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O BISCOITO MOLHADO
Edição 5246 Data: 06 de dezembro de 2015
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ACONTECEU NO DIA 06 DE DEZEMBRO
Mais um domingo sem o Sérgio
Fortes no Rádio Memória. Diria alguém, de humor cortante, recorrendo a uma
expressão do mundo futebolístico, que ele é da turma do chinelinho. Maldade,
pura maldade, apesar de a justificativa do Sérgio Fortes para a sua ausência
fosse problemas no joelho; contusão que, contada por ele, tomou as proporções
da ruptura do tendão patelar que quase tirou o Ronaldo Fenômeno da Copa do
Mundo de 2002. Aqui, faz-se necessário um adendo: a nossa comparação com um
jogador de futebol não quer dizer de modo algum que também achamos que o
parceiro do Jonas Vieira seja da turma do chinelinho.
Assim, parecia que o Rádio
Memória desse 6 de dezembro seria editado sem o calendário. Jonas Vieira abriu
os trabalhos anunciando a presença de um convidado ilustre, o ator, dentista
biógrafo, autor do livro “Dez Vidas – Meu Olhar Sobre Elas”, Lino Corrêa, e
mais Simon Khoury, sumido há uns dois meses. Nós, ouvintes do programa, já
estávamos com saudades da versão brasileira da dupla Jack Lemmon e Walter
Matthau, os dois vizinhos que passaram a vida brigando.
Como três das dez mulheres
reverenciadas no livro são cantoras – Carmela Alves, Ademilde Fonseca e Wanderléia
- nada mais cerimonioso que delas ele escolhesse a programação musical, mas o
Simon Khoury passou por cima da etiqueta e pediu uma gravação do Henry Mancini.
-Simon Khoury e Henry
Mancini foram amantes na outra encarnação. – garantiu o Jonas Vieira.
-Fomos – admitiu o Simon
Khoury – mas eu por cima.
Quando o Rádio Memória
chegava a nel mezzo del camin, Jonas Vieira nos surpreende com a
notícia de que teríamos o calendário logo após os anúncios da emissora.
Sérgio Fortes, ao telefone,
antes de passar para as datas, referiu-se ao seu problema no joelho e citou o
Fred do Fluminense. Logo o Fred, Sérgio, o líder da turma do chinelinho?...
Assim, toda a defesa que fizemos, no início deste texto, foi por água abaixo.
-Sérgio, vamos ao
calendário? – apressou-o o Jonas Vieira.
-Aqui vai uma data que achei
interessante: em 6 de dezembro de 1768 é publicada a primeira edição da
Enciclopédia Britânica. Jonas, daqui a pouco ninguém saberá o que representou a
Enciclopédia Britânica. As coisas somem na poeira do tempo.
-Sérgio, o Artur Xexéo
escreveu, nesta semana, sobre várias coisas tão presentes, no passado, de que
não se fala mais.
-Existia até a profissão de
vendedor da Enciclopédia Britânica, da Enciclopédia Barsa.
Após essa lembrança, o
Homem-Calendário prosseguiu:
-Em 1868, ocorre a Batalha
de Itororó, na Guerra do Paraguai, entre cinco mil paraguaios e treze mil
brasileiros comandados pelo então Marquês de Caxias. Jonas, a proporção é
desigual, mais de dois por um.
Naquela época, era quase
fatal para os sedentos confundir Tororó com Itororó.
-Aquelas fotografias dos
soldados paraguaios andrajosos, Jonas: horríveis.
-Em 1880, Buenos Aires é
declarada capital da República Argentina.
Jonas Vieira exultou tanto
que, por pouco, não cantou o tango de Gardel “Mi Buenos Aires Querido”,
provavelmente as presenças do Simon Khoury e do Lino Corrêa o detiveram.
-Em 1901, o presidente dos
Estados Unidos William McKinley é baleado por um anarquista. Jonas, aqui no
papel (um impresso internético) está que ele iria falecer em 14 de setembro. Eu
estranho, porque é muito tempo, são nove meses depois.
-Muita coisa, Sérgio.
Eis a falta que a
Enciclopédia Britânica faz, ela restabelece a verdade dos fatos; pois nela se
leria que o atentado contra a vida do presidente McKinley se deu em 6 de
setembro, e a sua morte no dia 16 desse mesmo mês. A internet, que vem tornando
obsoleta a Enciclopédia Britânica, estendeu dez dias de agonia para nove meses,
uma gestação. O presidente americano, que fez um bom governo, segundo os
historiadores, não merecia tanto “sofrimento”.
-Em 1951, Getúlio Vargas
envia ao Congresso o projeto que cria a Petrobras.
-Hoje, a Petrobras... cortou
o Jonas Vieira o seu comentário.
-Getúlio não sabia que, em
2014, 2015, o projeto a ser enviado ao Congresso seria sobre o fim da Petrobras,
Jonas.
Conseguiram acabar com a
maior empresa do país.
Um quase imperceptível
gemido foi ouvido: talvez uma fisgada no joelho, talvez a dor pela queda dos
preços das ações, talvez um mera estática de transmissão radiofônica, não se
sabe bem.
Os corruptos levaram 103
anos para exterminar com o Lloyd Brasileiro (1894/1997), os corruptos de hoje,
bem mais vorazes, precisaram de pouco tempo para arrasar a Petrobras, embora ela
fosse muito maior que a empresa de navegação.
-Jonas, uma data terrível: o
ex-tenente coronel Hugo Chávez é eleito presidente da Venezuela.
-Os venezuelanos não
mereciam isso. – lastimou o Jonas Vieira.
Por coincidência, nesse
mesmo dia, os venezuelanos votariam, era uma oportunidade de eles darem o
primeiro passo para se livrarem do governo narco-bolivariano que gangrena o
país.
-Nascimentos- impostou a voz
o Sérgio Fortes.
-Jonas, você se lembra de
Arnaud Rodrigues?
-É claro que me lembro.
-Ator, cantor, compositor e
humorista, nasceu em 1942.
-Em 1946, nascia o último
grande cantor que vimos cantar: Emílio Santiago.
-Jonas Vieira concordou, mas
não se estendeu sobre a penúria de grandes vozes masculinas no cenário
artístico brasileiro.
-Em 1949, nasciam dois
irmãos geniais: os cartunistas Chico e Paulo Caruso.
Jonas Vieira concordou
plenamente.
-Como diz um amigo meu: uma
dupla de dois. - completou o Sérgio Fortes.
Ao contrário de Caim e Abel,
Esaú e Jacó, Pedro e Fernando Collor de Mello, Pedro e Paulo de Machado de
Assis, os irmãos cartunistas se dão maravilhosamente.
-Em 1961, nascia Antonio
Calloni, excelente ator brasileiro.
-Falecimentos. - voltou a
impostar a voz.
-Jonas, eu vou registrar
apenas uma morte: em 1976, João Goulart.
-Convivi com ele, Sérgio.
-Sim, Jonas, você, como
repórter de jornal, esteve, certamente, muitas vezes com ele.
-Sim.
-Jonas, hoje é Dia do santo
padroeiro do Simon Khoury: São Nicolau, que vem a ser o Papai Noel.
-É por isso, Sérgio, que o
Simon vive agarrado nele com uma listinha de presentes.
-Eu estou de saco cheio. -
quebrou o Simon Khoury o seu silêncio.
Sérgio Fortes não prolongou
o calendário (*), porque o convidado, Nino Corrêa, ainda não falara da metade
das mulheres do seu livro; e desligou o telefone. Então, deu-se o inusitado:
Jonas Vieira se colocou no papel de Homem-Calendário para enaltecer D. Pedro II
que, em 49 anos de império, respeitou o dinheiro público e quando o usou foi
para custear o aprendizado de Carlos Gomes e Pedro Américo. D. Pedro II nasceu,
há 190 anos, em 2 de dezembro de 1825 e morreu, no exílio, em 5 de dezembro de
1891.
Muito bem, Jonas Vieira:
essas datas têm de ser lembradas pelos brasileiros.
(*) E não contou que o barítono Paulo Fortes comemorou com efusivas loas
líricas, seja lá o que isto queira significar, o nascimento de seu primeiro
filho, Sergio, não acentuado, o mesmo que, 67 anos depois, frequenta
ortopedistas de renome discutível, em busca da cura do joelho doído.
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