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terça-feira, 9 de abril de 2013

2355 - E o Papa, hein?

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O BISCOITO MOLHADO
Edição 4155                                   Data:  23 de  Março de 2013
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CARTAS DOS LEITORES

-Li a biografia musical popular do redator deste periódico e não entendi por que lá não estão os Beatles, Led Zeppelin, Jimi Hendrix e Rolling Stones. Carlos Alberto Torres
BM: Meu caro capitão da Copa de 70, a época das guitarras elétricas não fez a minha cabeça. Nunca usei cabelos compridos nem parti para as drogas (bebi até cachaça, mas parei tudo com 15 anos de idade, antes dessa turma aparecer). Descarto, então, de saída Led Zeppelin e Jimi Hendrix, sem lhes negar o valor artístico. Gostei de algumas canções dos Rolling Stones por causa do ritmo, mas eles foram beber no jazz, gênero que foi considerado na minha biografia musical. Os três Beatles criaram belíssimas melodias, se eu tivesse de destacar algumas, seriam os 10 minutos finais do LP Abbey Road, na voz do Paul Mc Cartney;  melodias e alternâncias de ritmo admiráveis..

-”Estava convicta da eleição de um italiano e acertei “à demi”, ele é argentino como eu sou brasileira, só na Certidão de Nascimento, sangue todo importado. Os jesuítas estão bombando, Ad majorem Dei gloriam. Talvez saiba que Santo Inácio de Loyola era valente soldado quando (para rimar) ficou manquitola numa guerra. Maior inteligência, fundou essa Ordem e se fez general de altos valores. Mas cresceram tanto que decidiram lhes cortar as asas (lembre-se do Aut sint ut sunt, aut non sint do Padre  Ricci ao Papa Clemente XIV)? E  não eram muito amados, até Stendhal (no “Promenades dans Rome”) garante que o Diabo está dentro da igreja do “Gésù” (belíssima), enquanto o vento o espera na porta. O Diabo não vi, Santo Inácio está enterrado lá.”  Rosa
BM: a Rosa Grieco repercute a recente eleição do Papa Francisco, pertencente à Ordem dos Jesuítas.
A polimata remetente faz alusões ao fundador da Ordem que nós ouvimos falar desde os estudos do colégio primário. Vamos nos deter um pouco mais, antes, porém, vamos procurar o Dieckmann para que ele nos traduza as citações latinas. Pronto, sempre prestimoso, ele já nos atendeu: Ad majorem Dei gloriam - Para maior Glória de Deus) – e nos esclareceu que era o lema da Ordem dos Jesuítas: AMDJ. Quanto ao Aut sint ut sunt, aut non sint - “Que sejam como são ou deixem de existir” foram as palavras de Matteo Ricci quando propuseram alterações no estatuto da Ordem de Jesus. Esclareceu-nos o latinista deste periódico. Agora, passemos para Inácio de Loyola.
A Igreja Católica acabara de sofrer a maior crise da sua história, com o protestantismo de Lutero e Calvino, e Inácio de Loyola surgiu como o maior combatente da Contrarreforma. Ele, na juventude, seguiu a carreira militar que foi abreviada em 1521, quando tinha 30 anos de idade, em Pamplona. Lutando contra os franceses, um tiro de canhão lhe dilacerou as pernas. Convalescente, afundou-se nos livros sobre Cristo. Decidiu, então, fundar uma ordem religiosa que recebeu a aprovação canônica do Papa. Surgiram, assim, os jesuítas que tiveram Inácio de Loyola como primeiro superior-geral até a sua morte, em Roma, em 1556.
Perinde ac cadaver (não é só a Rosa que faz citações em Latim), os jesuítas tinham de ser “obedientes como um cadáver”. Combater os protestantes não era a prioridade e sim a divulgação do catolicismo pelo mundo afora.  São Francisco Xavier, por exemplo, pregou em Goa, possessão portuguesa na Índia, pregou na China e no Japão. Na colonização da América, estiveram por aqui, entre muitos, os jesuítas José de Anchieta e Manuel da Nóbrega, este o primeiro chefe da primeira missão jesuíta no Brasil. Os dois, conforme ensinam os livros escolares, fundaram, em 1554, o colégio do Planalto de Piratininga que foi a semente do surgimento da cidade de São Paulo. Para obter maior comunhão com os infiéis, exemplificando, José de Anchieta aprendeu tupi-guarani e o jesuíta Mateo Ricci, citado pela missivista, jesuíta na China, conheceu o idioma dos chineses a ponto de traduzir Confúcio, cujos pensamentos não se chocavam a seu ver com o ideário cristão. 
Eram os jesuítas contrários à escravização dos índios, como os citados, contrariando, assim, as ambições dos colonizadores portugueses. Mais tarde, surgiria no Brasil Antônio Vieira, invencível orador, de têmpera inquebrantável.
  Foi a ordem criada por Francisco de Loyola, com o correr dos anos, vítima de intrigas, como a participação em conspirações de assassinato de monarcas. O marquês de Pombal, que governava o reino lusitano, devido à tibieza do rei Dom José I, considerando a Ordem uma ameaça, expulsou, em 1759, os jesuítas de Portugal e suas colônias. Em 1764, a monarquia francesa tomou a mesma atitude e, em 1773, pressionado por todos os lados, o Papa Clemente XIV extinguiu a Companhia de Jesus.
A czarina Catarina, a Grande, ignorou a determinação do papa e acolheu os jesuítas. A companhia criada por Santo Inácio de Loyola só seria reabilitada em 1814.
Sempre vista com alguma desconfiança, dentro da igreja, fornece, pela primeira vez um papa, Jorge Mario Bergoglio.
O Papa Francisco aparece num momento em que a Igreja Católica atravessa  outra  gravíssima crise que abala  seus alicerces.

“Na visita que E.T.A. Hoffmann fez à casa do redator do Biscoito Molhado, não foi mostrada (eu compreendo o porquê) a literatura fantástica do extraordinário criador. Isso poderia ser feito agora? - Fernando Dias Ramos
BM: Tentarei com uma resenha do libreto “Os Contos de Hoffmann” da ópera de Jacques Offenbach, em que o alter ego do escritor da cidade de Königsberg é protagonista. Vamos lá.
Prólogo. Em uma cervejaria, o poeta desabafa os seus infortúnios para um grupo de estudantes e para desocupados. Vítima de um espírito maligno, não encontra o verdadeiro amor. Sempre que está próximo do seu intento, um feitiço o impede de alcançar a felicidade.
1º ato. O poeta se apaixona por uma mulher, sem saber que ela sofrera um sortilégio e, se tornou, na verdade, uma boneca, Olympia. Hoffmann, na sua história, envereda também pelo humorismo quando faz que a boneca, em alguns momentos culminantes, fique paralisada por falta de corda.
2º ato. Ele se apaixona por uma cortezã de Veneza, mas um insidioso feiticeiro, o Dr. Coppellius, a instiga a aprisionar a alma do artista num espelho.
3º ato. O poeta cai agora de amores por uma donzela cuja mãe morreu cantando. Por um artifício diabólico do Dr. Coppellius, ela terá o mesmo fim caso cante. Todas as medidas são tomadas para que ela resista à sedução de soltar a sua maviosa voz. O bruxo, evocando a imagem da sua mãe, faz com que ela entoe uma melodia e, assim, morre.
4º ato. Em todas essas situações, o seu amigo e conselheiro Nicklauss tenta lhe convencer que nada se compara ao amor pela arte. O poeta descobre, então, que Nicklauss , na verdade, era umas mulher, a musa.  Percebe, então, que o amor romântico só valoriza a mulher que está distante, a inacessível.


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