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O BISCOITO MOLHADO
Edição 5086 Data: 14 de abril de 2015
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O RÁDIO MEMÓRIA NO DIA DO HUMORISTA
PARTE II
O Rádio Memória se iniciou com uma
informação do Sérgio Fortes, não era o Peter e sim o maestro Marcus Ribas que
estava nas carrapetas. Em seguida, ele se referiu ao frenesi que Marcus Ribas provoca
em Portugal, onde é mais esperado do que o Cristiano Ronaldo e, naturalmente, do
que o Rei Dom Sebastião que, desde o século XVI, não volta das cruzadas para
salvar o seu país.
Jonas Vieira aproveitou a oportunidade
para cutucar (à distância) o Simon Khoury, que explora o Marcus Ribas, que,
atualmente, participa de uma peça de muito sucesso.
-Qual é o nome da peça?
Com o rádio nos ouvidos, nunca
escutamos a voz do Peter, mas a do Marcus Ribas, sim:
-Trezentas.
-Simon Khoury pediu três ingressos. -
alcaguetou o Jonas Vieira.
Sérgio Fortes explicou o porquê desse
pedido:
-Se a peça se chamasse Quatrocentas,
ele pediria quatro ingressos; se se chamasse Quinhentas, cinco ingressos e
assim, sucessivamente.
No país dos 30%, Simon Khoury se
contenta com 1% apenas.
Veio o calendário e, logo depois, a
primeira atração musical do dia escolhida pelo titular do programa: Nicolas de
Souza Barros executando “Confidências”, de Ernesto Nazareth.
-Jonas, que beleza! Tocar violão de
seis cordas já é difícil, sete, só aqueles expoentes, que nós sempre
ressaltamos aqui, mas oito cordas... Eu não me aventuro.
-E você, Sérgio?
-Jonas, eu vou escolher uma opereta que
é um sucesso eterno: “A Viúva Alegre”. Meu pai me contava uma história sobre as
companhias líricas que vinham, com grandes cantores, cantar no Teatro Municipal
logo depois da Segunda Grande Guerra.
Tudo muito empobrecido, mil problemas com o clima pós-guerra; mostravam
grandes óperas, grandes títulos, mas não resultava... Um belo dia, tiveram a
ideia de colocar em cartaz “A Viúva Alegre”, aí, o negócio bombou.
Depois dessa deliciosa (como diria o
Dieckmann) introdução, anunciou o dueto “Die Lustige Witwe”, com
Placido Domingo e Kathleen Battle.
Na vez do Jonas Vieira, ele retornou à
música popular brasileira e escolheu “Farrula”, de Anacleto De Medeiros, com a
pianista Fernanda Canaud e o bandolinista Joel Nascimento.
-Fernanda Canaud que já nos deu o
prazer de sua presença aqui. - acentuou o Sérgio Fortes.
Depois, ele reabriu a “Sessão Cole
Porter”, como costuma dizer todos os domingos praticamente. A canção era “I
concentrated on you”, com o grande barítono Thomas Hampson.
Jonas Vieira ficou enlevado com a
poesia e com a música.
-A letra diz que quando as coisas estão
ruins, enevoadas, parecendo que tudo está desabando, ele se concentra nela, no
sorriso dela e tudo muda. Maravilha!
-Arranjo sensacional, e Thomas Hampson
é um barítono do primeiro time.- frisou o Sérgio Fortes.
Com o Jonas Vieira informando que vinha
a “Pausa para Meditação”, do cronista Fernando Milfont, na locução do José
Maurício”, encerrava-se a primeira parte do programa Rádio Memória.
“Depois de “A História e Seus
Mistérios”, com alusões à Pedra de Roseta e aos seus hieróglifos decifrados (eu
queria ver o Champollion decifrando o dilmês), Jonas Vieira reiniciou o
programa como começou, ou seja, com Anacleto de Medeiros. Agora, com a Banda
Filarmônica do Rio de Janeiro tocando “Jubileu”.
Como o Rádio Memória não deixa ao largo
os acontecimentos mais prementes da atualidade, Jonas Vieira comentou a
discussão que agita o Brasil sobre a maioridade penal aos 16 anos de idade.
-Em outros países não tem conversa. E
como ficam as vítimas?... Você acha que tem alguém ingênuo hoje?... Essa
garotada já sabe de tudo. Há inúmeros exemplos de gente que nasceu pobre e se
tornou grandes homens (grandes mulheres, também). E há esses vagabundos que
matam e roubam. - foram algumas das palavras que pinçamos da sua indignação.
Voltando à descontração, nesse Dia do
Humorista, Sérgio Fortes se voltou para outra opereta, “O Morcego”, de Johann
Strauss II. Antes mais uma introdução sua.
-Ele só compunha valsas, então,
arranjou uma mulher nova que era cantora de ópera e se viu motivado a compor
operetas.
Strauss estava casado com a cantora
Henrietta Strauss, quando compôs, em 1874, “O Morcego”. Quatro anos depois, ela
morria e ele se casou com uma atriz bem mais jovem. Este casamento foi um
desastre para ele, porque ela, segundo a minha mãe, era uma “piranha”.
Para pronunciar o dueto que ouviríamos
com o barítono Thomas Hampson e o tenor Jerry Hadley, Sérgio Fortes fez a
confissão que treinara durante horas:
“Komm
Mit Mir Zum Souper”.
-E sobreviveu?
Depois de pegar a língua no chão e
recolocar no local exato, respondeu ao Jonas Vieira:
-Tive de colocar própolis na garganta e
fazer bochechos.
Depois do duo, Jonas Vieira trouxe de
volta os acontecimentos atuais, ao “enxugamento de gelo”, que é a discussão da
reforma política, sobrando bordoadas até para o ex-presidente Juscelino Kubitschek
que, aqui entre nós, merece.
-Juscelino Kubitschek é considerado um
grande estadista, eu não acho. Ele acabou com o parque ferroviário brasileiro
que era dos melhores, da melhor categoria, implantado pelos ingleses. Eu viajei
muito de trem. Ele construiu Brasília, onde tudo de ruim começou; não era assim
quando o Rio de Janeiro era a Capital Federal.
Sérgio Fortes interveio:
-Eu li um artigo sobre o “custo
Brasília”... O que motivou a criação de Brasília falhou, que era a
interiorização, nada disso aconteceu. Uma capital que foi inaugurada há 55 anos
em que você paga verbas para os deputados se deslocarem para lá, paga custo de
moradia...
-O povo, felizmente, está despertando.
- reagiu o Jonas Vieira com otimismo.
Com o retorno das atrações musicais,
Jonas Vieira pediu ao Marcus Ribas “Coração Que Sente”, obra-prima de Ernesto
Nazareth no violão de oito cordas de Nicolas de Souza Barros.
-Mais belo do que isso só no céu. -
vibrou.
Sérgio apresentava, agora, aquele que
ele considera o grande baixo-barítono da atualidade, Bryn Terfel. Ele interpretaria,
do musical “My Fair Lady”, “The Street Where You Leave”.
Depois dos louvores à peça escolhida e
com a proximidade do término do programa, Jonas Vieira se dirigiu ao seu
parceiro:
-Sérgio, o que aconteceu de tão grave
nessa sexta-feira?
-O falecimento da grande crítica,
estudiosa de Shakespeare, conhecedora de teatro: Bárbara Heliodora.
-Devo a ela um elogio que me deixou
orgulhoso: elogiou a parte histórica, que me tocava, de uma peça do Tuca
Andrade.
Em seguida a esse aparte, Sérgio Fortes
prosseguiu:
-Ela gostava muito de óperas e era fã
do meu pai. Estava sempre presente no Teatro Municipal. A crítica teatral, como
é feita hoje, veio de Bárbara Heliodora, que a aprofundou com análises.
Bem, a hora urgia e rugia, e Jonas
Vieira encerrou o Rádio Memória com o seu costumeiro “demorado abraço”.
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