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O BISCOITO MOLHADO
Edição 4370 Data: 26 de
fevereiro de 2014
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CARTA DO LEITOR
“Acontecimentos recentes me deixaram sem
computador, impedindo-me de comentar/responder com a merecida presteza a
excelente edição nº 2835 do Biscoito Molhado.
Sendo sincero, devo dizer que nem mesmo
a disponibilidade desse diabólico artefato me assegura respostas rápidas. Meu
limite tecnológico, hei que confessar, é o liquidificador Walita de três
velocidades.
Mas
vamos lá. O que mais gostei naquela edição foi constatar que o amigo captou à
perfeição os objetivos que busco alcançar ao conferir às “Melhores Vozes” a sua
atual configuração.
Temi, durante algum tempo, estar
completamente doido ao apresentar os textos mais ou menos “eruditos” que
antecedem cada gravação. Tranquilizou-me um papo com Artur da Távola, que fez
elogios rasgados ao formato do programa. Ressalte-se que aplausos do Artur
deixam-me sempre um pouco desconfiado. Entre outras muitas qualidades, ele é um
sedutor irresistível.
De qualquer forma, o “modelo” do
programa me agrada. Eu não teria ânimo para atuar como um D.J. de música
clássica. Tenho um trabalho danado, sou pago “a leite de pato', mas fico
contente com a repercussão que o programa está alcançando de forma crescente
junto à turma dos “bons tempos” que frequentava o Municipal.
Adorei suas observações a respeito de
Lucho Gatica/ El Reloj e cia... Nunca havia me aprofundado no tema e o programa
está me dando uma chance de fazer uma incursão nesse terreno. Sempre ouvi de
meu pai referências elogiosas a cantores da chamada “música popular”. Ele era
fascinado por Carlos Ramirez, segundo ele uma das mais lindas vozes que teve
oportunidade de ouvir. Elogiava Pedro Vargas, Lucho Gatica, Gregorio Barrios...
Ressalte-se que estamos falando, quase sempre, de gente que estudou
canto. Carlos Ramirez cantou ópera no
Municipal de São Paulo. Pedro Vargas cantou uma “Cavalleria Rusticana” com 23
anos de idade.
Francisco Alves e Carlos Galhardo foram
“colegas” de meu pai. Alunos, todos eles, do professor Murillo de Carvalho.
Quando Sérgio Cabral e André Midani
(Presidente da Warner) chamaram meu pai para gravar “Ternas e Eternas
Serestas”, o primeiro ficava até altas horas da noite na casa do velho para
conversar sobre o repertório do disco. Tomou um susto ao constatar que o
barítono conhecia tudo no ramo. Eram as músicas que ele cantava desde garoto,
acompanhado ao violão por meu avô, engenheiro da Light.
Acertados os ponteiros quanto ao disco,
Paulo Fortes sentiu-se na obrigação de estudar as partituras de todas aquelas
músicas – Décimo-terceiro trabalho de Hércules, mas ele conseguiu achar todas
elas. E tomou um susto. Como eram sofisticadas, e eventualmente difíceis,
quando examinadas na pauta musical! Como eram, algumas, difíceis de cantar, nos
tempos impostos pelo autor! Que complicados intervalos musicais tem “A Deusa da
Minha Rua”! A começar pelo “A-Deusa...” em que a linda música começa... Tudo
isso cantado com um pé nas costas pelo excepcional Orlando Silva, o “maior de
todos”, na opinião de meu pai...
Queria ter a dicção do Sérgio Chapelin,
para não ir muito longe e permanecer ao menos no departamento dos Sérgios. Faço
força, tomo cuidado para não dar uma de “Jacy Campos” (lembra?) ou Domingos de
Oliveira (outro que tem a dicção de um leão marinho) e tento me fazer entender.
Mas nem sempre tudo dá certo. Em algum momento o chiclete trocou de molar e
você entendeu que Fernando Corena correu atrás do seu (dele) cão em trajes de Eva.
Não foi bem isso. Ele estava em trajes “de época”. Não significa isso que eu
esteja conferindo um atestado de masculinidade ao célebre basso-buffo. Penso
que ele era espada, mas sigo os ensinamentos de Pedro Simon. Não ponho a minha
mão no fogo...
O movimento “Queremos Gigli” saiu-se
vitorioso. Contratei o grande tenor para se apresentar nos dias 4 e 7 de julho.
Fico por aqui, reiterando minha
admiração pela crônica sensacional.
Grande Abraço. Sérgio Fortes
BM: Machado de
Assis escreveu um conto que intitulou
“Papéis Velhos”. Ainda bem que sou machadiano e segui os seus conselhos, num
dos seus romances, de não jogar fora
papéis velhos, por isso, encontrei essa carta datada de 18 de junho de 2007.
Como a encontrei?...Escarafunchava eu as gavetas da minha mesa de trabalho, por
motivo de mudança de sala, e lá estava a carta
manuscrita pelo Sérgio Fortes que, na época, olhava o computador com
desconfiança, hoje, são amigos íntimos.
Apesar de datada, o texto não é datado;
falamos de assuntos e pessoas nele aludidos
até hoje. Por exemplo: o Jonas Vieira não fica um Rádio Memória sem
lembrar o Orlando Silva. Agora, com essa carta aberta (espero que o Sérgio não
se aborreça) com a chancela do grande barítono Paulo Fortes.
Ao mencionado BM 2835 coube o título
“Queremos Paulo Fortes”, porque, no seu programa “As melhores vozes do mundo”,
Sérgio Fortes não colocara, até então, gravação do grande barítono. Lançamos,
dias antes, essa campanha que até o Dieckmann abraçou.
Seriam pruridos de nepotismo que detinha
o seu filho?... Bobagem, pois a palavra nepotismo, na sua origem, é católica
(até demais) e se refere a sobrinhos, não a pais. Sendo mais claro: ao
favorecimento dos sobrinhos do Sumo Pontífice.
No trecho da carta em que o Sérgio alude
ao parágrafo do Biscoito Molhado em questão sobre a corrida do baixo Fernando
Corena, pelo palco, atrás do seu cãozinho em trajes de Eva, assumimos o nosso
rotundo erro. Sérgio culpou, generosamente, a sua dicção, mas, na realidade, o
problema adveio da nossa audição que, por vezes, falha, hajam vista casos de
surdez na minha família, talvez eu chegue um dia a ser um Beethoven (num quesito, pelo menos),
Quando editamos o BM 2835, Sérgio Fortes
já havido atendido à nossa campanha, colocando no ar a gravação da valsa “Eu
sonhei que tu estavas tão linda”. Antes, no seu programa, Sérgio falou do
desejo de Lamartine Babo em compor uma opereta, mas ele a pôs de lado quando
Francisco Matoso, já doente, lhe mostrou a melodia de uma valsa que precisava
ter algumas notas modificadas e de uma letra; Remodelada, Lamartine a entregou
para Francisco Alves cantar. Quando imaginávamos que a ouviríamos com ele, veio
a surpresa: o cantor era o Paulo Fortes.
E encerramos aquela edição liderando
mais uma campanha “Queremos Beniamino Gigli.”
Reiterando: papéis velhos devem ser
guardados.
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