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O BISCOITO MOLHADO
Edição 4075 Data: 29 de
novembro de 2012
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SABADOIDO AINDA MAIS DOIDO
3ª PARTE
-Luca, você também considera o jogo do
bicho um esporte? - reportei-me ao BM dos taxistas em que reproduzi as falas do
Machado.
-Inteiramente. - respondeu com ênfase.
-Ele disse que o jogo do bicho é um
esporte. - frisei.
-Concordo, mas você deu uma floreada nas
palavras dele.
-Luca, eu reproduzi fielmente as frases
ditas pelo Machado. - protestei.
-Sim, mas eu jogo no bicheiro de um
lugar e ele, de outro.
-Tudo bem; só nessa parte eu inventei
que ele falou que vocês frequentavam o mesmo bicheiro; foi uma dedução minha.
Já que ele afirmou que o via muito no Méier.
-O que o Machado falou está certo. O
dinheiro jogado não compromete o orçamento da casa, por que, então, não tentar
a sorte?
-E o bicho não é um jogo continuado. -
reforçou o Claudio a argumentação do Luca.
-O Caetano Veloso escreveu, no domingo
passado, que esteve em Las
Vegas e viu velhinhas nos caça-níqueis. Elas perdem todo dinheiro da aposentadoria
nisso.
-Esse é o jogo continuado em que você
tenta a sorte minutos depois de perder e isso não acontece com o jogo do bicho.
- seguiram as palavras do Claudio às minhas.
-Já vi gente arruinar-se com vários
jogos, nunca com o jogo do bicho. - interveio o Lopo.
-Há pessoas que apostam até a casa nos
cassinos que há por aí.
Pretendia reportar-me aos anos em que
frequentei diariamente uma corretora de valores e presenciei perdas terríveis
de dinheiro no mercado de opções da bolsa de valores, mas o Luca continuava com
a palavra.
-Como houve gente que perdeu tudo no
jogo de ronda.
E voltou-se para nós:
-Vocês conhecem ronda?
-Era praticado por quase todos os
meliantes do Cachambi; resultou até na morte de um bicheiro e num tiro no pé do
Paulinho Pé Grande, por vingança, que nada tinha a ver com o bicheiro morto.
-Quem mandou ele ter pé grande,
Claudiomiro. - pilheriou o Luca.
-Quando escrevi que se gasta 100 reais
com um remédio que não cura e, então, o médico troca por outro, sendo assim
jogado fora a quantia anterior, enquanto o dinheiro da aposta no bicho ainda dá
a esperança de ser multiplicado,
transcrevo o raciocínio do Machado. - insisti em mostrar que não descambara
para a ficção neste BM.
-Eu concordo com ele. - bradou o Luca.
E prosseguiu com veemência:
-O banqueiro sempre tem a vantagem,
sabemos disso. Você joga num bicho e o banqueiro tem 24 chances contra uma; joga
no milhar, são 999 chances dele contra uma sua. Mas há casos de se acertar no
milhar. Claudiomiro já acertou, eu já peguei várias vezes invertido.
-O Vicente acertou um milhar na cabeça. -
reportei-me a um colega da Chaves Pinheiro.
-Ele jogava pouco.
Depois desse aparte, Luca nos sabatinou:
-Vicente só jogava num milhar, alguém
aqui sabe?
-8024. - respondeu o Lopo.
-Isso mesmo, sempre que vejo um
resultado de bicho, sei quando ele ganha ou não.
-E mais; quando ele estava com muito
pouco dinheiro, ele fazia parte do seu jogo.
-Como eu não entendera as palavras do
Lopo, Luca me explicou:
-Você aposta, por exemplo, dez reais em
alguns bichos, ele pedia, então, para acrescentar os, digamos, cinquenta
centavos dele.
-Vicente fez muito isso. - manifestou-se
o Claudio.
-Vocês viram o Globo Repórter de ontem?
Parecia que o Luca mudava abruptamente
de assunto, mas não: o assunto era ainda bicho, no caso, uma cachorra (fica
aqui o palpite).
-O Globo Repórter mostrou uma cadela,
Lilita,
-Meu filho (Rafael) tem agora outro
cachorro.
Luca ouviu o aparte do Lopo e foi
adiante:
-A Lilita é uma cadela que pega uma
trouxa de comida e sai com ela sem comer nada. Aquilo era insólito, e uma
câmara de filmar passou a acompanhar a Lilita desde o momento em que ela pegava
as trouxas de comida. Sabe o que ela fazia?
-Era uma pergunta retórica para
ressaltar o feito da cadela.
-Ela ia para um lugar vazio e lá outros
cachorros e até gatos comiam o que estava na trouxa.
-Qual é a raça da Lilita? - perguntei
-Vira-lata. Eu só gosto de cachorro
vira-lata.
-É a raça dos cachorros mais
inteligentes. - manifestou-se o Claudio.
Lopo se afastou para atender o celular,
como bem antes fizera a Gina, que ainda não havia retornado. A conversação
enveredou novamente para o mensalão.
-Essa história de sobra de campanha vem
de um tempo para cá.
-Luca, o Jânio Quadros já fazia isso;
ele desviava o dinheiro da campanha eleitoral dele para a Suíça; quando a filha
Tutu Quadros denunciou esse delito à imprensa, ele a internou num hospício.-
intervim.
-O que é o cúmulo do cinismo é o
advogado defender o réu com o argumento de sobra de campanha.
-Isso porque o crime prescreveu, Luca.
-Eu sei, Claudiomiro, mas é um crime.
E emendou a pergunta:
-Todos aqui viram a posse do Joaquim
Barbosa como presidente do STF?
-Eu vi. - era o Lopo que retomava à sua
cadeira na sessão do Sabadoido.
-Houve um momento que a câmera da
televisão focalizou a ministra Ellen Grace... Com todos os 63 anos dela, ainda
é uma mulher atraente.
-Ela namora o Fernando Henrique Cardoso.
-Não, Carlinhos, ela está com o Roberto
D' Ávila.
Em seguida, o Claudio também me
corrigiu.
-Pena que eu não ouvi todo o hino
nacional tocado no bandolim. - lamentei.
-Hamílton de Holanda é um grande
bandolinista. - vibrou o Luca.
-O Joaquim Barbosa frequenta as rodas de
choro de Brasília. - tentei falar, mas o Luca exaltava a atuação do ministro
Luiz Fux, como músico, no coquetel oferecido ao novo presidente do Supremo
Tribunal Federal.
-Essa parte do coquetel eu não vi nada.
- lastimei.
-Pena, Carlinhos, porque o Luiz Fux deu
um espetáculo tocando e cantando.
-O Ayres Brito disse, numa entrevista,
que o Joaquim Barbosa mostrou uma inteligência brilhante, quando pegou esse
caso do mensalão como relator- disse o Claudio.
-De fato, ele pegou 50 mil páginas de um
processo e conseguiu ordenar aquela barafunda toda com divisões em núcleo
financeiro, núcleo político, núcleo publicitário, núcleo operacional...
-Ele soube fatiar bem. - concordou o
Luca comigo.
-E a Dilma com aquela cara amarrada. -
criticou a Gina, mesmo sabendo que a presidente não compareceu ao coquetel.
Claudio voltou a alertar sobre o
temperamento irritadiço do Joaquim Barbosa.
-Ele, como presidente, vai ter de se
controlar.
-Ele consegue. - contemporizou o Luca.
-E o pior problema dele não será o
Lewandowski, e sim o ministro Marco Aurélio Collor.
Parece que o meu irmão adivinhava, pois
seis dias depois, o ministro Marco Aurélio, no momento de estabelecer a
dosimetria da pena do deputado João Paulo Cunha, alegando que, com a
aposentadoria do ministro Ayres Brito, a votação ficara empatada em 5 a 5 e, por isso, votava pela
absolvição do réu. Mostrou que o seu cérebro não processa mais as inúmeras
disposições legais, o que lhe provoca diarreias jurídicas.
Joaquim Barbosa prontamente reagiu a esse
absurdo:
-”Ministro Marco Aurélio, eu adoro a
objetividade e detesto a perda de tempo.”
Até o bíblico Jó se irritaria também.
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