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terça-feira, 25 de fevereiro de 2014

2568 - dito por não dito



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O BISCOITO MOLHADO
Edição 4368                                Data: 22 de fevereiro de 2014
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FRASES E COMENTÁRIOS

“Caráter é aquilo que você é quando ninguém está olhando.”
Esta frase é de Epicuro, filósofo do período helenístico, que viveu de 341 a.C. a 270 a.C. Ela me remete ao que acontece na política brasileira.
O caso da votação para cassar o mandato parlamentar do deputado federal por Rondônia, Natan Donadon, se enquadra perfeitamente na frase do filósofo grego que viveu há mais de 200 anos antes de Cristo.
Quando a votação na Câmara foi secreta, sem que o eleitor soubesse quem estava votando a favor ou contra, o parlamentar, condenado a mais de 13 anos de prisão pelo Supremo Tribunal Federal, escapou, pois não se chegou aos 257 votos necessários para a sua cassação. Seis meses depois, o mesmo plenário se reuniu com o mesmo motivo, mas, agora, com uma diferença fundamental: a votação era aberta, cada deputado declararia o seu voto. Resultado: dos 468 votantes, 467 decidiram que o condenado deveria perder o seu mandato, enquanto só 1 se absteve.
A mudança do voto fechado para aberto foi o atendimento a uma das exigências das centenas de milhares de cidadãos que foram às ruas protestar contra os descalabros dos nossos governantes. Conheciam o caráter do político brasileiro e o que ele faz quando ninguém está olhando.

“A burocracia é a força gigantesca colocada em ação por tolos.”
Balzac investiu com toda razão contra a burocracia, mas, no que concerne aos burocratas, parece-nos que não usou a palavra exata. Eles não são tolos e, em muitos casos, embolsam um dinheirão com o excesso de papéis. Quanto ao fato de a burocracia ser uma força gigantesca, não resta a menor dúvida.
No século seguinte, outro grande escritor, Franz Kafka, denunciou a burocracia com textos mais persuasivos.
Tcheco de língua alemã, Kafka se destacou entre tantas outras coisas, como o literato que expôs a poderosa e quase invisível máquina de moer seres humanos, a burocracia, que, ao longo do século XX, passou a controlar insidiosamente as sociedades ocidentais e orientais.
No Brasil, houve uma pífia reação quando, em 1979, foi criado o Ministério da Burocratização, uma secretaria do poder executivo federal do Brasil, que contou com Hélio Beltrão como ministro. Ele ficou de 1979 a 1983, no cargo, antecedendo João Geraldo Piquet Carneiro e Paulo Lustosa.
O ministério durou menos de 7 anos, foi de 18 de julho de 1979 a 14 de fevereiro de 1986.
Pelo menos, não passou em brancas nuvens, pois na sua duração foram criados o Juizado das Pequenas Causas e o Estatuto da Pequena Empresa.

“O excesso de leitura priva a mente de toda a elasticidade, assim como a contínua pressão de um peso afrouxa uma mola.”
A frase acima do filósofo alemão Schopenhauer demonstra, na nossa visão, a sua contrariedade com aqueles que se encharcam de obras alheias prejudicando a sua, ou até mesmo incapacitando o leitor voraz de elaborar uma.
O filósofo Kant cunhou um pensamento, quase um século antes, que vai ao encontro do que diria Schopenhauer:
“Não devemos ler escritos sobre a matéria acerca da qual estamos refletindo, do contrário atamos o gênio”.
O que serve para as letras também serve para as notas musicais.
O Beatle Paul McCartney disse que, pelo fato de não possuir a fabulosa cultura musical do maestro e também compositor Leonard Bernstein, não corria o risco de pensar que era da sua autoria um trecho melódico que estava nos escaninhos da sua memória.
Assisti, certa vez, a um programa do canal português RTP em que um professor ensinava a uma aluna a música de Chopin, não na proximidade do piano, mas caminhando, como se usasse o método de ensino de Aristóteles.
Em dado momento, ele alude ao fato de o grande compositor Robert Schumann ter enviado a Chopin, dentro de um envelope, as partituras de uma das maiores obras compostas para o piano, a sua Kreisleriana. Em seguida, o mestre olha para a sua discípula.
-Sabe o que Chopin fez?... Nada, nunca retirou aquelas partituras do envelope.
Foi isso certamente o que aconteceu; com muito tempo dedicado a dar aulas por necessidade de dinheiro, Chopin não podia desperdiçar o tempo que lhe restava com obras alheias, tinha de criar as suas.
Victor Hugo se referiu a um romance de Balzac, afirmando que dele se poderia elaborar outros livros e o considerou um gênio. Não havia necessidade de ler os 88 romances que o escritor criou para chegar a essa conclusão.  Victor Hugo, com toda certeza, leu uma ou outra obra de Balzac, se não, ficaria não digo sem a elasticidade da mente, mas sem tempo para realizar o seu monumental trabalho tanto na prosa quanto na poesia.

Quando os homens de grande reputação estão errados, a pior tática para alguém é estar certo.”
Assim escreveu o economista canadense John Kenneth Galbraith quando aludiu a oposição de Keynes às políticas impostas pelos mandantes. Um deles foi Winston Churchill que, quando Chanceler do Erário Público, impôs uma política para a libra esterlina que Keynes previu como uma bobagem desastrosa para o Reino Unido e o tempo mostrou que ele estava 100% correto na sua previsão.
Mas Keynes demonstrava ter sido um dos homens mais inteligentes e lúcidos do século XX desde o fim da Primeira Guerra Mundial. Convocado para integrar a delegação britânica na Conferência de Paz, por ser um funcionário público promissor, aceitou.
 Eis o que escreveu John Kenneth Galbraith:
“O ambiente em Paris nos primeiros anos de 1919 era de vingança míope, indiferente às realidades econômicas e isso horrorizou Keynes, como também o horrorizariam seus colegas de delegação e os políticos. Em junho, ele renunciou e voltou para casa e, nos dois meses seguintes, compôs o maior e mais polêmico documento dos tempos modernos. Era contra a cláusula de reparação do Tratato de Versailles e, conforme ele considerou, a paz cartaginesa.”
  No seu livro “As Consequências Econômicas da Paz”, publicado antes do término do ano de 1919, Keynes investe contra os governantes que elaboraram esse tratado de paz. Sobre o presidente dos Estados Unidos, Woodrow Wilson, disse “este cego e surdo Dom Quixote”. O representante francês, Clemenceau, mereceu dele estas palavras: “Ele tinha uma ilusão – a França; e uma desilusão, a humanidade”. O primeiro ministro britânico Lloyd George recebeu as palavras mais duras, porém, ele as retirou do livro por questão de sobrevivência profissional.
Keynes anteviu os grandes males que os vencedores da Primeira Guerra Mundial cometiam.
“A Europa estaria apenas se punindo a si mesma ao exigir, ou procurar exigir, muito mais dos alemães do que estes tinham capacidade real de pagar. Um refreamento por parte dos vencedores não seria uma questão de compaixão, mas sim de interesse próprio elementar.”- escreveu Galbraith.
O tempo mostrou tragicamente o quanto Keynes estava certo. Com o tratamento dado pelos vencedores ocidentais aos países derrotados na Segunda Grande Guerra Mundial, Alemanha e Japão, foi finalmente colocado em prática o que Keynes pregara 26 anos antes.

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