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terça-feira, 17 de junho de 2014

2633 - O gato na Roquette


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O BISCOITO MOLHADO
Edição 4883                                 Data:  07  de  junho de 2014
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SABADOIDO GRIPAL

-E os morcegos que davam voos rasantes sobre a plateia no recital da Sara Chang no Teatro Municipal...
E mandei a pergunta:
-Você leu no jornal?
-Carlinhos, no Brasil da Copa do Mundo, todos protestam, e os morcegos também foram protestar porque existe o “Voo do Besouro”, na música clássica, e não o “Voo do Morcego”.
-Sim, Claudio, mas há a opereta “O Morcego”, de Johann Strauss, filho.
Em seguida, recuei no tempo.
-Na Eco 92, a Sara Chang tocou seu violino com o Arthur Moreira Lima ao piano. Uma colega minha de trabalho disse, na ocasião, que ela tocava tão bem que devia ser anã.
-Grande tricolor o Arthur Moreira Lima!... Ele gravou o hino do Fluminense dizendo, antes, que o dedicava ao Ademir, ao Castilho e ao Didi. - extasiou-se.
-Assisti, falando em Didi, a um documentário com entrevistas, na maior parte, feitas com seus parentes, principalmente, a filha.
E prosseguiu:
-A esposa dele, Guiomar, foi uma das mulheres mais belas do rádio, e despertou paixões até no Ary Barroso, e ...
-Ele se inspirou nela em uma das suas canções, mas não me lembro agora o nome. - interrompeu-me.
-Guiomar era tão ciumenta que até nos faz lembrar certa pessoa...
-A filha contou uns três casos em que ela fazia marcação cerrada sobre o Didi para impedir que as mulheres se aproximassem dele.
-Uma vez, o Garrincha pediu para ficar com a prostituta dele, seriam duas, porque o Didi recusou a ida a um prostíbulo, quando o chefe da delegação liberou os jogadores do escrete. - lembrou meu irmão esse caso narrado numa crônica pelo Sandro Moreira.
-A filha do Didi conta que, quando comunicou à mãe a morte do Didi, ela acabou naquele momento; só viveria mais 22 dias.
-Com a Giulieta Masina foi também assim: ela morreu poucas semanas depois do Fellini. - aduziu meu irmão.
-Há uma fotografia, Claudio, que eu desconhecia: mostra o Didi e outros jogadores de gatinhos, no campo de General Severiano, procurando a aliança que ele perdeu no treino.
-Ele já estava, efetivamente, dominado pela Guiomar. - concluiu.
-A filha disse que ai dele se aparecesse em casa sem a aliança.
-E o bolão? - era o Daniel que adentrava a cozinha sem pedir passagem.
-Daniel, apresentei, lá no meu trabalho, o bolão no programa que você elaborou, uma metade já preencheu, outra metade, não.
E critiquei acerbamente:
 -Essa metade que ainda não se manifestou, portam-se como se fossem consultar o Oráculo de Delfos. Pedem tempo para refletir. Refletir para quê?
-É assim mesmo. - reagiu com tranquilidade.
-Eu disse a eles que será o bolão mais transparente já feito, que todos poderão conhecer os jogos de todos, pelo seu computador pessoal, com a contagem dos pontos.
-Quando fiz esse programa no computador, eu estava endiabrado. - imitou o Luca.
-Mas, para que haja essa transparência, todos têm de mostrar seus palpites com certa antecedência para que os acertos de rumo no software sejam realizados a tempo.
-Se recorreram ao copiar e colar placares, já mexem com um link, e eu terei de acertar. - salientou.
-Lá, no meu trabalho, eu tenho enchido a sua jabulani, a sua brazuca.
-Tem enchido a minha bola. - sorriu de satisfação.
-Tenho, mas eles têm de fazer as suas partes.
Mudou de assunto sem sair do futebol.
-Eu me encontrei com o Luca...
-Ele me disse no domingo passado.
-Ia mostrar a ele aquele gravação do jogo do Brasil, mas me lembrei a tempo que ele é PT, então, guardei meu celular.
-Poxa, Daniel, o Luca não tem dessas frescuras. Deveria mostrar.
A entrada da Gina nos levou a outro tema.
-Ontem, tomei essa vacina contra a gripe. - disse-lhe.
-Lá, na Souza Cruz, eles nos submetiam a tudo quanto era vacina. Não parei de tossir quando me vacinaram contra a gripe; fui, então, ao atendimento médico e me deram outra injeção que doeu pra burro.
-Sim, Gina, parece que pode haver reação nas vias respiratórias.
E aludi à gafe do ministro da Casa Civil, Aluísio Mercadante, que justificou, o atraso do presidente a um evento, com um mal estar provocado pela vacina.
-E é do governo a campanha para que todos sejam espetados contra a gripe.- disse meu irmão, quieto há alguns minutos, porque lia o Globo, que fora entregue com atraso.
-O José, marido da Solange, quase morreu com essa vacina. Ele diz pra nunca mais.
-Essa campanha do governo é, na realidade, um fracasso. Como muitos idosos se recusam a tomar essa vacina, eles passaram a vacinar pessoas com todas as idades para não sobrar vacina. - seguiram-se as palavras do Claudio às da Gina.
-O doutor Jerônymo aconselha à vacinação, porque a pneumonia é danada para matar os idosos.
-Eu não tomo. - concordaram os dois, enquanto o Daniel se abstinha.
-Esse suposto fracasso advém do boato, lançado no início do governo petista, que se tratava de uma injeção para exterminar os velhinhos e desonerar o INSS.
E concluí com uma pergunta incisiva:
-Recordam-se?  
-Carlinhos, depois do crime que o ministro da Previdência Social, Ricardo Berzoini, cometeu, obrigando idosos a irem dar presença de vida...
-Sim, Claudio, saiu até uma fotografia de um octogenário numa cadeira de rodas, de boca aberta, inteiramente arrasado pela passagem do tempo numa patética e medonha fila. - assinalei.
-Nada mais lógico que se imaginasse que essa vacinação para idosos era para exterminar com eles de vez. - afirmou meu irmão.
Como esse assunto não interessava meu sobrinho, ele voltou para o quarto, e, logo, soaram as notas do seu teclado.
Gina se ergueu da poltrona de alvenaria com almofadas, anunciando que sairia, e eu e Claudio restamos sós na cozinha.
-Assisti, na semana passada, ao filme “Sonhos Tropicais”, baseado num romance de Moacyr Scliar. Mostra que a desconfiança do brasileiro com vacinações, no caso a varíola, vem do início do século XX. É verdade que os revoltosos do exército usaram a vacina obrigatória como pretexto para derrubar o governo do Rodrigues Alves.
-Trata também da chegada das polacas ao Brasil.- provou meu irmão que também vira o filme.
Tínhamos de falar no Dia D.
-Você leu, Claudio, sobre o veterano da 2ª Guerra Mundial que fugiu do asilo para ir às comemorações dos 70 anos do desembarque na Normandia?
-Li, ele está com uns 90 anos de idade e ainda foge de asilo. - respondeu-me.
-Foram destemidos há 70 anos e ainda são hoje. - comentei e fui em frente:
-Falam que a entrada dos Estados Unidos na 2ª Guerra salvou a Inglaterra, mas se esqueceram de que também salvou a Rússia.
Como ele demonstrou interesse em me ouvir, prossegui:
-Um exército russo comandado pelo Marechal Zukhov foi destacado para enfrentar os japoneses no leste. Com a entrada dos americanos na guerra, esse exército pôde ser redirecionado para o oeste e, assim, foi, só parando em Berlim.
Com as saídas da Gina e do Daniel, passamos a falar da participação do Ferreira Gullar, no Rádio Memória, ele me contou histórias do poeta com o seu gato, que, devido à premência do tempo na Roquette Pinto, não foram contadas.
E assim foi.


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