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O BISCOITO MOLHADO
Edição 5084 Data: 11 de abril de 2015
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199ª CONVERSA COM OS TAXISTAS
Depois de um algum tempo, peguei o táxi
do Albino.
Já reproduzi, neste periódico, o apreço
que o Albino nutre pelo Paizão, pela experiência de vida a que ele chegou, aos
80 anos e que devemos, insiste o Albino, reverenciar e aproveitar. Por ela,
desentendeu-se com colegas do ponto do táxi que pretendiam passar para trás o
respeitável senhor.
Mesmo daqueles que estão ainda longe
dessa idade, o meu caso, Albino procura colher conhecimentos da experiência
acumulada e por isso, ele, que só se locomove de carro, seja o do trabalho,
seja o do lazer, quer saber tudo sobre o metrô e, sempre que me recebe no seu
táxi, na saída da estação Maria da
Graça, faz-me a pergunta:
-Como está o metrô?
-Melhorou.
-Eu imagino como era o metrô antes da
privatização... ou melhor, antes da concessão. -disse-me.
-O Consórcio Opportrans ganhou o
direito de explorar o serviço metroviário durante 20 anos. - lembrei.
-Isso foi antes do ano 2000, não foi?-
indagou.
-Sim, 1997.
-Daqui a 2 anos se encerra a
concessão.- calculou rapidamente e acrescentou:
-Certamente, será renovada.
-Quando os operadores do metrô eram os
funcionários do estado, nós, os passageiros, sofremos muito.
-Vocês faziam duas baldeações para ir
ao Centro: Maria da Graça e Estácio, não era isso?
Sem responder a sua pergunta,
exemplifiquei com um transtorno.
-Eu sou funcionário público e posso
falar de cadeira; quando havia eleições com coletas de votos de papel urna a urna,
meus colegas mexiam os pauzinhos para trabalhar na apuração.
-Por que eles teriam direito a alguns
dias de folga no trabalho. - viu logo o motivo.
-Os funcionários do estado, no caso, do
metrô, não eram diferentes. Assim, quando havia apuração de votos, várias
estações eram desativadas por causa dos muitos funcionários do metrô que
estavam de folga.
-Os passageiros do metrô que se
danassem. - criticou.
-Certa vez, a estação de Del Castilho,
onde eu saltaria, estava ativada, mas o condutor se esqueceu e passou direto,
tive de esticar meu caminho até Inhaúma.
-Mas como você disse, melhorou com a
concessão à Opportrans.
-Melhorou no que diz respeito à
expansão do metrô que, no governo do Marcelo Alencar, chegou à Pavuna e à
estação Arcoverde, em Copacabana, mas o sofrimento dos passageiros não amainou,
pelo contrário.
-Sim, agora era muito mais gente
demandando o metrô. - disse ele.
-Para você ter uma ideia, o trem do
metrô, ao chegar a uma estação, as portas se abrem para a entrada e saída dos
passageiros. O toque da sirene significa a sua partida. O que fazia
sistematicamente o condutor? Mal as portas se abriam, ele acionava a sirene,
então, os cidadãos que iriam embarcar se apavoravam e o mesmo acontecia com os
que pretendiam desembarcar. Resultado: uma balbúrdia dos diabos nas portas.
-Mas isso é tratar os passageiros como
gado humano.
-Essa comparação expressa a pura
realidade. - concordei com ele.
-Esse desrespeito ao ser humano ainda
existe?
-Não; acredito que a estação da Cidade
Nova, um tempo depois de inaugurada, foi um divisor de águas.
-Isso foi há pouco, não foi?
-A inauguração foi em 2010.
-Mas por que você disse que foi um
divisor de águas? - demonstrou curiosidade.
-No início, ninguém se entendia,
passageiros e funcionários do metrô. Todos estavam erráticos.
-Mas os funcionários do metrô têm
obrigação de se entender, ou então, devolvam a concessão ao estado. - afirmou o
Albino.
-A minha primeira viagem sem baldeação
no Estácio, com parada na Cidade Nova, aconteceu sem que soubéssemos eu, os demais
passageiros e, não duvido, o próprio condutor.
-Foi assim?
-O trem do metrô estava superlotado.
Logo depois que partiu de São Cristóvão parou e nada de sair do lugar. Eu me
achava espremido no vagão dianteiro na agonia da espera. Um sujeito perdeu a paciência
e esmurrou a lataria do trem na parte em que ficava a cabine do condutor. Nada,
nenhuma reação, permanecemos parados. Quando o trem, finalmente, saiu do lugar,
para a surpresa e alegria geral, não rumou para a estação do Estácio e sim
para a da Cidade Nova. Nada de baldeação; o caminho para o Centro e Zona Sul
ficava, para nós, mais curto.
-Tudo se acertou, então? -
manifestou-se o Albino.
-Que nada! A desinformação ainda
imperava. Muitos passageiros, vindos da zona sul ou do Centro, que pretendiam
ir à Tijuca, se viram na estação da Cidade Nova, rumo à Pavuna e tiveram de
desembarcar para pegar a composição do outro lado da plataforma e voltar para a
estação da Central do Brasil.
-Que transtorno! Não havia nenhum som
nos alto-falantes para orientar os passageiros?
-Não.
-Há uma agência, a Agetransp, para
intervir e colocar as coisas nos eixos. Ah, sim: a mulher do ex-governador era
advogada do metrô. - comentou o Albino.
-O próprio metrô se autopuniu, já que a
Agetransp era um zero à esquerda e distribuiu bilhetes gratuitamente. Mas eles
mereciam, mesmo, era uma multa de valor bem elevado.
-Depois disso tudo, o metrô melhorou,
como você disse antes, foi um divisor de águas?
-Melhorou, sim. Mas, por vias das
dúvidas, vou e volto do trabalho fora da hora da correria. Pego o metrô, às 5h
40min da manhã e antes da 4h da tarde.
-Não pensa em pegar na hora do rush?
-Um amigo meu, o Dieckmann, certa vez,
postou, através do celular, no facebook, instantâneos dele e de demais
passageiros numa composição do metrô enguiçada na hora do rush. Caramba,
a expressão de desalento do Dieckmann!...
-Postou no facebook, vêm logo os
comentários. - disse-me.
-Ah, sim. Um deles dizia: “Saia daí
logo que vão te acochar”.
-Os engraçadinhos sempre aparecem e o
facebook está cheio deles. - observou com um sorriso.
-O facebook está cheio de tudo,
principalmente de narcisos, gente que só falta fotografar o próprio umbigo e
postar para todos verem, o que não é o caso do meu amigo. Descobri até que ele
é reservado comparado com essa gente,
-Dieckmann, esse nome não me é
estranho.
-Deve ser pela locução dele, não fica
nada a dever aos locutores que há por aí, Ele já esteve em programas de rádio e
de televisão falando de carros.
-Mas viaja de metrô?... Eu não.
-Viaja, mas não sistematicamente (*)
como eu.
-Chegamos. - disse-me ele parando o seu
táxi.
(*)
Consultado, Dieckmann informou a este Distribuidor do seu O BISCOITO MOLHADO
que o redator entende muito de motorista de táxi e nada de usuários de metrô. E
confirma que usa o metrô de segunda a sábado, o que o torna usuário
sistemático.
É dura a vida
de Distribuidor.
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