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O BISCOITO MOLHADO
Edição 4381 Data: 12 de março de 2014
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SABADOIDO PÓS-CARNAVAL
2ª PARTE
-Luca, como a Rosa me dá um livro com
mais de mil páginas?!...
-Só de notações são mais de duzentas
páginas, ou seja, outro livro. - observou o Claudio.
Luca esboçou um sorriso e defendeu a
Rosa.
-Ela presenteou com a melhor das
intenções.
-E ainda enviou um recado para a Gina em
que dizia que, pelo menos, aquele “tijolaço” poderia servir de calço de porta,-
lembrei.
-Não fale em “tijolaço” que eu me lembro
dos direitos de resposta do Brizola contra as Organizações Globo. - interveio
com gestos histriônicos meu irmão, que ainda se considera brizolista.
Nesse momento, Daniel apareceu na sessão
do Sabadoido com a sua transbordante
alegria.
-Luca, eu te vi, endiabrado, desfilando
no Bola Preta.
-Quem gosta de sambar no Bola Preta é a
minha Carolina.
-Você estava endiabrado, encapetado!
-Garoto, não folga comigo... - entrou o
Luca no espírito de gozação.
-Eu quero distância desses blocos;
centenas de pessoas se esbarrando e não se ouvindo nada da banda.
-E mijando nas ruas. - acrescentou a
Gina as suas palavras às do Claudio.
-Se eu saio em um desses blocos, ficaria
falido de tanto pagar multas, pois urino de vinte em vinte minutos.
Dizendo essas palavras, levantei-me da
cadeira para ir ao banheiro.
-Como diz a Rosa Grieco, eu inundo.
Momentaneamente esvaziado, retornei.
Daniel falava.
-Não é que o livro seja grosso, Luca,
mas a Gininha quando sobe nele, de um metro e sessenta ela passa a um metro e
oitenta, e fica mais alta do que eu.
Claudio interferiu:
-Acredito que a Rosa lidera alguma
revolução feminista, pois com o tempo que a Gina levará lendo esse livro, não
vai poder cozinhar, ensaboar os talheres e lavar as minhas cuecas.
-Claudiomiro, eu queria ser machão como você.
- vibrou o Luca, atuando também no teatro em que, por várias vezes, o Sabadoido
se transforma, afinal, somos todos atores.
-Até parece que ele manda aqui. - reagiu
a Gina com um gesto de desdém dirigido ao marido.
-Daniel, você não saiu em bloco
algum?... Nem na Banda do Sargento Pìmenta?...
-Luca, eu gosto dos Beatles sem essas
intimidades carnavalescas.
-Disse bem, garoto. - aprovou.
-Falando disso, vou tocar teclado. - fez
menção de ir para o seu quarto.
-Toque samba, sim. - pediu o Claudio com
um timbre que pretendia autoritário.
-Não mais falando disso, fico aqui,
-Vocês leram o caderno Prosa do Globo de
hoje?
À minha pergunta, o Luca respondeu que
ainda não, e o Claudio que passou a vista ligeiramente, pois teve de sair.
-Trata da biografia que o Rodrigo
Alzuguir elaborou sobre o Wilson Baptista.
-Falando em biografia, como ficou essa
pendenga de autorizada, não autorizada, sobre a qual não se fala mais depois de
tanto estardalhaço?
Temi que o assunto se desgarrasse, mas
uma resposta sucinta - “Ainda vai a julgamento.” - me ajudou.
-Um programa inteiro do Rádio Memória
foi dedicado a Wilson Baptista com a presença do seu biógrafo.
-Qual o nome dele?
-Rodrigo Alzuguir; se o Sérgio Fortes
não enviasse antes, por e-mail, o nome todo dele, eu faria uma salada no
Biscoito Molhado em que tentei reproduzir esse programa.
-Wilson Baptista não é o compositor
de...
E trauteou o Luca, erguendo-se da
cadeira:
-”Etelvina, acertei no milhar, ganhei
500 contos. Não vou mais trabalhar. Eu vou mudar seu nome pra Madame Pompadour”.
-Você leva jeito, Luca. - comentou o
Daniel sarcasticamente, vendo-o dançar com os trejeitos do Moreira da Silva.
-Ele polemizou com o Noel Rosa. - bradou
meu irmão.
-Nada de polêmicas aqui.- advertiu a
Gina, pilheriando com as discussões travadas entre o Claudio e o Luca.
Então, o Daniel convergiu todas as
atenções:
-Respirem fundo, levantando a barriga...
assim... Agora, expirem baixando a barriga... assim... E meditem. Dessa
maneira, vocês controlam as emoções fortes.
E concluiu:
-Carlão me ensinou isso para que eu
ignorasse os motoristas barbeiros.
Interrompi a brincadeira do meu
sobrinho, elevando um pouco o tom da voz.
-Nesse caderno Prosa, esmiúça-se essa polêmica musical. No Rádio Memória, não
havia tempo para se tratar de tudo da vida do Wilson Baptista.
-Dessa polêmica, saíram do Noel Rosa
“Palpite Infeliz” e “Feitiço da Vila”, enquanto o Wilson Baptista fez samba
chamando o Noel Rosa de Frankenstein. - lembrou meu irmão com a expressão
séria.
-Vou tocar teclado. - decidiu-se, enfim,
o Daniel, fazendo o caminho que, há minutos, sua mãe fizera.
-Nessa reportagem, fiquei sabendo que o
Noel Rosa contava com 23 anos de idade, e o Wilson Baptista, com 20.
-Ele era três anos mais novo que o Noel?
- abismou-se o Luca.
-E foi muito bom também. Eu gosto muito
daquele samba que fala do lenço no pescoço. - disse meu irmão.
-Eu gravei toda polêmica através do You
Tube, uns quatro meses atrás. - informei.
-O sucesso do Wilson Baptista começou
nessa polêmica. - frisou o Claudio.
-Nessa reportagem, que recomendo a
leitura, comenta-se que, apesar de ele ter sido projetado por esse duelo
musical, ficou a remissão, a expiação da figura do Wilson Baptista ao mito Noel
Rosa.
-Só o fato de o Noel Rosa ter dado tanta
atenção a um compositor de 20 anos de idade, já prova, cabalmente, o valor que
ele tinha. - concluiu o Luca.
-Vou pegar a bebida. - disse o Claudio
já de pé.
-Claudiomiro, traga o meu copo com
bastante gelo.
-Vou trazer com um gelo de afundar o
Titanic.
Luca virou-se para pegar na mesa o
envelope que trouxe com cartas da Rosa e com recortes de jornal e passou tudo
às minhas mãos.
-Não dá para imaginar a Rosa, na solidão
da sua surdez, nessa época em que todos somem. - penalizou-se.
-E, para culminar, o aniversário dela
caiu na terça-feira de carnaval. -
lembrei.
-Escreva um BM sobre isso. - sugeriu.
-E o Gordo de tênis de mesa, viajou?
-Ele e os outros ficaram aqui. Tenho
jogado tênis todos os dias.
Depois, reclamou:
-Há uma garotada lá que me chama de decano.
- indignou-se.
-Dê a sua resposta, vencendo as
partidas, Luca.
Nesse instante, o Claudio retornou com
dois copos de caipiroska.
-Como é o nome do livro sobre o Wilson
Baptista? - perguntou-me, enquanto passava um copo para o seu amigo.
-”Wilson Baptista, o samba foi sua
glória”; e tem quase 600 páginas.
-Certamente, eu o ganharei de presente. -
disse o Luca, confiante.
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