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sexta-feira, 24 de abril de 2015

2841 - “Tá certo, ou não tá?”


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O BISCOITO MOLHADO

Edição 5091                                    Data:  24  de abril de 2015

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RÁDIO MEMÓRIA PARA A MENINADA DO CAREQUINHA

PARTE II


   Como foi registrado anteriormente, o Rádio Memória se iniciou com uma dupla de cantores que tiraria nota 5 no programa de calouros do Ary Barroso: Frank Sinatra e Barbra Streisand. Eles cantaram a canção de George Gershwin, I've Got Crush On you. Veio em seguida o calendário acrescido do passamento do colecionador e radialista Rogério Monteiro.

Agora, Jonas Vieira esclarecia por que dissera que o programa seria palpitante: ele homenagearia o centenário de George Savalla Gomes, o inesquecível palhaço Carequinha. Antes de o Peter acionar as carrapetas do áudio, Jonas Vieira informou que ele veio do circo da família Savalla, em Carangola e montou com Fred, na antiga TV Tupi, o primeiro programa infantil da televisão brasileira.

-E o Zumbi. - acrescentou o Sérgio Fortes.

-E o Meio-Quilo. - acrescentamos nós que, soubemos, já na escola, que ele também poderia ser chamado de Quinhentos Gramas.

-Carequinha morou em São Gonçalo.

-No Cachambi também, Sérgio Fortes, mas eu, que me empolgava com ele, quando o via na televisão da minha avó, a partir de 1956; só soube disso décadas depois.

Jonas Vieira anunciou, então, a primeira homenagem musical:

-Carequinha canta várias cantigas de roda com um coro infantil.

Ouvimos, em seguida, encantadoras cantigas de ciranda entoadas, primeiramente, por ele, repetidas por crianças bem ensaiadas, tudo permeado por uma banda, que ele, na gravação, chamava de charanga em que, vez ou outra, se salientava um instrumento, como a flauta e a clarineta, Carequinha não perdia a oportunidade de fazer paródias como esta:

“Hoje em dia de ciranda,

não se vê ninguém brincar,

hoje é tudo de lambreta,

pela praia a passear.”

Seguiram-se os comentários do Jonas Vieira que expressavam o desalento a que foram relegadas as cantigas de roda, atualmente, porém ressalvou alguns colégios que ainda as mantêm.

-Jonas, eu torço para que não exista registrado no Youtube  que eu fui a uma festa de criança, eu também criança e o Carequinha me chamou para  dar a famosa cambalhota, várias crianças foram comigo.

Bons tempos os das cambalhotas do Carequinha; hoje, temos as pedaladas do Guido Mantega.

Depois de o Sérgio Fortes que, certamente, como eu, gritava para avisar que as calças do Carequinha estavam caindo, falar do seu número acrobático, o titular do programa instou que apresentasse a próxima música:

-Agora, Jonas, de um CD maravilhoso do clarinetista Mário Sève e o cravista Marcelo Fagerlande, “Bach & Pixinguinha”, vamos ouvir “Rosa”.

Logo, escutamos a criação do Pixinguinha que, no exercício do contraponto, recebeu louvores de Villa Lobos, e é citado, como contrapontista, em teses de doutorados de música.

-Recomendo esse CD a todo mundo, mas como é muito bom, deve ser difícil encontrar. Tem de procurar. - acentuou o Sérgio Fortes.

Era a vez do Jonas Vieira.

-Rádio Memória prossegue com a nossa modesta homenagem ao Carequinha, que marcou época na televisão brasileira. Ele era muito preocupado com as crianças, tinha paixão por elas.

-Sempre trazia uma mensagem para a meninada, uma recomendação.

-Então,Sérgio, vamos com mais cantigas de roda; ele e o coro infantil: “Passa, passa, gavião.”

No meio da música, mais uma paródia do Carequinha:

-”Passa, passa um avião,

 será ele ou não?

O presidente voa assim,

assim, assado, sempre apressado.”

-Carequinha colocou um caco. - assinalou o Jonas Vieira.

-Fez menção ao Juscelino Kubitschek. - identificou o Sérgio Fortes

-Ele realmente viajava de avião para todo lado.

-Era uma ponte aérea danada. - completou o Sérgio a observação do seu parceiro.

Na escolha musical do parceiro do Jonas Vieira, ele observou que, nas óperas, atenta-se mais para as grandes vozes, e a beleza melódica fica em plano secundário, por isso, ele optou pela ária do Toureador da “Carmen” em que o barítono era substituído pelo trompete.

Programa do Carequinha, TV Tupi, ária do Toureador, não há como não vir a nossa mente às Gotinhas da Esso, mesmo que um trompetista substitua o Assis Pacheco que, aliás, era tenor.

-Jonas, um registro: Filarmônica de Nova York com o maestro Leonard Bernstein.

Quanto ao trompetista, ele nomeou William Vacchiano, que fora reverenciado até por Wynton Marsalis.

Depois do intervalo em que se falou da maçonaria, voltou-se ao homenageado.

-Vamos lá, Carequinha e a sua gangue juvenil.

Ouvimos “Terezinha de Jesus e mais saborosas paródias que o Jonas Vieira prefere chamar de cacos, como estas:

-”Da laranja, quero um gomo,

do limão quero um pedaço,

da morena quero um beijo,

da mulata um abraço.”


Quanta laranja madura,

eu achava pelo chão,

hoje em dias as laranjas

são todas para a exportação.”


-O que é extraordinário nisso tudo é que são centenas de músicas, cantigas de roda criadas pelo povo, canções de uma grande beleza. - afirmou o Jonas Vieira.

Sérgio Fortes se reportou, então, aos disquinhos coloridos de histórias infantis com canções, e que o Braguinha teve grande participação neles a ponto de dirigir uma gravadora.

Jonas Vieira que, como nós, escutou as músicas do Chapeuzinho Vermelho, entre outras, confirmou a importância do Braguinha também nessa área.

-Jonas, agora, de Carequinha a Mozart.

-Mozart, certamente, não ficaria chateado.

-Vamos ouvir o minueto da Serenata K 375 com a Orquestra de Cordas de Budapeste.

Sérgio chamou a atenção para a naturalidade com que Mozart compunha peças como essa, e quando o Jonas disse que Mozart comporia até no metrô, ele concordou.

-Até no metrô de Salzburg.  

Depois de considerações sobre o nosso dia a dia, a perda de polidez no Brasil, e que o cronista Artur Dapieve a encontrou em Bogotá, quando foi ouvir Mozart, retornou-se ao Carequinha. “Atirei o pau no gato”. Antes, os dois apresentadores do Rádio Memória desancaram, como toda razão, o “politicamente correto”, que censura a língua, os costumes, e mudou a letra da prazerosa cantiga.

-Jonas, essa gente parte do pressuposto que, se você cantar três vezes seguidas “Atirei o pau no gato”, vai ao zoológico agredir o leão.

-Eles querem impor a vida deles a você.- esbravejou o Jonas Vieira.

A gravação do Carequinha desanuviou o clima, e veio mais uma paródia sua.

-Ontem eu joguei no gatotô,

mas o gatotô não deu.

Dona Chicacá deu a broncacá,

pois foi quando, pois foi quando,

ela perdeu.”

Sérgio Fortes optava agora pela gravação de Baden Powell e Vinícius de Moraes, “Formosa”, com o conjunto “Rabo de Lagartixa”, nomeando seus músicos: Daniela Spielman no sax-soprano, Alexandre Gonçalves no cavaquinho, Marcelo Gonçalves no violão de 7 cordas e o seu amigo da Orquestra Sinfônica Brasileira, Alexandre Brasil, no contrabaixo. A parte vocal coube à Elza Soares.

Jonas Vieira trouxe de volta o Carequinha com a petizada:

“Passaraio, passaraio,

quem me deixa eu passar,

tenho um filho pequenino,  

que não posso sustentar;

     

 tenho um filho pequenino,  

que não posso sustentar;

mas pergunte a ela

se quer trabalhar.

Eu não”. - diz uma voz adulta de mulher.

Em seguida, vieram as pertinentes queixas do Jonas Vieira.

-Não existem mais programas infantis. Os palhaços, hoje, são outros.

-Os palhaços estão em horário nobre.

-É o horário da palhaçada. - completou ele as palavras do Sérgio Fortes.

Seu companheiro retornou ao CD “Bach & Pixinguinha” e pediu ao Peter para tocar “1 a 0” do mestre do contraponto da canção popular.

Antes da vez do Carequinha, o titular do programa investiu contra a violência que grassa no país, e nós aproveitamos para atacar a erotização que a mídia propaga em proporções absurdas, concorrendo para que até mesmo as crianças não sejam inocentes como na época do Carequinha, saltando, lamentavelmente, fases da formação da sua personalidade.

-Vamos encerrar com “Escravos de Jó.” - declarou o Jonas Vieira.

Entra a gravação com um pequeno discurso do Carequinha em que exalta a Princesa Isabel, Castro Alves e José do Patrocínio com a criançada logo depois entoando o grito de liberdade do Hino da Independência.

-Tivemos um programa bem eclético.- julgou o Sérgio Fortes.

-Pau no burro e um demorado abraço. - despediu-se o Jonas Vieira.

“Tá certo, ou não tá?”

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