O BISCOITO MOLHADO
Edição 5276 SX
Data: 20 de abril de 2017
FUNDADOR: CARLOS EDUARDO
NASCIMENTO - ANO: XXXIV
DEUS SALVE O AMÉRICA
Foi em 1957 que assumi minha paixão pelo Fluminense. Péssimo momento.
Na final do campeonato carioca daquele ano fomos massacrados pelo Botafogo
com um acachapante placar de 6 x 2. Nem mesmo o extraordinário Castilho foi
capaz de impedir que um endemoniado Paulo Valentim vazasse a meta tricolor em
nada menos do que cinco oportunidades.
Pela lógica, eu deveria torcer pelo América. Desde os primórdios
era o time da família de meu pai. O médico Paulo Barata Ribeiro,
irmão do meu avô paterno, foi campeão carioca em 1922. Era o capitão do time,
assim escalado: Ribas, Perez e Barata; Miranda, Oswaldinho e Matoso; Guerra,
Chiquinho, Gonçalo, Gilberto e Brilhante. Tio Paulo, o "Baratinha", foi
o capitão do "Campeão do Centenário", glória que, durante décadas, foi
motivo de orgulho para o grande contingente de torcedores, especialmente
tijucanos, que apoiavam o clube da Rua Campos Sales.
Tio Paulo, do alto dos seus 1,65 metros, foi, também,
"beque central" e capitão da seleção brasileira, vice campeã do
sul americano de 1921, promovido na Argentina. Já era então,
ele explicava, um especialista na arte de desatar cadarços de
calções dos atacantes adversários, impedindo-os de com ele disputar bolas
pelo alto.
Pelo lado de minha avó paterna o americano de destaque foi o
Promotor de Justiça Max Gomes de Paiva. Presidente do clube, esforçado defensor
do seu time de aspirantes, Tio Max deu uma contribuição importante na
elaboração das leis que regem o desporto brasileiro. Tinha seu nome o
auditório da Confederação Brasileira de Futebol, quando situado na Rua da
Alfândega. Na Barra da Tijuca, para onde um bando de larápios transferiu mais
tarde a sede da CBF, não sei se isso ainda persiste.
De Tio Max conheço uma história sensacional. Menino ainda,
gabava-se de ter aprendido, sozinho, a falar alemão. Falava pelos cotovelos,
para espanto e admiração de familiares e vizinhos.
Isso até o dia em que um cidadão nascido na Baviera foi morar na
casa ao lado da mansão dos Gomes de Paiva. O menino Max durante um bom
tempo não foi visto. Reapareceu aos poucos, discretamente, para admitir
que aquela língua praticada em seus longos discursos não era propriamente o
alemão.
Minha avó paterna, Zélia Gomes de Paiva, também ganhou fama
entre os torcedores do América. Dizia meu pai que ela e sua irmã, Dagmar,
jogavam basquetebol no clube. O que acho bastante improvável. Atribuo sua
fama ao versinho que criou quando o grande goleiro Marcos Carneiro
de Mendonça deixou o América e se transferiu para o Fluminense. Ela
repetia à exaustão:
O
Marcos do Fluminense
Pegador de bola morta
De tanto fazer firula
Acabou com a perna torta
Diante de tão importantes ancestrais, seria mais do que natural
torcer pelo América. Não levo em conta os parentes de minha mãe. Meu avô Rafael
Xavier, paraibano formado na Faculdade de Direito do Recife, se dizia
torcedor do Náutico, Duvido muito que soubesse dizer as cores de sua
camisa. Falando em cores, registre-se que o América não nasceu vermelho e
branco. E nem mesmo na Tiju ca. Foi criado na Saúde e suas cores eram o
preto e o branco.. Transferiu-se para a Tijuca em 1911, quando de sua
fusão com o Haddock Lobo Futebol Clube, agremiação então muito maior do que
ele.
A mudança para o vermelho e branco foi sugerida por Belfort
Duarte, grande baluarte do América, inspirado no uniforme do Mackenzie College
de São Paulo.
Encontros que envolvessem Tio Paulo, Tio Max, Paulo Fortes e seu
irmão Sergio Fortes sempre abordavam as façanhas americanas. Com atenção
redobrada, eu tomava conhecimento das façanhas de Oswaldinho, Maneco,
Fernando Ojeda, Carola e Canário. Um assunto recorrente era a perda do
campeonato carioca de 1955, que resultou em tri-campeonato do Flamengo,
atribuída à violência do zagueiro Tomires, que ainda no primeiro tempo do jogo
decisivo quebrou a perna do astro argentino Alarcon.
Meu pai não fez força para que eu me tornasse americano.
Orgulhoso, gabava-se do privilégio de estar na companhia de seus amigos
Max Nunes, Lamartine Babo, Silvio Caldas, Mario Reis, Carlos Galhardo, João
Cabral de Melo Neto. Marques Rebelo, Jorge Amado, Silveira Sampaio e Sobral
Pinto. entre muitas outras figuras de relevo.
Tornei-me tricolor sempre gostando do América. O segundo time de
quase todos os cariocas. Não sofri quando o América aplicou um 2 x 1 no
Fluminense na final do campeonato carioca de 1960. Menos ainda quando se sagrou
campeão da Taça Guanabara de 1974, também diante do Fluminense, possivelmente
com o último de seus grandes esquadrões, onde despontavam Orlando Lelé, Alex,
Geraldo, Flexa, Eduzinho, Braulio, Ivo, Luisinho e Gilson Nunes.
Sofro com o América nos dias de hoje. Quando vejo o clube se
apequenar, envolvido em intermináveis transações imobiliárias, promovidas
com a finalidade de cobrir buracos financeiros cada vez maiores.
Sofro com o América quando acompanho seus rebaixamentos nos
campeonatos brasileiro e carioca.
Ainda bem que Tio Paulo, Tio Max e o Paulo Fortes não
testemunharam essas tragédias.
Boa tarde! Estou fazendo uma pesquisa sobre o período em que o DR. Paulo Barata foi presidente da Fundação das Pioneiras Sociais em 1961. Você teria alguma informação que pudesse me passar?
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