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O BISCOITO MOLHADO
Edição 5059 Data: 04 de
março de 2015
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CARTAS DOS LEITORES
-Lendo sobre os seus cachorros,
lembrei-me muito bem de todos, principalmente do Silveira. Luca
BM: Sim, Luca, nós lhe pedimos ajuda para enterrá-lo. Do
lado do corpo do Silveira, eu fiquei abismado com o número de pulgas que
saltavam fora dele; elas sentiram logo que o sangue esfriou. Foi quando você
apareceu, chamado pelo meu pai, com um saco de plástico cheio de cubos de gelo
sobre uma das vistas – a dor de cabeça o torturava. Era a época em que você se
identificava com o poema “Num monumento à aspirina”, de João Cabral de Melo
Neto, outro sofredor crônico de dores de cabeça, embora, ao que me parece, você
procurasse outros remédios como, no caso, o frio excessivo para mitigá-las.
Mesmo combalido, você saiu a campo com meu pai para
tratar do féretro do nosso último cachorro de estimação. Juntou-se a vocês o
meu irmão Claudio, que logo recorreu ao Pernambuco, um amigo dele que morava
num casarão com várias pessoas, na Rua Itamaracá, onde havia um trecho de terra
razoável. E, numa cova “de bom tamanho nem largo nem fundo” - retornando ao
poeta – descansou o nosso inesquecível Silveira.
-No programa Rádio Memória do dia dos
450 anos da cidade do Rio de Janeiro, o Biscoito Molhado não aludiu ao projeto
do Jonas Vieira, meu inimigo de infância. Simon Khoury.
BM: Jonas Vieira é admirável, não se envolve com o
modernoso, mantendo-se fiel aos seus amigos dos bons tempos, lutando denodadamente
para que as suas memórias não se apaguem. Também é, na medida do possível, pois
os obstáculos são terríveis para quem não tem Lei Rouanet, um animador
cultural.
Ele está, agora, com um projeto,
idealizado no ano passado e que a FIRJAN aprovou, de contar a história do Rio
de Janeiro, sobretudo a história musical, nos seus 450 anos. O projeto se chamará
“Rio: Cidade da Alegria” e será encerrado com as criações mais significativas
sobre ela, como “Alegria”, de Assis Valente, “Cidade Brinquedo”, de Silvino
Neto e Plínio Bretas e “Cidade Mulher”, de Noel Rosa. Será ressaltado o fato de
o Rio de Janeiro, no Brasil, ter sido o berço da indústria, do comércio, da
arte musical e da literatura, onde surgiu o primeiro teatro, as primeiras ruas,
as primeiras grandes empresas.
A concretização dessa ideia está agendada para o mês
de junho, e o Jonas Vieira convida a todos os ouvintes do Rádio Memória, mesmo
os que não acordam antes das 8 da manhã, no domingo, a comparecerem.
-A edição do Biscoito Molhado sobre o
nosso programa, meu e do Jonas Vieira, em que foi celebrada a valsa, o redator
citou uma ária da ópera “O Trovador”, de Verdi, mas não registrou o seu nome. Sérgio
Fortes.
BM: Trata-se da ária do segundo ato da cigana Azucena
“Stride la vampa” (Queima a fogueira). É
a dramaticidade que não se perde, pelo contrário, se acentua no ritmo da valsa,
feito só obtido por um gênio como Giuseppe Verdi.
No programa a que o Sérgio Fortes
alude, só ouvimos o ritmo da valsa como a celebração da alegria, mas nem sempre
foi assim. Sibelius compôs “Valsa Triste”. O segundo movimento da Sinfonia nº
6, de Tchaikovsky, alegro con grazia, é uma valsa, que alguns musicólogos
dizem retratar a agitação psicológica do compositor, com 5 tempos por compasso,
não convencionais, 2+3 seguido de 3+2.
Outros afirmam que se trata de uma valsa fantasmagórica. O 3º movimento da sua
Quinta Sinfonia é também uma valsa, porém com luminosidade.
Em resumo: nem todas as valsas são a celebração da
vida.
-Você sabe qual é o dia do meu
aniversário? Rosa Grieco
BM: O Dieckmann declara que decorar data de aniversário é coisa de
mulher. Mesmo que tivesse razão, eu colocaria a minha virilidade em risco para
dizer: 4 de março é o dia do aniversário da Rosa.
Por outro lado, Sérgio Fortes, como o
Homem-Calendário do Rádio Memória, bradaria altissonante: “No dia 4 de março de
1461, o rei Henrique VI é deposto pelo seu primo, que se torna o rei Eduardo
IV.” Tudo bem Shakespeariano, como você gosta e desentendimento na família, que
você tão bem conhece.
Nos nascimentos, ele citaria o do
Tancredo Neves, em 1910 e o seu, sem citar o ano, porque o Sérgio Fortes é um
homem gentil, apesar das controvérsias que o Dieckmann levanta.
Parabéns, Rosa, e muitos livros de vida.
-Apesar de o Simon Khoury ter aparecido
no Rádio Memória com um CD do Henry Mancini justamente no dia dos 450 anos da
cidade do Rio de Janeiro, eu consegui celebrar a efeméride. E o Biscoito
Molhado? Jonas Vieira
BM: Meu caro Jonas, eu sei que você, ao contrário do seu xará bíblico,
não foge das missões a que o designaram.
Confesso que, nos 450 anos da cidade,
eu ocupei mais o meu tempo com as reminiscências do Rio de Janeiro 50 anos mais
novo, embora fosse um adolescente na época.
Só se falava no Rio Quatrocentão. Havia
uma música que dizia “Rio que ficou quatrocentão”, que logo o meu pai parodiou
para “Rio que ficou quase sem pão”. Houve “Rio Quatrocentão” do Jackson do
Pandeiro, que você deve conhecer profundamente, como estudioso da música
popular brasileira, enquanto eu conheci agora, pesquisando na internet.
Recordo-me do logotipo, que eram dois
quatros em cima e dois embaixo virados de cabeça para baixo, o desenho de
quatro quatros designando o quarto centenário. Tal logotipo se via em todo
lugar até nos sorvetes. Por que fui lembrar justamente o sorvete? Porque minha
tia, a irmã mais velha da minha mãe, resolveu competir no concurso de fantasias
do Teatro Municipal, na categoria originalidade, homenageando o aniversário da
nossa cidade. Então, nós todos, chegados a ela, fomos recrutados para pegar no
chão tudo que era caixinha de sorvete, parecíamos os catadores de latinhas de
hoje.
Depois, minha tia recortava o logotipo
com a tesoura, precisa como uma cirurgiã e, quanto havia uma quantidade
espantosa de recortes, ela os costurava num tecido. Havia um chapéu, não me
recordo bem dele, sei apenas que não tinha aba, era do formato de uma torre com
vários logotipos, é evidente, pregados nele.
Fantasiada, não entrava em carro algum;
foi alugado um pequeno caminhão e ela foi de São Cristóvão ao Teatro Municipal,
na parte em que é alocada a carga, de pé, atenta para não cair numa freada
brusca.
Mesmo não sendo classificada entre os cinco primeiros,
no concurso, achou que valeu a pena. Eu discordei: perdi muitas horas pelas
ruas catando caixinhas de sorvete.
Por que no seu minidicionário biográfico,
no vocábulo “Pizza”, você não citou o Gagau? Dieckmann
BM: Omissão minha imperdoável. Quando provei a pizza feita pelos seus
filhos, Gagau e Fred, no aniversário de uma colega de trabalho nossa, na sua
casa, em 2003, senti o sabor da minha primeira pizza, aquela de meados dos anos
60.
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