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O BISCOITO MOLHADO
Edição 4888 Data: 17 de junho de 2014
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DEPOIS QUE A BANDA PASSOU NO RÁDIO MEMÓRIA
PARTE II
Elogiando o Fogueira Três, Hamleto Stamato enfatizou que encontraria na Rússia o maior calor dos últimos 100 anos. Teria essa quentura relação como o trio que estava com ele?...
-Levamos gorro, cachecol, luvas e o calor era de 30º.
Quem leu “Ressurreição”, de Leon Tolstói, deve lembrar a sua descrição da marcha dos prisioneiros pelas ruas sob um sol inclemente para os russos.
E para não deixar a resposta ao Simon Khoury incompleta afirmou que tocar com Hermeto Pascoal não tem preço.
-Seu pai era saxofonista.
-Meu pai faleceu muito novo, com 33 anos de idade, de aneurisma. Eu estava com 8 anos.
E logo entrou no ar uma das mais inspiradas criações do Hermeto Pascoal, desfazendo recordações tristes.
Soada a última nota, o músico, atendendo a uma curiosidade do Simon Khoury e dos demais, esclareceu como foi realizada a gravação com o consagrado, internacionalmente falando, Hermeto Pascoal. Depois, discorreu sobre a formação do seu trio, que tem Ney Conceição no baixo e Wilson Meireles na bateria. Apresentavam-se eles no exterior e em estúdio até lançarem, em 2003, o primeiro CD, “Speed Samba Jazz”; no ano seguinte, veio o “Speed Samba Jazz nº2”, que contém a faixa do compositor acima citado, “Chorinho pra ele”. O CD “Speed Samba Jazz nº 3” foi editado em 2005, quando o trio se apresentava no espaço carioca: Modern Sound, Mistura Fina e Drink Café. E vieram mais CDs em 2008 e 2011.
-Hamleto, a sua formação de pianista não foi, obviamente simples, não?- indagou-lhe, às avessas, o Sérgio Fortes.
-Desde criança, comecei a tocar piano, parei com o falecimento de meu pai.
Acrescentou que os estudos foram retomados na adolescência, que fez faculdade de música, formando-se como bacharel em piano, mas que se aprimorou ainda mais com professores particulares.
-Você é paulista?- nesse instante, era a curiosidade do Jonas Vieira que aflorava.
-Sou paulista de Bebedouro, mas já moro no Rio há 30 anos.
Tentara tocar instrumentos de sopro como o pai, saxofonista e flautista, mas sentia tonturas e escolheu, então, o piano, que lhe era mais simples, bastava sentar e tocar.
Simon Khoury, juntamente com o Sérgio Fortes, lhe perguntou quais os pianistas brasileiros da sua admiração, e ele citou vários, pontificando Luís Eça.
-E os estrangeiros?- quis saber o Sérgio Fortes.
Também foram muitos os relacionados, sendo os mais conhecidos os jazzistas Bill Evans e Oscar Peterson.
-É o que você ouve em casa?
-Sim. - satisfez a curiosidade do Sérgio.
-Qual o elogio mais gostoso que você recebeu de um deles (seus ídolos)?
-Parabéns. Vá em frente. É isso aí.
Nada com os floreios retóricos de um político, porém, ditos com sinceridade.
Agora, Jonas Vieira se impunha como comentarista das ocorrências atuais para lastimar que o brasileiro se interesse tanto por futebol e pouco pela governança deste país.
E concluiu com uma fúria de Zola, como dizia o tricolor Nélson Rodrigues:
-Dois fanatismos que atrasam o país: futebol e religião.
Aberta essa brecha, falou-se do jogo Brasil e Croácia, se houve ou não pênalti no Fred, até que entrou a “Pausa para Meditação”, crônica do Fernando Milfond.
Na volta, o titular do programa Rádio Memória abriu um espaço para falar da “morte de um gênio”, Max Nunes. E lamentou que o Globo tenha dedicado muitas poucas palavras ao seu obituário.
-Ele, que merecia uma página ou mais! - bradou com justa indignação.
Sérgio Fortes estava também desapontado:
-Alguém que se dedicou por mais de 30 anos ao sistema Globo merecia muito mais. É revoltante!”
Com trechos do livro do inspirado humorista, “Uma Pulga na Camisola”, lido pelo Jonas Vieira, o clima de descontração se sobrepôs a tudo.
-”O sujeito era tão azarado que, se quisesse achar uma agulha no palheiro, bastava sentar. - foi uma das frases do livro citada.
O convidado até esqueceu a sua música para contar uma anedota. E o Sérgio Fortes trouxe de volta aquele que foi um dos maiores mestres do humor para tratar da amizade dele com seu pai, o grande barítono Paulo Fortes. Falou que, num concurso de canto para crianças, Max Nunes ficou com a primeira colocação e seu pai, na segunda.
-Paulo, já naquele tempo havia marmelada. - dizia-que quando o atendia como cardiologista.
Mas a música pedia passagem.
-Voltemos para o nosso Hamleto. - disse o Jonas.
-Está na agulha. - informou o Simon Khoury.
-Vamos lá.
Mas não foi ainda porque o Simon Khoury anunciou a música, “Manhã de Carnaval” e acrescentou:
-Ouçam o arranjo maravilhoso que ele fez.
O som do trompete, nesse arranjo, pairou sobre todos os instrumen-tos.
-Quem é esse trompetista?
-É o Paulinho Trompete, que participou do nosso primeiro CD.
-Que solo! - não continha o seu deslumbramento o Jonas Vieira.
-Por que ninguém toca mais música instrumental? É o que mais sai, o que mais se faz? - manifestou-se o Simon Khoury.
-Porque a mídia só dá espaço para o lixo. Os talentosos vão para fora do Brasil.- declarou o Jonas Vieira.
-Não é que esteja fora de moda, está fora da mídia. - diagnosticou o Hamleto Stamato.
E a palavra foi de novo para o Simon Khoury:
-Pesquisas mostram que 50% das pessoas não escutam rádio, em que só se toca porcaria. Se tocassem, jazz, choro, bossa-nova, musica instrumental, enfim, desses 50%, voltariam a ouvir rádio uns 20%.
-Tem-se de mudar a mentalidade do país. - não ficou na avaliação epidérmica o Jonas Vieira.
-Da relação das 20 músicas mais tocadas no Brasil, eu não conheço nenhuma. - revelou o Simon Khoury.
-A minha ambição era que houvesse, nas emissoras, programas no molde dos nossos.- declarou o Sérgio Fortes, como bom discípulo do Arthur da Távola que, como secretário das culturas, reformulou a Rádio Roquette Pinto.
Jonas Vieira confessou que quase tudo que conhece, musicalmente, deve ao rádio. E citou o programa “Canções da Primavera”, que ouvia desde os 10 anos de idade.
Nós, do Rádio Memória, até lamentamos o fato de não poder pôr, no currículum vitae, na parte da escolaridade, a Rádio Ministério da Educação e Cultura.
Sérgio fez menção à “Lira do Xopotó”, programa da Rádio Nacional apresentado pelo Paulo Roberto antes de o Simon Khory trazer o Hamleto Stamato de volta ao centro das atenções:
-Qual o maior número de pessoas que se reuniu para ouvir a sua música?
Hamleto Stamato aludiu, então, a temporada que realizou com o seu trio, em 2011, por 15 países da Europa, e indicou a Letônia, onde havia umas 3 mil pessoas inclusive o presidente da República no teatro.
Jonas Vieira investiu de novo contra a ignorância musical de hoje, no Brasil, afirmando que as pessoas nada sabem do passado, dos grandes compositores, com exceção de Ary Barroso, Noel Rosa e outros poucos. E imaginou que, se falarem Hamleto, vão pensar que é um zagueiro do Olaria.
-Especializado em ovos. - aduziu o Simon Khoury fazendo trocadilho com o seu nome.
-Ele me falou de um lugar que me emocionou muito, Riga, que é cheia de castelos. - aditou o Simon.
-Teatro lá com 3 mil pessoas... É maior do que o nosso Teatro Municipal. - impressionou-se o filho do barítono Paulo Fortes.
-E agora?
Não foi o convidado do programa que respondeu, mas quem o trouxe até lá, o nosso Steve McQueen:
Eu sugiro Jorge bem, “Mas que nada”, na visão da “fera”.
A última música a ser anunciada (não foi a última a ser ouvida) foi “Na Lapa”, da autoria da “fera”, que integra o CD “Speed Samba 4”. Antes, Hermeto Stamato observou o pedido do titular do Rádio Memória, arrolando os lugares em que seus discos e DVD podem ser adquiridos (Toca do Vinicius, Livraria Saraiva, I Tunes, além do Amazon) e deixou seu site de relacionamento, www.deliramusica.com.br
Com “The Look of Love”, de Burt Bacharach, numa leitura criativa, encerrou-se mais um ótimo Rádio Memória.
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