O BISCOITO MOLHADO
Edição 4076 Data: 30 de
novembro de 2012
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CARTAS DOS LEITORES
-Acompanhei com interesse a viagem que o redator-chefe
deste periódico e o Elio Fischberg fizeram com a corte portuguesa, acossada
pelas tropas napoleônicas. Tenho uma crítica a fazer: o final é perfunctório, pois
vocês dois, analisando as consequências dessa mudança da corte para o Brasil,
dizem apenas uma frase – Dom João passou a perna em Napoleão Bonaparte
– e havia outros fatos que deveriam ser considerados. Manuel dos Santos.
BM:
É verdade. Napoleão Bonaparte invadiu a Espanha depôs Fernando VII e Carlos IV,
e colocou no trono José Bonaparte, seu irmão. O projeto do Imperador era
colocar parentes seus no trono dos dois países ibéricos, o que se tornou
inviável com a mudança do Príncipe-Regente e a Corte de Portugal para o
Brasil. Quando as correspondências entre
Napoleão e o General Junot se tornaram públicas, ficou evidente essa pretensão.
No que concerne ao “partido francês” (lusitanos que
aconselharam o Príncipe Dom João a não mudança da metrópole para o Brasil),
este enviou uma delegação para se entrevistar com o líder das tropas invasoras,
General Junot, com o argumento que o comando de Portugal fugiu, ficando
Portugal sem rei e sem lei, e por isso a França tinha todo o direito de lhes
dar uma Constituição e um rei.
Cabe assinalar quem houve, entre os portugueses que
ficaram e até mesmo brasileiros, como José Bonifácio, que enfrentaram com armas
nas mãos os invasores. Na Espanha, porém, a luta foi encarniçada, pois os
espanhóis usaram a tática das guerrilhas, que abriu uma ferida no poderio
napoleônico. Em 1812, o poderio da França sangraria para valer na campanha da
Rússia, o que deu início à sua derrocada.
Resumindo: Dom João passou a perna em Napoleão Bonaparte.
-O redator do Biscoito Molhado, escrevendo sobre a
visita que recebeu de Orson Welles, não se estendeu sobre a estada do grande
cineasta no Brasil, em 1942. Orson Welles foi assíduo frequentador do Cassino
da Urca, conheceu vários artistas brasileiros e até namorou a Emilinha Borba. Valdir
Pereira
BM:
Eu não tenho dúvida que Orson Welles era Emilinha e não Marlene, como somos eu,
Claudio, Luca, Fischberg, Dieckmann e tantos outros, mas daí a namorar a nossa
Rainha do Rádio... Apesar de ela contar com 19 anos, na época, não era de se
deixar envolver pela lábia de ninguém, ainda mais em língua inglesa.
O pesquisador Ronaldo Conde Aguiar, no seu livro “As
Divas do Rádio Nacional”, escreveu o seguinte: “Até para os padrões da época,
Emilinha vestia-se de forma “careta”. Nunca se permitiu decotes ousados, jamais
pôs as pernas de fora, seu estilo de cantar era discreto. Pintava-se de maneira
sóbria, embora borrasse de batom os lábios grossos. Seus cabelos estavam sempre
penteados.”
Estudei um ano com uma sobrinha sua e sei o quanto é
difícil resistir ao encanto das mulheres da família Borba, acredito, por isso,
que Orson Welles tentou, mas deu com a cara na porta.
-Biscoito, você, espanando a poeira dos porões da
memória, se referiu ao táxi do Seu Floriano que, às vezes, o transportava,
menino, junto com a sua mãe de São Cristóvão ao Cachambi. Você se recorda da
marca do carro? Dieckmann
BM:
Dieckmann, conheço a sua paixão pelos carros antigos, mormente os da década de
50 e da marca Jaguar, porém, eu só sei reconhecer o fusquinha que, na época,
não circulava no Brasil. Como consolo, posso afirmar que o pai do Vagner, que
frequenta o Sabadoido (filho, não o pai, que já faleceu) possuiu um Jaguar em
que transportava televisões, pois seu oficio era consertar esses aparelhos.
-”Uma heresia!” - já imagino as suas palavras. (*)
-Leio excertos das cartas da Rosa Grieco, reproduzidos
no Biscoito Molhado e, depois, eu me pergunto: por que este periódico não
mostra a mesma riqueza de vocabulário? Edvaldo
BM: Porque
a redação deste jornal não quer sacrificar os nossos leitores e a nós mesmos,
que teriam de carregar daqui para ali os vinte quilos do dicionário Houaiss.
Lembro o Houaiss que o Dieckmann recebeu de presente
quando era Coordenador-Geral de Transportes Marítimos do Departamento de
Marinha Mercante, ele o colocou numa mesa da sua sala, como se fosse uma Bíblia
na casa de puritanos, franqueando-o a todos que quisessem consultá-lo, o único
trabalho era virar as páginas. Mas as mesas das casas não possuem a extensão
daquela mesa de trabalho e, por isso, temos de nos deslocar de um lado para o
outro, transportando livros.
Há poucos dias, a Rosa Grieco manuscreveu um texto
para o Luca onde constava a palavra “ambages”. Seu primeiro pensamento, como
revelou no Sabadoido, foi pegar o Houaiss, mas lembrou que já praticara
halterofilismo horas antes e desistiu. O jeito foi recorrer ao Aurélio,
Ah, sim: ambages significa evasivas, rodeios.
-Li o Biscoito Molhado em que se faz alusão à
deficiência física do apresentador de televisão, também vereador, Vagner
Montes, decorrente de uma crise de exibicionismo. Ele ia a um julgamento em Cabo Frio. Esse
julgamento foi tão importante assim? Mário Jorge.
BM: Foi,
caro leitor; ocupou as primeiras páginas de todos os jornais brasileiros.
Vagner Montes para lá iria trabalhar como jornalista, porém, na noite anterior,
montado naquele veículo que é uma mistura de motocicleta com carro, ergueu a
roda dianteira, a única, para arrancar suspiros de admiração das moçoilas e
murmúrios de inveja dos marmanjos. Resultado: piloto e máquina ficaram sem
centro de equilíbrio e ela virou sobre ele, que foi submetido a uma cirurgia,
que resultou em parte da sua perna amputada.
No julgamento propriamente dito, foi levado ao banco
dos réus o playboy Doca Street por ter assassinado com vários tiros a grã-fina
Ângela Diniz. Expor a privacidade que, atualmente, é quase moda, quase não
existia naquele tempo, fim da década de 70 (as pessoas eram bem mais
recatadas), porém o caso debatido num tribunal colocou à luz do dia a
intimidade do casal. Ficamos sabendo, por exemplo, que Ângela Diniz ficava
horas trancada nas dependências da sua casa em Búzios, num ambiente penumbroso,
com os ares condicionados ligados no maior volume, e era submetida a crises de
ciúme do Doca Street, que desconfiava até de lesbianismo.
Evandro Lins e Silva atuou como advogado de defesa e
conseguiu a absolvição do réu com uma invenção sua: legítima defesa da honra.
Lembro um professor meu, De Finanças Públicas, que
interrompeu a aula para dizer que o caso do assassinato em Búzios era botânico:
“um parasita que matou uma trepadeira”.
È isso aí: a sociedade brasileira já foi bem mais
machista do que hoje.
(*) Muita
gente boa tem no imaginário considerar Jaguar uma marca de alta classe, o que
não é. Imagine quem nem sabe distinguir um Fusquinha de um Fiat, aí tal
ignorância precisa ser perdoada.
Como visto,
heresia alguma do pai do Vagner e espero que seus consertos fossem até melhores
do que o Jaguar que carregava os aparelhos.
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