--------------------------------------------------
O BISCOITO MOLHADO
Edição 5251L Data: 04 de janeiro de 2016
------------------------------------------
FORA
DO INVENTÁRIO
O
calor está realmente insuportável. Ele enche as piscinas, superlota os
balneários e triplica a frequência aos botecos. Suas mesas de plástico ficam
repletas de garrafas de cerveja - não há espaço para os copos. Eles ficam mais
seguros nas mãos.
As
pernas já bambeiam, no senta-e-levanta daqueles que procuram os banheiros a fim
de regular seus reservatórios.
Que
sorte - não existe “Lei Seca” para os que caminham se trombando.
Eu
chego em casa já exausto, nada fiz para estar assim, o cansaço é por conta da
tal “sensação térmica”, que mina minha resistência.
A
televisão está ligada em um programa que faz previsões para o novo ano, 2016.
Um homem, como dono da verdade, diz o que vai acontecer para as pessoas que têm
um mínimo de notoriedade no mundo televisivo.
Ele
está prevendo as coisas mais prováveis de ocorrer, como separações,
enfermidades, gravidezes, trocas de gravadoras e de emissoras, quando, então,
aproveitei para trocar de canal.
Minha
impaciência e ceticismo com esse tipo de coisa só me faz confirmar: como existem
charlatães por aí...
Destinos,
sinas, carmas são meros substantivos usados para justificar o injustificável.
Vivemos, sim (não lembro quem disse), nos equilibrando nas consequências dos
nossos atos.
O canal que vejo agora é só de música e assim
entro num cochilo e daí para um sono profundo, que me leva a um sonho – eu
sonho com o Carlinhos, mas é aquele sonho desordenado, como quase todos os
sonhos são.
Ele
me aparece inteiro, como da última vez em que o vi, como meu velho amigo. Quer
saber de seus próximos naturais, sua mãe, e dos outros que, por amizade, se
tornaram próximos. Falo de todos, capricho mais em alguns, que sei que o deixam
prosa e orgulhoso e também menciono a graça e a beleza de suas sobrinhas-netas –
e ele se regozija!
Imediatamente,
pergunto se onde ele se encontra é realmente o Paraíso. O idioma que se fala é
mesmo o Francês? Já se encontrou com os virtuosos da música erudita? E com
Platão, Sócrates, Cícero, Shakespeare, Camões, Tolstoi e, antes que me esqueça,
Carlinhos, quando você encontrar Stendhal, veja se ele tem todo o charme que a
Rosa apregoa?
E
Agripino Grieco? Quando o encontrar, diga-lhe que sua filha caçula continua na
vanguarda, só não sobe mais em abieiros.
Não
se esqueça de procurar o Vagner (o velho Gumerça). Diga-lhe que seu neto já é
meu contemporâneo.
Carlinhos
me interrompe, me pede calma, diz que eu continuo falando muito e, em outros
tempos, ele diria que ser assim não faz bem à saúde ... Mas essa dúvida ele
iria tirar, assim que encontrasse Hipócrates.
Sem
muito rodeio, pergunta como estão seus BMs.
E
então, de forma peremptória (termo preferido dele), afirma que, em qualquer
plano onde se encontrar, o jornal é dele, para sempre dele.
Não
pode ser inventariado, muito menos partilhado.
Fico
sem saber o que dizer. O sonho começa a virar pesadelo. A preocupação com sua
obra-prima continua. O zelo é o mesmo de sempre, mas, felizmente, eu acordo.
No
resto do dia, esse sonho não me sai da cabeça.
E
concluo que, se o amigo Carlinhos quiser saber de seu Biscoito Molhado, que
apareça nos sonhos de seus amigos Dieckmann e Fischberg, porque, a bem da
verdade, essa ideia de continuar seus BMs foi deles ...
Luca sonha com Carlinhos ..."Sem muito rodeio, pergunta como estão seus BMs. E então, de forma peremptória (termo preferido dele), afirma que, em qualquer plano onde se encontrar, o jornal é dele, para sempre dele.Não pode ser inventariado, muito menos partilhado. Fico sem saber o que dizer..."
ResponderExcluirMas mesmo assim, um novo BM foi "sonhado" e aqui compartilhado, mesmo "Fora do inventário"...
E seus amigos Dieckmann e Fischberg, para outros sonhos convidados.
Retificando:
ResponderExcluir"para outros sonhos com biscoito, convidados"