debate.
-Carlinhos, a pena mínima agora, por
dopping, é quatro anos. - disse o Claudio.
-Jóbson se recusou a fazer o exame num
país árabe, onde as coisas não são muito confiáveis. A FIFA é uma instituição
que acolhe presidentes corruptos. O Joseph Blatter da FIFA tem interesse nos
votos dos árabes para se reeleger... Essa punição não lhe parece esquisita? -
encerrei com essa pergunta.
-Joseph Blatter teve status de chefe de
governo quando esteve no Brasil na Copa do Mundo. - lembrou meu irmão.
-O vício da cocaína é terrível. Leu, no
Ancelmo Gois, que o Paulo César Caju perdeu três imóveis, a medalha de
tricampeão e uma miniatura em ouro da taça Jules Rimet devido ao vício?
-Carlinhos, eu não acredito em nada
disso; exageram muito para valorizar a volta por cima. - manifestou-se a Gina.
-Não repararam que o Carlão se dirigiu
a mim, e eu, até agora, não consegui falar. - queixou-se o Daniel.
-Fala, meu louro. - gozou o Claudio.
-”Fala, meu louro” é um samba em que o
Sinhô caçoa da verborragia verbal do Ruy Barbosa.
-Uma réplica, porque o Ruy Barbosa via
a cultura popular com desprezo. - seguiram-se as palavras do Claudio às minhas.
-Quando é que eu vou poder falar. -
explodiu o Daniel com o seu jeito folgazão.
-Com a palavra o Daniel. - procurava o
Claudio, agora, imitar o presidente da Câmara dos Deputados Eduardo Cunha.
-Essa questão de dopping é muita séria.
Os cientistas são ainda piores do que os atletas, porque inventam maneiras de
se burlar os detectores de substâncias suspeitas.
-Daniel, o caso do Jóbson é cocaína. -
atalhou a Gina.
-Tudo bem, tudo bem. O Tiago Neves foi
afastado de uma partida do Fluminense porque havia tomado um remédio para
sinusite sem ter, antes, avisado ao médico.
Aproveitei o exemplo do meu sobrinho
para citar outro.
-Na preparação para a Copa do Mundo de
1970, o Gérson teve uma crise de pedra nos rins de rolar pelo chão. No decorrer
dos jogos, ele tomava chá de quebra-pedra que continha uma substância
considerada dopping, mas o doutor Lídio Toledo sempre avisava, com
antecedência, os especialistas da FIFA.
-Tomar chá de quebra-pedra?... Que
coisa mais atrasada mesmo naquela época! - estranhou a Gina.
-O Gérson tremia de medo de injeção. -
procurei justificar.
-Eu, também, preferiria chá. -
pilheriou o Claudio.
-Lembra-se do Josimar?
-Como não vou me lembrar do lateral
direito do Botafogo e da seleção brasileira. - respondi ao meu irmão.
-Ele foi preso porque estava cheirando
cocaína numa festa, e o Zózimo escreveu na coluna dele: “Só o Josimar?...”
-Um colega do meu trabalho... isso faz
tempo... foi à festa de aniversário do agente de artistas, Guilherme Araújo,
que ele chamou de 25 mais 25...
-Deveria ser 40 mais 40, pois ele
deveria ter uns 80 anos de idade.- cortou-me a Gina para expressar o seu humor
ácido.
-Disse-me esse colega que a cocaína foi
consumida a granel.
-Depois, essa gente sai às ruas ou se
mostra na mídia atacando a violência policial, mas são eles que sustentam o
tráfico de drogas. - manifestou-se o Claudio.
-Bem, como vocês não me deixam falar,
eu vou lavar o carro. - deu o Daniel a sua presença na sessão de Sabadoido como
encerrada. E nós também.
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