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TROTE NA SUNAMAM
Alguma coisa até que acontece por aqui. Temos, por exemplo, desde que o Talma deixou de ser o gerente da Fiscalização, um “reality show”, onde todos os ocupantes dos espaços apartados por vidro tornaram-se uma platéia compulsória. E o espetáculo não cai no agrado do público; talvez porque os apreciadores desses espetáculos prefiram casais mais perfumados pela flor da idade; embora intelectualmente insuficientes, como Sabrina e Dhomini, como outros casais de TV dos quinze minutos de sucesso do Andy Warhol, que, por já transcorrerem esse espaço de tempo, eu já esqueci os seus nomes. Talvez esse descontentamento da platéia seja pela falta de um animador como Pedro Biau, para incentivar a dupla de artistas. A platéia compulsória reage... ou melhor, não reage: são muitos os bocejos e o tédio é interminável, como observa a reportagem do Biscoito Molhado nas suas idas ao banheiro.
Mas alguma coisa acontece, como afirmamos acima; não com a mesma intensidade do Departamento de Marinha Mercante que, ao que parece, agora é Departamento do Fundo da Marinha Mercante. Explica-se: o DMM é inflamado pelo calor tropical, ainda mais inflamado com o “Fundo” que ganhou no nome, enquanto na ANTAQ, somos desanimados pelo frio glacial. Nessa terça-feira, por exemplo, quando atravessamos a geografia e a avenida Presidente Vargas, e lá estivemos, deparamo-nos com o Adelino que, beijocando as moças e apertando as mãos dos homens, como se esses fossem portadores da pneumonia asiática, declarava:
-“De homem quero distância. Quanto às mulheres, podem subir sobre mim, me montar, fazer o que desejarem...”
Pretende o Adelino colar dois adesivos no corpo: um no tórax e outro nas costas com os mesmos dizeres: “Mantenha a distância, se você for homem”. A diferença é que as letras do adesivo nas costas serão garrafais. Não sei se enxergarão...
Poucas horas depois, quando já nos achávamos na ANTAQ, Dieckmann que desancava os anões de jardins (para ele um gosto kitch dos novos ricos da Barra da Tijuca) ao saber da aversão do Adelino, garantiu que o seu problema com os anões de jardins nada tem de pessoal com o ex-diretor do DMM.
Falando no Dieckmann, ele viera, nessa oportunidade, à Seção de Estatística, para pegar gazeteiros na sala de relax Cíntia Martins e, ao perceber que a Cíntia se molhara, quis saber o porquê.
Nós, que antes da chegada do nosso amigo, já ouvíramos a reclamação dela, porque o frasco com o corretivo à base d'água esparramara-se sobre ela, examinamos a reação do Dieckmann com a resposta da Cíntia.
-“Tomei um banho de corretivo.”
-“Ninguém, Cíntia, pode dizer, agora, que você não é uma mulher correta.”
Ali estava o mesmo Dieckmann que, nas aulas do curso da Fundação Getúlio Vargas, ora agia como um jogador de vôlei (se a bola subia, ele cortava), ora agia como um jogador de futebol (se a bola quicava, ele chutava), ora agia como um jogador de basquete (se a bola vinha no rebote, ele encestava). Nunca, porém, Dieckmann agia como um jogador de beisebol – se arremessam a bola, mete-se o porrete. Nada de piadas grosseiras, nada de mau gosto, nada de anões de jardim. Dieckmann é gentil, embora confesse que, às vezes, controla a vontade de calçar os borzeguins do seu tempo de Colégio Militar, que dona Jurema o obrigava a lustrar diariamente, e chutar algumas bundas e bundões.
-“Mulher correta...” – falou o Dieckmann, nesse meio de tanta incorreção. Recordo-me de uma mulher que estava correta, apesar da sua atividade para ganhar dinheiro. Não!... A sua atividade para ganhar dinheiro era menos sutil. Tratava-se de uma profissional do sexo que apareceu na SUNAMAM no tempo da avenida Rio Branco 115.
-“Lá vai o redator-chefe do Biscoito Molhado descambar outra vez pelo passado.” – reclamará um e outro assinantes, já prevejo.
Fazer o quê? Pouca coisa acontece por aqui; o máximo que pode sair do nosso “reality show” talvez sejam uns ensaios de nus para a revista Portos e Navios ou Fairplay. Voltemos, então, no tempo. Todos devem reconhecer que tento ser mais historiador do que passadista.
O diabo é que solicitaram os serviços da profissional do sexo dando o telefone da Ana Luiza.
-“Nunca um funcionário meu faria uma molecagem dessa.” – insurgiu-se a Ana Luiza.
Era um trote, sem dúvida. A moça, a princípio, ficou emburrada, mas depois reagiu com preocupação, pois teria de se apresentar ao seu patrão sem a parte dele do michê. Ana Luiza, menos nervosa, explicou ao cafetão, no telefone, a situação deplorável da sua funcionária. Ele teria que compreender. Em seguida, neurastênica de novo, pois correra a notícia que o boy Zé Grandão da diretoria de Cabotagem fora o autor do trote, Ana Luiza rumou para a sala do doutor Pacheco:
-“Ela, com uns óculos enormes, estava mais assustadora do que nunca.” – lembra-se ainda hoje o Lampier do arrepio que lhe percorreu a espinha com a súbita aparição da chefe do Bureau de Fretes no lugar onde trabalhava.
-“O comandante Pacheco tinha verdadeiro horror à voz da Ana Luiza.” – diz ainda hoje a Regina, também funcionária do comandante.
Lá, na Diretoria de Cabotagem, Ana Luiza queixou-se mais da canalhice que foi darem o número do telefone da sua sala para uma chamada dessas, do que da covardia que fizeram com a moça.
De volta ao Bureau de Fretes, esculhambava agora o comandante Pacheco, porque sempre passou a mão pela cabeça desse “compridão ordinário” (o Zé Grandão).
-“Funcionário meu não faz isso!” – berrou com toda a estridência da sua voz.
Nesse tempo, ainda não haviam aparecido o Nilo e o Volto Já na SUNAMAM, mas já trabalhava o Marcos. Ele, funcionário da Cabotagem, sem histerias e correrias, e com seu profundo conhecimento da natureza humana, tirou do bolso o provento da profissional (ela ganhava por hora), entregou-lhe e o caso foi resolvido. Isto é correção de rumo.
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