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O BISCOITO MOLHADO
Edição 4359 Data: 06 de fevereiro de
2014
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NAVEGANDO NA INTERNET
Os internautas mais orgulhosos da
escola em que estudaram, pelo que vejo na internet, foram os cinquentões e
sessentões, principalmente, que frequentaram o Colégio Pedro II. Não só pela
excelência do ensino, mas pelos bons tempos que desfrutaram lá, sem deixar, no
entanto, o livro de lado, se não, seriam reprovados.
Mesmo na época em que estávamos longe
de o Bill Gates popularizar o computador, e ainda mais distantes do surgimento
do facebook, a passagem pelo Colégio Pedro II não se apagava da memória de um
ex-aluno, mesmo no final da sua vida.
Mário Lago, num depoimento, se não me engano, no Museu da Imagem do Som,
perto dos 70 anos de idade, ou mais velho ainda, foi mais além, falou do pedido
de desculpas ao seu antigo professor do
Pedro II, o filólogo Antenor Nascentes, por ter escrito na popularíssima
marchinha Aurora “veja só que bom que era”, em vez de “veja só que bom seria”.
Segundo Mário Lago, Antenor Nascentes o tranquilizou, afirmando que os dois
“que” deram uma sonoridade mais acentuada à sua frase do que se ele tivesse
respeitado às regras gramaticais.
E pelo Pedro II passaram Antenor
Nascentes, Aurélio Buarque de Holanda, Clóvis Monteiro, Barão do Rio Branco,
Euclides da Cunha, Manuel Bandeira, etc. Em tempos já distantes, o concurso da
cátedra do Colégio Pedro II era disputado pelos mais renomados nomes da
intelectualidade brasileira.
A instituição foi inaugurada em 1837,
na regência de Araújo Lima, e recebeu o nome do imperador, então, com 12 anos
de idade. O ensino era nos moldes franceses e Dom Pedro II, já adulto, fazia
questão de vez ou outra supervisionar a educação dos alunos, que, na realidade,
pertenciam às classes mais abastadas.
Não estudei no Pedro II e sim no
Colégio Visconde de Cairu, que era estadual, mas como os melhores mestres
obtinham duas matrículas para ensinar, a federal e a estadual, a grande maioria
dos meus professores também ministrava aulas no Pedro II.
Com a Constituição de 1988, o Colégio Pedro II correu
o risco de deixar de ser federal, o que o levaria à vala comum (o ensino
municipal e estadual já decaíra dramaticamente depois dos anos 70). Constituintes
que foram ex-alunos dessa instituição, como Afonso Arinos e Ronaldo César
Coelho, brigaram pela sua escola e a salvaram; ela permaneceu federal. Ainda
bem.
Continuando nas águas da internet, topo
com a correção dos provérbios, realizada não com o objetivo educativo, mas
humorístico. O provérbio “Quem tem boca vai a Roma” foi transformado numa piada
que, confesso, não me lembro qual. Recordo-me de o meu pai que, quando me via perder
uma oportunidade porque emudeci, bradar: “Quem tem boca vai a Roma.”
Agora, em que os brocardos passam por
uma revisão, há quem afirme que o certo seria “Quem tem boca vaia Roma”.
Atribuíram essa “correção” ao Pasquale Cipro Neto, que já afirmou
contundentemente que nada tem a ver com isso.
Os estudiosos rebateram essa vaia,
escarafunchando o português de priscas eras, encontrando a seguinte variante:
“Quem língua tem, a Roma vai e vem.” E ainda argumentam com o idioma espanhol,
em que se diz “Preguntando se va a Roma”, e com o francês: “Qui langue a, à Roma va.”
Se na terra de Asterix e Obelix se cita a frase acima,
é o caso de perguntar quem foi que inventou essa história de vaia a Roma?
Pasquale Cipro Neto – repetimos - garante que não foi ele.
E postaram no facebook o retrato do
presidente Ronald Reagan com uma frase a ele atribuída: “Acredito que o melhor
programa social é um emprego.” Em seguida, eu o multipliquei para que os meus
amigos virtuais também o lessem. Ao compartilhá-lo, pensava no julgamento equivocado
que os esquerdistas fazem dos conservadores - e Ronald Reagan foi um deles, dos
mais destacados - afirmando que são insensíveis aos tormentos das classes de
baixa renda.
Pelo mesmo motivo, outro que causava
repugnância aos “progressistas” era o Roberto Campos que, mais de uma vez,
afirmou que o social impregnava o seu pensamento econômico, não sendo
necessário alardear isso como os esquerdistas. E até escreveu um artigo que
intitulou “Liberalismo e Pobreza” do qual extraímos os parágrafos que se seguem:
-“Os liberais não têm indiferença em
relação à pobreza. Eles têm desconfiança em relação ao Estado. Enquanto os
socialistas gostam de falar nas imperfeições do mercado, os liberais têm medo
das imperfeições do governo”.
-“Por que, no Brasil, a persistência do
chavão sobre a “insensibilidade social dos liberais”? A razão talvez seja que
os liberais consideram disfuncionais ou ineficientes alguns dos métodos mais
populares do Estado assistencialista, como o salário mínimo fixado por decreto,
a compulsoriedade da Previdência estatal e a gratuidade do ensino universitário”.
Depois de discorrer nos parágrafos
seguintes sobre cada um desses métodos, conclui:
-“Socialistas e liberais querem a
abolição da pobreza. Diferem nos métodos. Como nenhum país socialista até hoje
enriqueceu e vários capitalistas o fizeram, o balanço da História é favorável à
economia de mercado. E esta não é senão
o liberalismo aplicado no domínio econômico, da mesma forma que a democracia é
o liberalismo aplicado ao terreno político.”
Voltando à frase do Ronald Reagan sobre
o desemprego, um meu amigo virtual, desses que nos aparecem na internet saídos
não se sabe de onde e que, pelos comentários políticos que dele tenho lido, não
deixa dúvida que é petista roxo, deixou uma observação nessa minha postagem.
Percebia-se nitidamente que ele acreditava piamente nas estatísticas que
indicam um desemprego no Brasil de pouco mais de 4%, e, acrescentava que nosso
país estava no rumo do desenvolvimento.
Não gosto de contrariar os amigos do
Dieckmann – parece-me que ele é colecionador de carros antigos – mas tive de
retrucar seu comentário com esta pergunta:
-”Como se chama mesmo aquela personagem de um clássico
da literatura infanto-juvenil que acreditava em tudo, seria capaz até de crer
nas profecias do ministro Guido Mantega?... Ah, sim: Pollyana”.
E foi muito bem lembrado este
pensamento do anarquista russo, Bakunin:
-”Assim, sob qualquer ângulo que se
esteja situado para considerar essa questão, chega-se ao mesmo resultado
execrável: o governo da imensa maioria das massas populares se faz por uma
minoria privilegiada. Essa minoria, porém, dizem os marxistas, compor-se-á de
operários. Sim, com certeza, de antigos operários, mas que, tão logo se tornem
governantes ou representantes do povo, cessarão de ser operários e pôr-se-ão a
observar o mundo proletário de cima do Estado; não mais representarão o povo,
mas a si mesmos e suas pretensões de governá-lo. Quem duvida disso não conhece
a natureza humana.”
Bakunin viveu de 1814 a 1876, a sua
previsão vem até hoje, transcorridos mais de 100 anos, confirmando-se. Bakunin, como líder anarquista, atuou no meio
das massas populares, lidando no dia a dia com as pessoas. Marx, por outro
lado, vivia encerrado na Biblioteca de Londres, principalmente, estudando e
formulando suas ideias, como se estivesse numa redoma, distante das pessoas;
quando atravessava problemas financeiros para sustentar a família, o seu amigo
Engels, filho de um rico industrial de Barmen (Alemanha) o socorria.
Resumindo, mais às voltas com os livros
do que com os indivíduos, Marx não se apurou muito no conhecimento da natureza
humana.
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