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O BISCOITO MOLHADO
Edição 4379 Data: 10 de março de 2014
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NAS ÁGUAS DA INTERNET
Navegando pela internet, vejo que
postaram uma imagem de um Oscar de Hollywood e, ao lado, as palavras: “Oscar da
pessoa mais iludida do ano”. Como não identificaram o ganhador da estatueta, eu
manifestei o meu voto num petista honesto.
Há onze anos no poder, tantos são os
descalabros cometidos pelos integrantes do PT, que muitos partidários já
expressaram sua desaprovação, como o poeta Ferreira Gullar, o jurista Hélio
Bicudo, o compositor Lobão e muitos outros, celebridades ou não. Esses são os
inteligentes.
Existem, porém, petistas inteligentes
(mais ainda, espertos), que não expressam descontentamento algum; alguns deles,
identificados pelo Millor Fernandes, transformaram, como ele disse, a ideologia
em investimento.
Jorge Amado, no seu livro “Navegação de
Cabotagem”, se reporta ao surgimento de um metalúrgico barbudo, nos anos 70,
que surgia como líder político. Escreveu que sua mulher, Zélia Gatai, se
empolgou com o seu discurso, enquanto ele logo percebeu que se tratava de mais
um tratante – não usou esse adjetivo tão contundente, assinale-se - diplomaticamente
discordou da esposa. Jorge Amado estava, nessa época, escarmentado, iludira-se
com o comunismo soviético, até livro escreveu enaltecendo o seu mais destacado
representante no Brasil. Não cairia noutra.
Vejo petistas que presumo honestos,
capazes de, no máximo, furtar uma medalha como o querido Papa Francisco, que
creem nos benefícios que serão trazidos para o Brasil com governantes do PT.
Eles me lembram daquele personagem do Nélson Rodrigues, traído inúmeras vezes
pela mulher que não se preocupava com a discrição, interpelado pela mãe: “Você
é cego ou sem-vergonha”?
O petista honesto é cego. Merece o Oscar.
“Quando a política entra no recinto dos
tribunais, a justiça se retira por alguma porta.”
Essa sentença foi colocada no “facebook”
com o nome do seu autor, François Guizot. Trata-se de um estadista e
historiador francês que viveu de 1787 a 1874. Na sua extensa vida, adquiriu
extraordinária bagagem política e intelectual.
Dos livros que escreveu, destaca-se
“Histoire de la revolution d' Angleterre”.
Não resta a menor dúvida que sua frase
foi lembrada devido ao fato de o governo colocar dois ministros no Supremo
Tribunal Federal, que rezam pela sua cartilha, para beneficiar os réus do seu
partido que respondem por corrupção e formação de quadrilha, no caso que ficou popularmente
conhecido como mensalão.
São inúmeros os governantes que procuram
indicar ministros para a Corte Suprema que estejam afinados com suas
ideias, Franklin Delano Roosevelt é o
mais proeminente exemplo. Na sua pretensão de implementar programas sociais que
mitigassem as consequências da Grande Depressão, esbarrou, algumas vezes, na
Suprema Corte. Teve, quando chegou a oportunidade, de designar juízes com
pareceres que estavam em harmonia com os seus.
Mas o caso da Ação Penal 470, o mensalão, é extremamente
oposto ao ocorrido no governo Roosevelt, por envolver corrupção e a frase de
François Guizot, ditas no século XIX, se tornou, no Brasil, de uma atualidade
assustadora.
Paulo Francis definiu a velhice como um
naufrágio. Essa definição saltou da minha memória quando, ao navegar pela
internet, topei com fotos da Brigitte Bardot com mais de 60 anos de idade.
Sem a ostentação de outras colegas
atrizes do seu tempo, que devem despender milhares de dólares para afastar as
rugas, ela se mostra como está. O sol das praias que tanto adorava e a atraía,
contribuiu, com certeza, para ressecar a sua pele e abrir a porta para a
chegada prematura da sua velhice.
Já revelei aqui, neste periódico, que
Brigitte Bardot foi a primeira mulher, na acepção da palavra, que vi nua. Fui
ao cinema assistir a um filme, cujo nome se apagou definitivamente da minha
retentiva, quando, no trailer de “E Deus criou a mulher”, surgiu a atriz
deitada no chão exibindo a sua exuberante beleza. Foi um delírio no Cine Cachambi.
Os velhinhos que conseguiram sobreviver a essa visão, que também nos fez
delirar: ela, nua, envolta no lençol, abrindo-o para receber o amante; embora
pouco mostrasse do seu corpo, incendiou ainda mais nossa imaginação.
Consegui assistir a todos os filmes que
entraram em cartaz no cinema do bairro durante a minha fase de cinéfilo
infanto-juvenil, mas essa fita, por mais que tentasse, não consegui ver.
-É rigorosamente proibido para menores
de 18 anos. - advertiam-me na porta de entrada.
Passaram os anos, e a nudez se tornou
comum nas telas. “E Deus criou a mulher”, filme de 1956, e outros filmes
europeus obtiveram tamanha receita com cenas ousadas, que o americano, sempre
visando o lucro, sepultou o pudico e restritivo Código Hays e despiu suas atrizes.
Brigitte
Bardot nua diante dos meus olhos de garoto, no entanto, não saiu da minha
memória, embora eu julgasse até agora que ela estivesse envolta numa toalha de
banho, não em um lençol. Faço essa revelação porque revi o filme pela vez
primeira ontem, depois de evitá-lo durante tantos. Eu não queria que se
desfizesse o impacto das duas cenas que se mantiveram dentro de mim.
A leitura recente do livro do Roger
Vadim sobre as três das mais cobiçadas estrelas com que se casou, animou-me a
ficar defronte a telinha da televisão enquanto se desenrolava a película.
-Ele não escreve mal, deve ter,
portanto, algum talento de roteirista e diretor. - deduzi.
Tinha sim, algum talento (como se
precisasse depois das três mulheres com que se casou), apesar de não ter
realizado um clássico. Trata-se de um filme em que reina absoluta a Brigitte
Bardot, o que mais tarde seria feito com Marilyn Monroe; a grande diferença
consistia em a atriz americana ser infinitamente mais talentosa do que a
francesa, tanto na arte cômica quanto na dramática.
Não, as cenas de nudez não ficaram em
segundo plano agora que as vejo com olhos de adulto, não. Brigitte Bardot, como
Marylin Monroe possuía uma beleza, uma plasticidade sem paralelo.
Roger Vadim expõe o quanto pode em “E
Deus criou a mulher” a sua esposa; ela é mostrada física e espiritualmente ao
espectador. Brigitte Bardot adorava os animais, saberíamos mais tarde e lá está
ela, vivendo a sua personagem, afagando cães, gatos e cuidado de um coelho a
que batizou de Sócrates.
Nessa filmagem, ela estava com 22 anos
de idade, mas seu marido já vislumbrava o seu temperamento volúvel e,
mostrando-se bom observador, sua personalidade perturbada – anos mais tarde,
ela tentaria o suicídio algumas vezes.
Com o transcorrer do tempo, a sua voluptuosidade
arrefeceu, e ela hoje, com 80 anos, ladeada de animais, sossegou e vive em paz.
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