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O BISCOITO MOLHADO
Edição 3969 Data: 16
de junho de 2012
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84ª VISITA À MINHA CASA
-Um gênio me visita. - disse,
embevecido, quando vi Goethe à minha frente.
-Apenas estudei muito.
-A transpiração contribui muito com a
sua genialidade, porém a sua inspiração foi maior, se é que as duas podem ser
medidas, Goethe.
-Goethe com “oe”.- frisou.
-Se os alemães se confundiam na
pronúncia do seu sobrenome, imagine eu.
-Meu nome é Johann Wolfgang von Goethe,
mas chamavam-me de Goethe.
-Você nascem em 1749, na Alemanha?
-Em Frankfurt am Main. Eu era o filho
mais velho de Johann Gaspar Goethe e Catharina Elizabeth Goethe. Meu pai era
jurista, mas vivia dos rendimentos da fortuna dela; minha mãe pertencia a uma
família abastada, Ela estava com 18 anos de idade quando eu nasci, teve outros
filhos, só eu cheguei à idade adulta.
-E como se deu o início da sua
formidável cultura?
-Fui educado inicialmente pelo meu pai,
depois, vieram os tutores bem remunerados.
Estudei francês, inglês, italiano, latim, grego, ciências religião,
desenho e equitação.
-Você também estudou música a ponto de,
anos depois, desfrutar da amizade de Beethoven, e do menino-prodígio
Mendelssohn tocar para você.
-Aprendi a tocar piano e violoncelo.
-E o aprendizado de literatura?
-Começou na minha infância com as
histórias que a minha mãe me contava e da leitura da Bíblia.
-Seu pai possuía uma biblioteca que
impressionava.
-Estava longe de dez mil livros.
-E quando você partiu para enfrentar o
mundo?
-Com 16 anos de idade, meu pai me enviou
para a Faculdade de Direito de Leipzig. Lá, mostrei pouco interesse nos estudos
jurídicos, e dediquei-me ao desenho, xilogravura e gravura em metal. Jovem e longe
de casa, frequentei os teatros e as noites de boemia. Caí doente e tive de
voltar para casa.
Parecia que a sua saúde era frágil, haja
vista que nenhum dos seus irmãos vingou, mas você era possuidor de uma grande
energia criativa e viveu 83 anos, clamando por luz, mais luz.
Retornei à casa dos meus pais para
recuperar a saúde. Enquanto isso, interessei-me por alquimia e astrologia. Em
1769, com 20 anos, publiquei minha primeira antologia, Neue Lieder e
escrevi minha primeira comédia, Die Mitschuldigen.
-E os estudos de direito?
-Não foram abandonados, retornei às
aulas, mas agora em Estrasburgo, na Alsácia. Lá, conheci Johann Gottfried
Herder, teólogo e conhecedor das artes e da literatura.
-Ele enriqueceu o seu conhecimento.
-Sim, pois me conduziu às leituras de
Homero, Shakespeare, Ossian, e ainda me colocou em contato com a volkspoesie.
-A volkspoesie?- estranhei.
-A poesia popular.
-Ah, sim.- entendi, reportando-me ao volkswagen,
o carro do povo.
-Com 20 anos de idade, ainda não nutria
paixão alguma por uma bela moça?
-Claro que sim, mantive um romance com
Friederike Brion, a quem dediquei muitos versos líricos que foram enfeixados
num pequeno volume chamado Sesenheimer Lieder.
-E os estudos jurídicos tão cobrados
pelo seu pai?
-Em 1771, obtive a licenciatura na
faculdade de direito.
-Não tinha mais motivo para ficar em
Estrasburgo?
-Retornei à minha cidade natal,
Frankfurt am Main para trabalhar num escritório de advocacia, mas minha atenção
convergia para os poemas. Escrevi, nesse mesmo ano, a peça de teatro “Geschichte
Gottfriedens von Berlichingen mit der eisernen Hand.”
-Por favor, Goethe, qual o nome dessa
peça no meu idioma?
-”O Cavaleiro da Mão de Ferro”, abreviando;
essa peça foi importante.
-Teve a importância de ser a primeira
obra do movimento Sturm und Drang, que significa Tempestade e
Ímpeto.
-Os livros escolares de literatura
ensinam que o movimento surgido nas terras de língua alemã, Sturm und Drang,
deflagraram o movimento romântico nas artes em todo o mundo.
-E o que diziam os livros escolares?
-Dizem que, no fim do século XVIII,
surgiu na Alemanha e no Reino Unido, um movimento que será uma reação à tirania
do classicismo, que foi conhecido como Romantismo. Com o romantismo, o “eu”,
como entidade autônoma, é alçado além dos estereótipos e das regras universais
classicistas. O romantismo destaca o sentimento e a aventura da
imaginação, e faz do poeta um explorador de mundos diferentes e exóticos. O
romântico opõe à razão os sentimentos, o sentir profundo e arrebatado.
-Os livros didáticos fizeram uma resenha
razoável. Mas não falaram no amor para o romantismo.
-Falaram sim; disseram que o amor, para
os românticos, tinha um papel fundamental, que o amor é como uma tormenta,
torna-se logo impossível, faz sofrer. Para os românticos, o amor é impossível.
-Realmente.
-Quando o amor o fez penar, Goethe?
-Primeiramente, devo contar que, a
pedido do meu pai, mudei-me para Wetzlar e fui trabalhar na sede da corte da
justiça imperial. Lá, conheci Charlotte Buff, uma linda moça, que se
identificava inteiramente comigo; gostava de poesia lírica e de música, cantava
no coro da igreja, numa posição de destaque. Recitei versos para ela e tocamos
piano juntos, no meio da criançada, ou seja, dos seus irmãos.
-E ela era noiva de Albert?
-Ela era noiva de Johann Christian
Kestner, que trabalhava com as leis, juntamente comigo, com a diferença que ele
nasceu para o mundo jurídico.
-Quando falei Albert, eu me referia à
ópera de Massenet que foi baseada na história desse amor.
-Charlotte vivia numa família numerosa e
o seu pai lutava com duras dificuldades financeiras para manter todos bem. O
casamento da filha com um pretendente que traria segurança financeira era uma
dádiva do céu para ele.
-E Charlotte? Creio que era impossível
que ela, sendo inteligente, resistisse à sedução de um poeta, músico,
desenhista...
-Ela gostava de mim, mas preferiu a
estabilidade da família e a manutenção da palavra dada.
-Você se desesperou com a separação?
-Escrevi um livro epistolar, “Os
Sofrimentos do Jovem Werther”, e sublimei o meu desespero com o suicídio de
Werther.
-O seu livro provocou mais suicídios do
que a mais bela mulher do mundo, é o que dizem os estudiosos.
-Havia muitas pessoas sofrendo com um
amor impossível, deveriam, como eu, escrever o seu “Werther” e superar essa
fase tenebrosa das suas vidas.
-O seu livro se tornou um sucesso em
toda a Europa e a vestimenta de Werther, descrita no livro, se tornou moda
entre os enamorados.
-Fiquei conhecido em todo canto, mas o
importante, para mim, é que o meu pai se convenceu que eu não nasci para ser
jurista.
-Depois que conheci a ópera, que muitos
tenores adoram interpretar, procurei saber tudo, ou quase tudo, sobre o
verdadeiro Werther, aquele que não se matou.
-Parti, depois desse amor contrariado,
para Weimar. - disse Goethe.
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