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O BISCOITO MOLHADO
Edição 4079 Data: 04 de
dezembro de 2012
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SABADOIDO DE CASABLANCA À BRASÍLIA
2ª PARTE
A conversação sobre a participação no
Sabadoido do pianista e, agora maestro, João Carlos Martins se alongou:
-Eu cheguei a assistir a um trecho dessa
entrevista. - lembrou-se o Claudio.
-Vi até o fim, mas sem me sentir bem com
aquele massacre dos entrevistadores.
Eu ouvia o Luca, enquanto saía dos
escaninhos da minha memória o que o Pasquim fizera com o compositor Ivan Lins,
mas como eu já me pronunciara a respeito com um programa televisivo, calei-me.
-Até do ensinamento que ele leva às crianças
pobres reclamaram.
Nem sei quem disse a frase acima, pois
tomei a palavra.
-Anteontem, por coincidência, topei,
casualmente, com um concerto na TV a cabo em que a maior orquestra da América
Latina, a OSESP, regida pelo John Neschling executou um choro de Villa Lobos,
que perdi, Maracatu do Chico-Rei, e também Linha de Passe de João Bosco e Aldir
Blanc, Aquarela do Brasil de Ary Barroso e outras peças da música popular
brasileira com arranjo sinfônico. O público, cheio de crianças, delirou. Assim
que eles aprendem a aprimorar o gosto musical.
-O John Neschling não saiu da orquestra
depois de uma confusão por lá?
-Não foi coisa de grande monta como aqui.
- respondi a meu irmão.
-Ele foi casado com aquela gracinha da
Lucélia Santos. - manifestou-se o Luca.
-E teve um filho com ela. - quebrou o
Lopo o seu silêncio.
-O Fischberg me enviou um vídeo com o
choro “Pedacinho do Céu” do Waldir Azevedo e vieram outros vídeos juntos...
-Porque era do youtube. -
atropelei o Luca.
-E eu descobri uma entrevista do Tom Jobim.
Disse o Tom que eles trabalhavam com 36 notas, mas veio um professor que
facilitou tudo com 12 notas... Como é a palavra?...
Voltou-se para mim:
-Você já falou muito nessa palavra...
Depois de alguns desencontros mnemônicos
entre mim e ele, disse:
-Dodecafonismo.
-Isso, Carlinhos, dodecafonismo.
-Foi criado por Arnold Schoenberg, que
era alemão...
-Ele era alemão. - voltou o Luca a se
reportar ao professor.
-Koellreuth.
-Isso mesmo, Carlinhos, Koellreuth.
Aqui um parêntese: o nome completo era
Hans Joachim Koellreuth.
-Sim, Luca, ele foi professor dessa
turma: Tom Jobim, Caetano Veloso...
Não citei o Tomzé porque considerei
outro aspecto mais relevante e o disse:
-O Claudio conheceu muito bem o
Koellreuth.
Todos se voltaram para o Claudio, que
ficou com a palavra.
-Ele quis validar no Brasil um casamento
dele com uma judia na Alemanha nazista e procurou nosso escritório de
advocacia. Não podia, mas ele insistiu tanto que o caso parou no Supremo.
Evidentemente que perdeu. Teve de se casar de novo com ela aqui, no Brasil.
E concluiu:
-E como ele era ruim de pagar...
-Nessa entrevista, o Tom Jobim disse que
aprendeu muito com ele, não só o Tom, como diversos artistas brasileiros que
frequentaram as suas aulas.
Esses compositores brasileiros não
seguiram o dodecafonismo de Alban Berg, Weber e do seu criador, é claro, o já
citado Arnold Schoenberg, adaptaram-no à música popular brasileira. Uma ópera
composta por Arrigo Barnabé há poucos anos, “O Homem dos Crocodilos”, é
considerada dodecafônica, nós, porém, ainda não ouvimos um só trecho dela.
Passou-se, então, a falar de
Villa-Lobos.
-Houve um concurso de música popular
brasileira em que o Villa Lobos colocou “Aquarela do Brasil” em segundo lugar.
O Ary Barroso ficou danado da vida com o
maestro.
Luca interrompeu a sua narrativa para
uma ressalva.
-Não me perguntem quem foi a primeira
colocada porque não foi dito.
Creio que todos pensaram no “Carinhoso”,
de Pixinguinha, enquanto ele seguia adiante:
-Villa Lobos, então disse para o Ary
Barroso que a sua música seria conhecida em todo o mundo. E acertou: porque
todos conhecem a “Aquarela do Brasil”
De Ary Barroso para Luiz Gonzaga, com a
intervenção do Claudio, que ainda pensava nas doze notas que foram mencionadas:
-”Asa Branca”, do Luiz Gonzaga, tem cinco
notas apenas.
-Pelo que eu soube, são seis.
-retruquei.
-Eu ouvi que são cinco.
-Com cinco ou seis, é um clássico da
MPB. - interveio o Luca com a concordância imediata do Lopo e do Vagner.
-É simples e bonita. Na homenagem que o
Colégio Santo Agostinho prestou ao centenário do Luiz Gonzaga, a filha de uma
colega minha, de trabalho, tocou “Asa Branca” no teclado.
Claudio não me deixou seguir em frente,
no meu discurso, porque enveredou pelo documentário lançado nos 100 anos do
compositor:
-Luiz Gonzaga aprontou lá no sertão.
Engraçou-se com uma menina branca, bonita... (talvez não dissesse “arrastou as
asas para uma menina...” para evitar o trocadilho).
-Claudiomiro, ele tinha a intenção de
casar. - contemporizou o Luca, que também assistira ao documentário.
-O pai dela alertou a mãe do Luiz
Gonzaga: “Ainda não o matei porque ele é seu filho, mas se ele não sumir daqui,
morre.”
-E os coronéis mandam matar mesmo.
-E como. - concordou o Lopo com as
palavras do Luca.
Claudio continuava:
-Luís Gonzaga deu com os costados no Rio
de Janeiro e até morou no Cachambi. Casou-se na Igreja Nossa Senhora da
Aparecida, perto da sua casa.
E voltou-se para mim.
-Carlinhos, eu fiz uma leitura dinâmica
do Biscoito Molhado e vi dois erros. Eu
não disse que o Luiz Gonzaga Filho foi registrado como branco, o documentário é
que diz, o livro não confirma isso. Quem dirigiu “O Terceiro Homem”, não foi
Oliver Reed, e sim Carol Reed. Os dois trabalharam no musical “Oliver”, e Carol
Reed dirigiu, enquanto o sobrinho, Oliver Reed, foi ator.
-Vou corrigir. - prometi, mas pensando
apenas no segundo erro apontado.
-O Luiz Gonzaga Júnior, largado, no
morro de São Carlos, chegou a ser “avião” dos traficantes. - reportou-se o Luca
ao filme.
-Ele foi preso pela polícia, e quando
perguntaram o nome do pai dele, respondeu que era o Luiz Gonzaga; chamado de
mentiroso, entrou no cacete. Interrogado de novo, repetiu Luiz Gonzaga e
novamente era chamado de mentiroso e apanhava dos policiais. - Cláudio falava,
enquanto exibia um humor sádico de que se acumpliciaram todos os presentes.
-Quando o Luiz Gonzaga apareceu na
delegacia para soltar o filho, eles ficaram surpresos. - encerrou a sua fala.
-Recordo-me de uma capa da VEJA em que
se comparava o grande sucesso do Gonzaguinha, com o esquecimento a que
relegaram o Gonzagão, na época. - manifestou-se o Luca.
-O Gonzaguinha apareceu no Festival
Universitário de Música Popular, da TV Tupi, e colocou o “Trem”, em primeiro
lugar, “Vida Nova”, com a Claudete Soares em terceiro.
-Quarto lugar. - corrigiu-me o Claudio
mostrando-me quatro dedos.
-Deveriam ser dois documentários, um
sobre o pai, outro sobre o filho. Gonzagão e Gonzaguinha num só filme deixa de
mostrar muita coisa. - comentou o Luca.
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