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O BISCOITO MOLHADO
Edição 4151
Data: 19 de Março de 2013
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SABADOIDO
PAPAL
Nesse sábado de meados de março. O Globo
avisou que, por problemas técnicos, os jornais dos assinantes seriam entregues
por volta do meio-dia. Meu irmão que, mesmo lendo o noticiário, conversa
comigo, ficou, por isso, mais
veemente.
-Que decepção eu tive com o Joaquim
Barbosa! Mandar o jornalista chafurdar no lixo porque é o lugar dele.
-A celebridade lhe subiu a cabeça.-
diagnosticou a Gina.
-Dores na coluna contribuem para o seu
mau gênio.- manifestei-me.
-Se todo o mundo que tivesse dores
saísse xingando os outros... - continuou
irritado.
Nesse instante, meu sobrinho adentrou a
cozinha.
-Daniel, você já recebeu o comprovante do
imposto de renda?
-Recebeu, mas deixou no trabalho. - respondeu a mãe por ele.
-Carlão, que manga é essa?... Parece uma
bola de futebol de salão. - surpreendeu-se com as frutas que eu trouxera na
sacola e colocara sobre a mesa.
-Comprei na barraca da rua Itamaracá. O
vendedor me disse que existem mangas do tamanho de uma bola de basquete.
-Mas não tem gosto de nada. - interferiu
o Claudio.
-Sei que as mangas que eu compro lá são
bem doces.
-Não são gostosas como a carlotinha, a
espada.
-Não tenho do que me queixar dessas que
compro. - devolvi.
-É coração de boi.- rotulou a Gina a
minha fruta.
-Uma vez, folheando a autobiografia do
Bill Clinton, deparei-me com uma página em que ele conta que, no Brasil, chupou
manga até se fartar.- manifestei-me.
-A mangueira não é originária do Brasil
parece que é da Índia.- interveio o Claudio.
-A jabuticabeira só dá no Brasil.
-entrou no assunto o Daniel.
-”Se só existe no Brasil e não é
jabuticaba, pode saber que é besteira.” - citei a frase.
-Quem é o autor? - quis sabe o Claudio.
-É uma daquelas frases que atribuem a
autores diferentes. - tergiversei.
-O Ferreira Gullar teve de escrever
crônicas para deixar bem claro que a frase era da sua autoria “A crase não foi
feita para humilhar ninguém”. Diziam que era do Otto Lara Rezende ou de outros
escritores. - lembrou o Claudio.
-O Luca...
-O Luca estava endiabraaaaaado. -
interrompeu-me o Daniel com seu jeito brincalhão.
Retomei o que dizia:
-O Luca se referiu, dia desses, `as
frases que são soltas sem pretensão, mas que deveriam ser registradas, como
aquela do papai sobre beber verniz.
-Seu Amaury tinha muitas. - interveio a
Gina.
-Uma vez, na TV Manchete, a Pepita
Rodriguez, que entrevistava no programa dela o presidente José Sarney, que
aniversariava, debulhou-se em lágrimas, emocionada. O Adolpho Bloch, dono da
emissora, ao ver aquilo, disse uma frase, publicada nos jornais, que nunca
esqueci: “Quem é essa louca?”
-Nunca gostei dela como atriz. -
comentou a Gina.
Claudio, voltado para mim, mudou de assunto.
-Você viu o Lindbergh Faria na votação
dos royalties do petróleo?
-Infelizmente, eu não sintonizei o Canal
Câmara nessa votação.
-Caramba, como o Lindinho é brigão! Ele
enfrentou o Renan Calheiros de igual para igual, enfureceu-se porque só lhe
deram cinco minutos de discurso quando ele tinha direito a vinte.
-Os representantes dos estados e
municípios estão com um apetite feroz pelos royalties do petróleo. - intervim.
-O Lula é o culpado de tudo isso quando
mexeu no que foi estabelecido no governo do Fernando Henrique. - indignou-se.
E prosseguiu:
-Na eleição para governador do Rio, eu prefiro o
Lindinho ao candidato do Sérgio Cabral, pois ele parte mesmo para a briga.
Mostrei-me menos entusiasmado do que meu
irmão, reportando-me ao líder dos caras pintadas do passado e, agora, amigo do
Fernando Collor.
-Ninguém presta.- resumiu a Gina todo o
seu pessimismo com os políticos.
A expressão do Claudio, no entanto, era
alegre quando ele continuou com a sua narrativa da votação:
-O Garotinho, marido da minha
governadora, a tricolor Rosinha...
Fez uma pausa para observar a minha
reação à sua piada, e foi adiante.
-Quando o Renan Calheiros deu a palavra
ao Garotinho, ele disse que estava, naquele momento, assinando a petição que
pedia a sua renúncia da presidência do Senado.
E riu com o gesto teatral do
ex-governador do Rio de Janeiro.
Agora, era eu que mudava de assunto:
-Minha quinta-feira desta semana não foi
fácil. Primeiramente, tive de fazer todo o meu imposto de renda de novo.
-Por que, Carlão? - interessou-se o
Daniel.
-Porque, na hora de emitir o DARF de
pagamento, eu tinha, por engano, marcado débito automático.
E continuei:
-Em seguida, telefonei para a OI para
cancelar o Velox 3G. Jogaram-me de um
atendente para outro, que pediam todos os meus dados e o motivo do
cancelamento. Por fim, desviaram a ligação para o que chamaram de Central de
Atendimento. Passei, então, a ouvir uma
cacofonia musical por vinte
minutos. Desliguei.
-Imagine a covardia que fazem com os
idosos. - vociferou o Claudio.
-Mas lhe deram o número do protocolo?
-Sim, Gina. Com ele, telefonei para a
ANATEL e fiz minha reclamação contra a operadora. Depois de cinco dias, tenho de telefonar para a OI de novo.
Mais tranquilo, eu irmão comentou:
-É como aquele filme: “Pague para entrar
e reze para sair”.
-É um sofrimento. - lastimou a Gina.
-De noite, eu pensei que seria
recompensado. Veio a Luciana (minha sobrinha) com o marido e a filhinha, para
acertar o meu computador. Ela colocou a Firefox como navegador,
neutralizando a tartaruga chamada Explorer,
e o Facebook ficou uma beleza. Depois, ela pôs o servidor Yahoo como
primeira página. Enquanto isso, a Maria Eduarda, nas imediações, não parava de
fazer bagunça.
-A menina não desgruda da mãe. -
comentou meu irmão.
De repente, não mais que de repente,
tudo se apagou no computador. A Maria Eduarda tinha aperado com o dedinho o
botão do no brake.
-E você ligou de novo? - interveio o
Daniel.
-Liguei, mas o anti-vírus ficou travado,
ou seja, a tela ficou congelada.
-Que zica, Carlão!
-Por pouco a fúria de Herodes não se
apossou de mim; por muito pouco mesmo.
-Calma, Carlão, o Botafogo foi campeão e
o Flamengo perdeu para o Resende. - disse o Daniel.
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