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terça-feira, 22 de dezembro de 2015

3000 - DN Dormir é para os fortes


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O BISCOITO MOLHADO



Edição 5250DN (*)             Data:  22 de dezembro de 2015


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NESSUN DORMA – O último ato (19/12/2015)

                   Pego minha máquina do tempo, acoplada à minha memória, e retorno para alguma manhã de sábado. Não me lembro exatamente qual sábado. Só sei que, naquele sábado, o Sol ainda estava brilhando e o céu, azul.
 - Carlão!? É verdade que o Moacyr Franco plagiou a canção Nessun Dorma?
                - Sim. Ele pegou o refrão e mudou a letra.
                - Eu li que Nessun Dorma é de uma ópera chamada Turandot.
                - Isso mesmo, Daniel. Você sabia que Nessun Dorma foi a última ária composta por Giacomo Puccini?
                - Sabia, Carlão. Vi isso no show do André Rieu.
                - E você sabe o que significa Nessun Dorma?
                - Não faço idéia, Carlão.
                - Significa “NINGUÉM DURMA”.
                Agora, estou de volta ao presente.
                Um sábado tórrido deste dezembro de 2015.
                Ainda sofremos com as marcas deixadas pela tempestade que caíra uma semana antes.
                Mas tentei arrumar forças e fui com tudo, em busca de uma possível última obra do artista.
                O artista que agora está trabalhando em campos mais verdes, onde o céu é mais azul. Mas a suposta última obra não existe. Não há nada de novo pra ser contado. Não há mais nada a ser revelado.
                Após minha busca, voltei para casa e associei essa história com aquela história do grande compositor Giacomo Puccini:

                - Pôxa! Não encontrei a Nessun Dorma do Carlão... - disse a mim mesmo.
                  E um pensamento começou a martelar em minha máquina da mente:
                - Nessun Dorma = Ninguém durma; Nessun Dorma = Ninguém durma.
                  A máquina do tempo me leva de volta a uma noite, há apenas sete dias.
                - Nessun Dorma! Nessun Dorma, Carlão! Não durma! Que ninguém durma! Acorda! Levanta dessa cama! Nessun Dorma! Nessun Dorma, Carlão!
                 Eu, junto a outras pessoas, pessoas da família do artista e amigos do artista, estive presente na última ária do artista.  O Nessun Dorma do Carlão. O fim da ópera.
                 Que ninguém durma!
                 Depois de tudo o que foi visto, era muito natural que ninguém dormisse naquele momento.
                 Todos estavam impossibilitados de dormir, por causa de alguém que insistia em ficar dormindo.
                  E o que fazíamos naquele último ato? Fazíamos tudo, exceto dormir.
                  Ficamos acordados, acordados e esperando.
                  Esperando algum movimento naquilo que estava imóvel.
                  Esperando ouvir alguma voz de onde só vinha silêncio.
                  Esperando apenas uma resposta para milhares ou milhões de perguntas que fazíamos. 
                  Às vezes, penso sobre o ser humano. É engraçado, pois, por mais bela que seja sua história, ou não, ela sempre vai terminar em lágrimas.
                  NESSUN DORMA!!!!

                 Acorde! Sua mãe está esperando você acordar para ela poder dormir. 
                 Acorde! Amanhã é dia de você aparecer lá em casa, estamos te esperando. 
                 Acorde! Seus amigos do trabalho estão ansiosos para te ver na segunda-feira. 
                Acorde! Domingo tem Rádio Memória.
                Acorde! O Luca tá te esperando pra falar sobre o filme do CHIIIIIIIIIIIIIICO.
                Acorde! O Dieckmann quer saber sua opinião sobre os carros.
                Acorde! Suas sobrinhas estão te aguardando para a ceia de Natal.
                Acorde! Há uma carta da Rosa que você ainda não leu.
                Acorde! Todos nós estamos aqui, aguardando que você apareça e nos diga que tudo não passava de uma mentira. 
                - NESSUN DORMA!!!!
                Mas o artista continuou rebelde, insistiu em dormir quando não podia. Era cedo, mas cedo demais para aquele último ato.
                 Deixamos o personagem principal, dormindo em seu leito, na sua oficina de criação.
                Os que não podiam dormir se reuniram na sala.
                 Reuniram-se como políticos, quando o país sofre um ataque terrorista.
                Reuniram-se como dirigentes de uma empresa que faliu.
                Reuniram-se como cartolas de um clube que acabara de ser rebaixado.
                Todos reunidos em uma noite de dezembro, quando o relógio anunciou que era quase meia-noite.
                 Não! Não era réveillon. O ano não iria mudar, o que mudou foi outra coisa. Uma coisa muito mais impactante.
                - NESSUN DORMA!!!!
                A oficina do artista agora estava vazia. Todos se recolheram a suas casas. Não havia mais o que fazer. A ópera terminou.
                "Nessun dorma" para todos nós, ainda hoje.
               Escutamos a voz silenciosa de uma ausência que está presente em nossas vidas, desde aquele último ato.
                Uma voz que não está nos deixando dormir...
                - NESSUN DORMA!!!!                
                "Nessun dorma", tarde da noite, mandando nossas orações para nosso artista.
                 -NESSUN DORMA!!!!
                 Não fiquemos tristes, ele acordou em um lugar melhor.

(*) Daniel Nascimento é sobrinho do Carlos Eduardo, o adormecido redator do seu O BISCOITO MOLHADO. Tão fã dele quanto qualquer um de nós, teve o infindável privilégio de salvar o redator de incontáveis perturbações cibernéticas, sempre eficiente e reservado. Como ele, o redator, pensava e a ninguém dizia: Ah, eu queria ser um tio assim!
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