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O BISCOITO MOLHADO
Edição 5067 Data: 17 de
março de 2015
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A DUPLA DINÂMICA DE VOLTA
PARTE II
Encerrado o calendário do dia 15 de
março, Jonas Vieira anunciou uma homenagem à Portela e ao Monarco, seu amigo
querido, “um dos cobrões da Velha Guarda”. Os dois apresentadores, antes da
primeira gravação, revelaram que a Portela era a sua paixão e que, no desfile
deste ano, a águia só faltou falar, porque voar ela voou. Concordaram que foi
injustiçada pelos jurados e fizeram menção a um ressentimento por ela ter
ganhado tantos títulos, embora o Jonas Vieira reconhecesse que o presidente da
escola, Natal, em anos pretéritos, “pegou pesado”.
Foi anunciado o samba “Quantas
Lágrimas”, de Manacéa da Velha Guarda da Portela, que logo passamos a ouvir.
Monarco chegou com uma gravação de
atraso, sendo louvado pelo seu bom estado físico, embora octogenário. Sérgio
Fortes se apresentou a ele (já não se conheciam?) como “Sérgio Fortes, defensor
dos fortes e dos opressores”.
-Melhor do que defensor dos frascos e
dos comprimidos. - deveria ter pensado o Dieckmann, no seu Jaguar, rumo ao
Posto 5 de Copacabana com a Branca.
Renovados os louvores ao desfile da
Portela com a presença do ilustre convidado, Jonas Vieira anunciou a segunda
gravação: “Poeta Apaixonado”, de Monarco e Mário Lago.
Da música para a conversação.
-Monarco, há quanto tempo você está na
Portela?
Ele respondeu que desde 1947, quando
veio de Nova Iguaçu com 13 para 14 anos ressaltando que, na época, a escola foi
campeã por sete vezes consecutivas.
-Trabalhei na ABI, o doutor Moses
(Herbert Moses) me mandou embora; depois me arrumou um emprego com o Vicente
Lima no “Lux Jornal” (ele era fundador e irmão de Alberto Lima, diretor por
mais de 30 anos desse jornal).
-Aquele que trazia recortes de jornais?
- quis saber o Sérgio Fortes.
Depois de confirmar, Monarco voltou ao
seu tempo de ABI, e falou do jornalista Paulo Magalhães que o chamava de Ademar
de Barros por causa da sonoridade com o seu nome verdadeiro: Ildemar.
-O doutor Moses dizia: “Esse menino me
deixou de cabelos brancos.”
Narrou, em seguida, da colaboração que deu
às cãs do presidente da ABI.
-Eu peguei uma toalha e uma vassoura, e
o Tupi, uma lata. Tupi era um escurinho, Tupinambá, trabalhava como engraxate.
Havia uma barbearia, na ABI que está lá até hoje, e uma cadeira de engraxate.
Tupi engraxou muitas vezes as botas do Villa Lobos. Não tinha ninguém, as salas
de estar só abriam às 2 horas, e nós fizemos a nossa farra. Abriu a porta do
elevador silenciosamente, ela só fazia barulho quando fechava, e apareceu o
doutor Moses com o presidente dos Estados Unidos, o Truman; ele mostrava as
dependências da ABI.
-Rapaz! - espantaram-se o Jonas Vieira
e o Sérgio Fortes.
Enquanto o Monarco evoluía de toalha e
vassoura, seu amigo de estripulias gaguejava:
-O doutor Moses... Eu olhei, e ele
estava com uma cara amarrada.- alongou bem as vogais de “amarrada” para nos dar
uma ideia da indignação do seu chefe.
- Quinze dias depois, fui chamado e me
mandaram embora. O Paulo Guimarães preocupado comigo: “O que a gente faz com o
Ademar de Barros?...”
Deram um jeito, e o Ademar de Barros,
no caso, o Monarco, foi levado para o “Lux Jornal”, periódico que se destacava
pelos “clippings”, como se diz no jornalismo americano.
Empolgado, Jonas Vieira interveio.
-Essa história me lembra de uma que o
César de Alencar me contou. Ele começou na Rádio Nacional num programa noturno.
Como fazia muito calor, e não havia ninguém, ele ficou pelado. Quem aparece?...
Renato Murce, o diretor, com uma trupe. No dia seguinte, quando reclamaram
dele, o César disse: “não me avisaram antes; até que eu estava meio vestido”.
Depois desses causos, chegou a vez da
música, e ouvimos “Levanta Cedo”, de mestre Rufino com Monarco e a Velha Guarda
da Portela.
-Trabalho extraordinário do Paulinho da
Viola. - salientou o Jonas Vieira.
Faltava uma história do Sérgio Fortes e
ele não nos decepcionou. Aludiu à época em que as partidas do campeonato
carioca eram disputadas nos estádios dos clubes participantes, em 1964,
precisamente.
-O Fluminense jogava contra o
Madureira, na Rua Álvares Chaves, fez 1 a 0, mas o Madureira empatou. Havia uma
dupla de área que infernizou a defesa do Fluminense, Batata e Peixe Galo; nunca
vou me esquecer desses dois. Quem estava na tribuna de honra?... Natal.
-Natal era Fluminense. - acrescentou o
Monarco.
-Ele, na tribuna de honra, de pé,
parecia um lord inglês. Era uma figura impressionante.
Entrou mais uma gravação, “Tristonha
Saudade”, de Monarco, cantando em duo com a botafoguense Beth Carvalho.
Depois da crônica do Fernando Milfont,
na locução do José Maurício, Jonas Vieira disse para o Monarco que o conhecia
desde os velhos carnavais.
-Eu tenho um jornal lá em casa,
guardado, “A Notícia”, em que você escreveu “Monarco, a cadência bonita do
samba”.
-Exatamente.
-Havia “O Dia” e “A Notícia”. -
rememorou o sambista.
-Eu não sabia quem era, mas havia um
crítico importante de música clássica em “A Notícia”. - interveio o Sérgio
Fortes. Era um belo jornal.
-Eu trabalhei em muitos jornais, um
deles foi “A Notícia”, e lá, eu fiz muita matéria com o pessoal da música.
-Sei... sei... sei... - intervinha o
Sérgio Fortes na fala do seu parceiro.
-O primeiro trabalho do João Nogueira
fui eu que promovi. Outro trabalho que fiz, o da Elza Soares com o Garrincha,
quando ela morava num casarão na Lagoa; entre outras figuras.
Foi interrompido pelo Sérgio:
-Jonas, “A Notícia” tinha capa
colorida?
-Não me lembro mais.
-Tinha um jornal colorido...
-A “Última Hora”. - afirmou o Monarco.
-Tinha um jornal que era verde e
claro... - insistiu o Sérgio Fortes em explorar a experiência jornalística
daqueles dois veteranos.
-O verde e claro não era “A Notícia”. -
disse o Jonas.
-”A Notícia” era normal e vespertino. -
acrescentou o Monarco.
-”O Dia” de manhã, e “A Notícia”, a
tarde; ambos do Chagas Freitas. Ele comprou os dois jornais: “O Dia” para
explorar a criminalidade.
E prosseguiu o titular do Rádio
Memória:
-O
crime, naquela época... eram mais de quinze jornais e os principais , o Globo,
o Diário de Notícias, o Correio da Manhã não davam uma nota de criminalidade na
primeira página; hoje, o Globo estampa o que há de pior da criminalidade.
Naquela época, o Dia era considerado o jornal de sangue.
Sérgio Fortes interrompeu a digressão
do Jonas Vieira para citar a “Luta Democrática” do Tenório Cavalcante.
-O pessoal dizia: se espremer sai
sangue.
Monarco fez a intervenção acima e
continuou com as reminiscências.
-Havia um jornalzinho que eu gostava “A
Gazeta de Notícias”, ficava na Rua Teófilo Otoni. Eu levava correspondência
para lá quando trabalhava na ABI, depois das 2 horas da tarde. Na portaria,
eles me davam a Gazeta de Notícias.
E seguiu adiante:
- Tinha ”O Jornal”, tinha “A
Democracia” na Rua do Lavradio. Tudo acabou. Tinha um jornal comunista que
ficava na Rua Silva Jardim. Eu cheguei lá, uma vez, e o pau estava comendo; a
polícia estava lá.
Aludiu à frase do Barão de Itararé
“Entre sem bater” colocada na portaria do “Diário do Povo” quando ele foi
sequestrado e agredido por oficiais da Marinha por causa da publicação, em
fascículos, da história do marinheiro João Cândido. Monarco citou o jornalista
Pedro Motta Lima, que trabalhou com o Barão de Itararé, houve apartes e uma
pequena confusão se formou:
-Eu estou falando da Tribuna da Imprensa.
- disse o Jonas.
-Eu me refiro à Tribuna Popular do
Pedro Motta Lima. - esclareceu o compositor.
-A Tribuna da Imprensa era do Carlos
Lacerda.
-O Dia não foi do Ademar de Barros? -
indagou o Sérgio.
-O Dia e a Notícia eram dele, o Chagas
Freitas comprou os dois jornais. - disse o Jonas Vieira.
-O controle mudou e ficou proibido para
menores de 18 anos. - não perdeu a piada o Sérgio Fortes.
Os três relacionaram os nomes de todos
os jornais que lhes vinham à mente, até o Jonas Vieira concluir:
-O mercado de trabalho era imenso.
Um adendo do Biscoito Molhado: o mercado
de trabalho era imenso, mas a vida do jornalista era dura. O meu pai trabalhou
no Informador, na Vanguarda, no Diário de Notícias, entre outras publicações, e
eu me lembro dos constantes atrasos de salário, de pagamentos através de vales
e até de recebimento de aparelhos elétricos em vez de dinheiro. Mas o Jonas
Vieira aludiu aos seus colegas que tinham de trabalhar num jornal de dia e em
outro de noite (Será que ele conheceu o meu pai?)
Monarco se manifestou porque lhe saiu
da memória mais um jornal:
-Diário Carioca do Danton Jobim.
-O Stanislaw Ponte Preta começou lá. -
informou o Jonas.
Sérgio Fortes citou o Jornal dos
Sports, a sua cor de rosa e seu proprietário, Mário Filho, irmão do Nélson
Rodrigues.
Jonas Vieira contou mais um causo,
agora relacionado a um jornalista que trabalhava, ao mesmo tempo, num jornal e
na revista “O Cruzeiro”. O meu pai, aliás, falava de um colega seu que
trabalhava tanto que diziam que, ao pegar o bonde para casa, ele fazia o
trabalho do trocador.
-Essas coisas dos jornais são
extraordinárias. - afirmou, saudoso, o Jonas Vieira com a concordância de
todos.
Após a lembrança de ter trabalhado com
o Sérgio Cabral no Diário da Noite, voltou para a música e anunciou a Velha
Guarda da Portela cantando, de Heitor dos Prazeres e João da Gente, “A Tristeza
me persegue”.
Monarco fez referência à voz de João da
Gente, que ele prescindia de microfone para cantar, e da grande admiração do
Carlola, que compareceu ao seu enterro, pelo cantor.
Seguiram-se “Estação Primaveril”, de
Monarco e Quininho, com a participação da Marisa Monte; “Passado de Glória”,
samba do Monarco sobre a Portela, na voz de Jair do Cavaquinho.
O Rádio Memória se encerrou
musicalmente com o primeiro samba composto por Monarco “Crioulinho Sabu” , que
o deixa orgulhoso do filho, que elaborou o arranjo com vozes infantis.
Um demorado abraço.
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