---------------------------------------------------------------
O BISCOITO MOLHADO
Edição 4368 Data: 22 de
fevereiro de 2014
----------------------------------------------------------------------
FRASES E COMENTÁRIOS
“Caráter é aquilo que você é quando ninguém está
olhando.”
Esta frase é de Epicuro, filósofo do período
helenístico, que viveu de 341 a.C. a 270 a.C. Ela me remete ao que acontece na
política brasileira.
O caso da votação para cassar o mandato parlamentar do
deputado federal por Rondônia, Natan Donadon, se enquadra perfeitamente na
frase do filósofo grego que viveu há mais de 200 anos antes de Cristo.
Quando a votação na Câmara foi secreta, sem que o
eleitor soubesse quem estava votando a favor ou contra, o parlamentar,
condenado a mais de 13 anos de prisão pelo Supremo Tribunal Federal, escapou,
pois não se chegou aos 257 votos necessários para a sua cassação. Seis meses
depois, o mesmo plenário se reuniu com o mesmo motivo, mas, agora, com uma
diferença fundamental: a votação era aberta, cada deputado declararia o seu
voto. Resultado: dos 468 votantes, 467 decidiram que o condenado deveria perder
o seu mandato, enquanto só 1 se absteve.
A mudança do voto fechado para aberto foi o
atendimento a uma das exigências das centenas de milhares de cidadãos que foram
às ruas protestar contra os descalabros dos nossos governantes. Conheciam o
caráter do político brasileiro e o que ele faz quando ninguém está olhando.
“A burocracia é a força gigantesca colocada em ação por
tolos.”
Balzac investiu com toda razão contra a burocracia,
mas, no que concerne aos burocratas, parece-nos que não usou a palavra exata.
Eles não são tolos e, em muitos casos, embolsam um dinheirão com o excesso de
papéis. Quanto ao fato de a burocracia ser uma força gigantesca, não resta a
menor dúvida.
No século seguinte, outro grande escritor, Franz
Kafka, denunciou a burocracia com textos mais persuasivos.
Tcheco de língua alemã, Kafka se destacou entre tantas
outras coisas, como o literato que expôs a poderosa e quase invisível máquina
de moer seres humanos, a burocracia, que, ao longo do século XX, passou a
controlar insidiosamente as sociedades ocidentais e orientais.
No Brasil, houve uma pífia reação quando, em 1979, foi
criado o Ministério da Burocratização, uma secretaria do poder executivo
federal do Brasil, que contou com Hélio Beltrão como ministro. Ele ficou de
1979 a 1983, no cargo, antecedendo João Geraldo Piquet Carneiro e Paulo
Lustosa.
O ministério durou menos de 7 anos, foi de 18 de julho
de 1979 a 14 de fevereiro de 1986.
Pelo menos, não passou em brancas nuvens, pois na sua
duração foram criados o Juizado das Pequenas Causas e o Estatuto da Pequena
Empresa.
“O excesso de leitura priva a mente de toda a
elasticidade, assim como a contínua pressão de um peso afrouxa uma mola.”
A frase acima do filósofo alemão Schopenhauer
demonstra, na nossa visão, a sua contrariedade com aqueles que se encharcam de
obras alheias prejudicando a sua, ou até mesmo incapacitando o leitor voraz de
elaborar uma.
O filósofo Kant cunhou um pensamento, quase um século
antes, que vai ao encontro do que diria Schopenhauer:
“Não devemos ler escritos sobre a matéria acerca da
qual estamos refletindo, do contrário atamos o gênio”.
O que serve para as letras também serve para as notas
musicais.
O Beatle Paul McCartney disse que, pelo fato de não
possuir a fabulosa cultura musical do maestro e também compositor Leonard
Bernstein, não corria o risco de pensar que era da sua autoria um trecho
melódico que estava nos escaninhos da sua memória.
Assisti, certa vez, a um programa do canal português
RTP em que um professor ensinava a uma aluna a música de Chopin, não na
proximidade do piano, mas caminhando, como se usasse o método de ensino de
Aristóteles.
Em dado momento, ele alude ao fato de o grande
compositor Robert Schumann ter enviado a Chopin, dentro de um envelope, as
partituras de uma das maiores obras compostas para o piano, a sua Kreisleriana.
Em seguida, o mestre olha para a sua discípula.
-Sabe o que Chopin fez?... Nada, nunca retirou aquelas
partituras do envelope.
Foi isso certamente o que aconteceu; com muito tempo
dedicado a dar aulas por necessidade de dinheiro, Chopin não podia desperdiçar
o tempo que lhe restava com obras alheias, tinha de criar as suas.
Victor Hugo se referiu a um romance de Balzac,
afirmando que dele se poderia elaborar outros livros e o considerou um gênio.
Não havia necessidade de ler os 88 romances que o escritor criou para chegar a
essa conclusão. Victor Hugo, com toda
certeza, leu uma ou outra obra de Balzac, se não, ficaria não digo sem a
elasticidade da mente, mas sem tempo para realizar o seu monumental trabalho
tanto na prosa quanto na poesia.
“Quando os homens de grande reputação estão
errados, a pior tática para alguém é estar certo.”
Assim escreveu o economista canadense John Kenneth
Galbraith quando aludiu a oposição de Keynes às políticas impostas pelos
mandantes. Um deles foi Winston Churchill que, quando Chanceler do Erário
Público, impôs uma política para a libra esterlina que Keynes previu como uma
bobagem desastrosa para o Reino Unido e o tempo mostrou que ele estava 100%
correto na sua previsão.
Mas Keynes demonstrava ter sido um dos homens mais
inteligentes e lúcidos do século XX desde o fim da Primeira Guerra Mundial.
Convocado para integrar a delegação britânica na Conferência de Paz, por ser um
funcionário público promissor, aceitou.
Eis o que
escreveu John Kenneth Galbraith:
“O ambiente em Paris nos primeiros anos de 1919 era de
vingança míope, indiferente às realidades econômicas e isso horrorizou Keynes,
como também o horrorizariam seus colegas de delegação e os políticos. Em junho,
ele renunciou e voltou para casa e, nos dois meses seguintes, compôs o maior e
mais polêmico documento dos tempos modernos. Era contra a cláusula de reparação
do Tratato de Versailles e, conforme ele considerou, a paz cartaginesa.”
No seu livro
“As Consequências Econômicas da Paz”, publicado antes do término do ano de
1919, Keynes investe contra os governantes que elaboraram esse tratado de paz.
Sobre o presidente dos Estados Unidos, Woodrow Wilson, disse “este cego e surdo
Dom Quixote”. O representante francês, Clemenceau, mereceu dele estas palavras:
“Ele tinha uma ilusão – a França; e uma desilusão, a humanidade”. O primeiro
ministro britânico Lloyd George recebeu as palavras mais duras, porém, ele as
retirou do livro por questão de sobrevivência profissional.
Keynes anteviu os grandes males que os vencedores da
Primeira Guerra Mundial cometiam.
“A Europa estaria apenas se punindo a si mesma ao
exigir, ou procurar exigir, muito mais dos alemães do que estes tinham
capacidade real de pagar. Um refreamento por parte dos vencedores não seria uma
questão de compaixão, mas sim de interesse próprio elementar.”- escreveu
Galbraith.
O tempo mostrou tragicamente o quanto Keynes estava
certo. Com o tratamento dado pelos vencedores ocidentais aos países derrotados
na Segunda Grande Guerra Mundial, Alemanha e Japão, foi finalmente colocado em
prática o que Keynes pregara 26 anos antes.
Nenhum comentário:
Postar um comentário