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O BISCOITO MOLHADO
Edição 5250EF Data: 22 de dezembro de 2015
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Com - e sem - Carlos Eduardo Carvalho do
Nascimento
Era uma das pessoas mais silenciosas, observadoras e argutas
que conheci, em quase quinze anos de convivência, tanto em almoços, quanto por
seus textos do Biscoito Molhado.
Ele me honrara em deixar que lhe fizesse as revisões, por
alguns anos, até que cansei: ele era muito profícuo, com média de uma crônica
por dia útil, a cada semana, todos os meses, há muito tempo.
Tricolor trânsfuga, Carlos se fez botafoguense no final da década
de cinquenta, porque o Fogão
ganhou de goleada do Fluzão uma final de campeonato carioca.
Circunspecto, tímido, pouco sorria, apesar do senso de humor
de fazer corar fradinho do Henfil.
Metódico ao extremo, tudo com ele tinha hora certa, a cada
dia, qual a saudosa Rádio Relógio: correr ou andar, café, metrô, trabalho, almoço,
trabalho, metrô, táxi, casa, leituras, escrita, despertar, correr ou andar, café,
metrô... rotina da qual não se afastava por quase nada.
De memória prodigiosa e muitas vezes generosa, era capaz de
reproduzir diálogos, de modo mais real - e humana - que a própria realidade.
De tanto preservar essa memória, seu ponto alto, no final da
vida, foram as crônicas do Rádio Memória.
Admirava a cultura e a inteligência alheias, por isso amava
platonicamente Rosa Grieco, e não sabia, porque nasceram em gerações diversas.
Pesquisador inveterado e leitor voraz, ele nos trazia sempre
do melhor desta vida, da vida de tantos conhecidos e desconhecidos, quase
sempre do Rio de Janeiro, para suas crônicas.
Viajava pelo mundo inteiro, com sua fiel recriação dos
grandes eventos históricos, em que me fez várias vezes seu virtual e
atemorizado companheiro.
Escritores, músicos e profissionais das artes em geral
pululavam e se esvaneciam em sua espartana residência, em Del Castilho.
Patrono dos Sabadoidos, vários de seus míticos personagens,
todos em carne e osso, estavam na tarde do sábado retrasado no Caju, à sua
volta, menos dois: um, porque se foi antes dele, e outro, porque não foi lá, já
que o próprio Carlos lhe ensinara que não se deve sepultar amigos.
Os taxistas de Maria da Graça perderam repentinamente seu
cliente mais amigo, mais camarada, e nunca mais terão vozes, em algo tão
sublime, como eram as crônicas do Carlos.
Entretanto, surgiram dois belos repentes de alegrias, nos últimos
dias, para nós, que choramos o Carlos.
São os bons textos que o Luca e o Daniel, eles mesmos,
aqueles dos Sabadoidos, dedicaram ao Carlos Eduardo Carvalho do Nascimento e
seu Biscoito Molhado.
Não me engano ao declarar que todos nós,
assinantes do Biscoito, pedimos a eles dois que prossigam na necessária e
emocionante tarefa de escrever essas crônicas do Carlos.
Mais do que ninguém, eles sabem o que o Carlos nos
escreveria, pela vida a fora, diante do cotidiano.
Depois do Luca, Danilski e Elio, Carlinhos deve estar orgulhoso dos seus herdeiros biscoitários...
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