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O BISCOITO MOLHADO
Edição 5091 Data: 24 de abril de 2015
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RÁDIO MEMÓRIA PARA A MENINADA DO CAREQUINHA
PARTE II
Como foi registrado anteriormente, o Rádio Memória se
iniciou com uma dupla de cantores que tiraria nota 5 no programa de calouros do
Ary Barroso: Frank Sinatra e Barbra Streisand. Eles cantaram a canção de
George Gershwin, I've Got Crush On you. Veio em seguida o calendário acrescido do passamento do colecionador e
radialista Rogério Monteiro.
Agora, Jonas Vieira esclarecia por que
dissera que o programa seria palpitante: ele homenagearia o centenário de
George Savalla Gomes, o inesquecível palhaço Carequinha. Antes de o Peter
acionar as carrapetas do áudio, Jonas Vieira informou que ele veio do circo da
família Savalla, em Carangola e montou com Fred, na antiga TV Tupi, o primeiro
programa infantil da televisão brasileira.
-E o Zumbi. - acrescentou o Sérgio
Fortes.
-E o Meio-Quilo. - acrescentamos nós
que, soubemos, já na escola, que ele também poderia ser chamado de Quinhentos
Gramas.
-Carequinha morou em São Gonçalo.
-No Cachambi também, Sérgio Fortes, mas
eu, que me empolgava com ele, quando o via na televisão da minha avó, a partir
de 1956; só soube disso décadas depois.
Jonas Vieira anunciou, então, a
primeira homenagem musical:
-Carequinha canta várias cantigas de
roda com um coro infantil.
Ouvimos, em seguida, encantadoras
cantigas de ciranda entoadas, primeiramente, por ele, repetidas por crianças
bem ensaiadas, tudo permeado por uma banda, que ele, na gravação, chamava de
charanga em que, vez ou outra, se salientava um instrumento, como a flauta e a
clarineta, Carequinha não perdia a oportunidade de fazer paródias como esta:
“Hoje em dia de ciranda,
não se vê ninguém brincar,
hoje é tudo de lambreta,
pela praia a passear.”
Seguiram-se os comentários do Jonas
Vieira que expressavam o desalento a que foram relegadas as cantigas de roda,
atualmente, porém ressalvou alguns colégios que ainda as mantêm.
-Jonas, eu torço para que não exista
registrado no Youtube que eu fui
a uma festa de criança, eu também criança e o Carequinha me chamou para dar a famosa cambalhota, várias crianças
foram comigo.
Bons tempos os das cambalhotas do
Carequinha; hoje, temos as pedaladas do Guido Mantega.
Depois de o Sérgio Fortes que,
certamente, como eu, gritava para avisar que as calças do Carequinha estavam
caindo, falar do seu número acrobático, o titular do programa instou que apresentasse
a próxima música:
-Agora, Jonas, de um CD maravilhoso do
clarinetista Mário Sève e o cravista Marcelo Fagerlande, “Bach &
Pixinguinha”, vamos ouvir “Rosa”.
Logo, escutamos a criação do
Pixinguinha que, no exercício do contraponto, recebeu louvores de Villa Lobos,
e é citado, como contrapontista, em teses de doutorados de música.
-Recomendo esse CD a todo mundo, mas
como é muito bom, deve ser difícil encontrar. Tem de procurar. - acentuou o
Sérgio Fortes.
Era a vez do Jonas Vieira.
-Rádio Memória prossegue com a nossa
modesta homenagem ao Carequinha, que marcou época na televisão brasileira. Ele
era muito preocupado com as crianças, tinha paixão por elas.
-Sempre trazia uma mensagem para a
meninada, uma recomendação.
-Então,Sérgio, vamos com mais cantigas
de roda; ele e o coro infantil: “Passa, passa, gavião.”
No meio da música, mais uma paródia do
Carequinha:
-”Passa, passa um avião,
será
ele ou não?
O presidente voa assim,
assim, assado, sempre apressado.”
-Carequinha colocou um caco. -
assinalou o Jonas Vieira.
-Fez menção ao Juscelino Kubitschek. -
identificou o Sérgio Fortes
-Ele realmente viajava de avião para todo
lado.
-Era uma ponte aérea danada. -
completou o Sérgio a observação do seu parceiro.
Na escolha musical do parceiro do Jonas
Vieira, ele observou que, nas óperas, atenta-se mais para as grandes vozes, e a
beleza melódica fica em plano secundário, por isso, ele optou pela ária do
Toureador da “Carmen” em que o barítono era substituído pelo trompete.
Programa do Carequinha, TV Tupi, ária
do Toureador, não há como não vir a nossa mente às Gotinhas da Esso, mesmo que
um trompetista substitua o Assis Pacheco que, aliás, era tenor.
-Jonas, um registro: Filarmônica de
Nova York com o maestro Leonard Bernstein.
Quanto ao trompetista, ele nomeou
William Vacchiano, que fora reverenciado até por Wynton Marsalis.
Depois do intervalo em que se falou da
maçonaria, voltou-se ao homenageado.
-Vamos lá, Carequinha e a sua gangue
juvenil.
Ouvimos “Terezinha de Jesus e mais
saborosas paródias que o Jonas Vieira prefere chamar de cacos, como estas:
-”Da laranja, quero um gomo,
do limão quero um pedaço,
da morena quero um beijo,
da mulata um abraço.”
Quanta laranja madura,
eu achava pelo chão,
hoje em dias as laranjas
são todas para a exportação.”
-O que é extraordinário nisso tudo é
que são centenas de músicas, cantigas de roda criadas pelo povo, canções de uma
grande beleza. - afirmou o Jonas Vieira.
Sérgio Fortes se reportou, então, aos
disquinhos coloridos de histórias infantis com canções, e que o Braguinha teve
grande participação neles a ponto de dirigir uma gravadora.
Jonas Vieira que, como nós, escutou as
músicas do Chapeuzinho Vermelho, entre outras, confirmou a importância do
Braguinha também nessa área.
-Jonas, agora, de Carequinha a Mozart.
-Mozart, certamente, não ficaria
chateado.
-Vamos ouvir o minueto da Serenata K
375 com a Orquestra de Cordas de Budapeste.
Sérgio chamou a atenção para a
naturalidade com que Mozart compunha peças como essa, e quando o Jonas disse
que Mozart comporia até no metrô, ele concordou.
-Até no metrô de Salzburg.
Depois de considerações sobre o nosso
dia a dia, a perda de polidez no Brasil, e que o cronista Artur Dapieve a
encontrou em Bogotá, quando foi ouvir Mozart, retornou-se ao Carequinha.
“Atirei o pau no gato”. Antes, os dois apresentadores do Rádio Memória
desancaram, como toda razão, o “politicamente correto”, que censura a língua,
os costumes, e mudou a letra da prazerosa cantiga.
-Jonas, essa gente parte do pressuposto
que, se você cantar três vezes seguidas “Atirei o pau no gato”, vai ao
zoológico agredir o leão.
-Eles querem impor a vida deles a
você.- esbravejou o Jonas Vieira.
A gravação do Carequinha desanuviou o
clima, e veio mais uma paródia sua.
-Ontem eu joguei no gatotô,
mas o gatotô não deu.
Dona Chicacá deu a broncacá,
pois foi quando, pois foi quando,
ela perdeu.”
Sérgio Fortes optava agora pela
gravação de Baden Powell e Vinícius de Moraes, “Formosa”, com o conjunto “Rabo
de Lagartixa”, nomeando seus músicos: Daniela Spielman no sax-soprano,
Alexandre Gonçalves no cavaquinho, Marcelo Gonçalves no violão de 7 cordas e o
seu amigo da Orquestra Sinfônica Brasileira, Alexandre Brasil, no contrabaixo.
A parte vocal coube à Elza Soares.
Jonas Vieira trouxe de volta o
Carequinha com a petizada:
“Passaraio, passaraio,
quem me deixa eu passar,
tenho um filho pequenino,
que não posso sustentar;
tenho
um filho pequenino,
que não posso sustentar;
mas pergunte a ela
se quer trabalhar.
Eu não”. - diz uma voz adulta de
mulher.
Em seguida, vieram as pertinentes
queixas do Jonas Vieira.
-Não existem mais programas infantis.
Os palhaços, hoje, são outros.
-Os palhaços estão em horário nobre.
-É o horário da palhaçada. - completou
ele as palavras do Sérgio Fortes.
Seu companheiro retornou ao CD “Bach
& Pixinguinha” e pediu ao Peter para tocar “1 a 0” do mestre do contraponto
da canção popular.
Antes da vez do Carequinha, o titular
do programa investiu contra a violência que grassa no país, e nós aproveitamos
para atacar a erotização que a mídia propaga em proporções absurdas,
concorrendo para que até mesmo as crianças não sejam inocentes como na época do
Carequinha, saltando, lamentavelmente, fases da formação da sua personalidade.
-Vamos encerrar com “Escravos de Jó.” -
declarou o Jonas Vieira.
Entra a gravação com um pequeno
discurso do Carequinha em que exalta a Princesa Isabel, Castro Alves e José do
Patrocínio com a criançada logo depois entoando o grito de liberdade do Hino da
Independência.
-Tivemos um programa bem eclético.-
julgou o Sérgio Fortes.
-Pau no burro e um demorado abraço. -
despediu-se o Jonas Vieira.
“Tá certo, ou não tá?”
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