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O BISCOITO MOLHADO
Edição 5273SX Data: 14 de abril de
2016
FUNDADOR: CARLOS EDUARDO NASCIMENTO - ANO: XXXIII
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ARQUIVOS DE RÁDIO
Minha "carreira radiofônica" começou
em 2001. Eu ocupava uma diretoria da Secretaria de Cultura da Cidade do
Rio de Janeiro. O Secretário era o inesquecível Artur da Távola. Um belo dia
cruzo com o Artur num corredor da secretaria e sou saudado com um efusivo
"Meus Parabéns!". Não era meu aniversário e, ao que me constava,
não havia nada a comemorar. Diante disso, devolvi : "Parabéns por
que?". Artur foi rápido e incisivo : "Você acaba de ganhar um
programa de rádio!".
Próximo de um colapso, recebi as devidas
explicações. Meu amigo havia sido indicado para reformular a Rádio MEC, que
estava muito caidinha. Recebera carta branca para tomar várias providências,
entre as quais criar uma nova programação para a emissora. Faria isso com a
ajuda dos seus amigos mais próximos. Tudo já estava delineado em sua
privilegiada cabeça. Eu ficaria encarregado de comandar o "Clube da
Ópera".
A idéia era excelente. Às 17 horas dos
domingos a MEC apresentava a "Ópera Completa", programa que era produzido
pelo Zito Batista Filho, se eu não me engano desde os anos 50. O "Clube da
Ópera" seria transmitido uma hora antes. Aficionados da arte lírica
por mim convidados iriam trocar ideias sobre a ópera que seria apresentada em
seguida.
Com as dicas do Artur eu superei a tremedeira
inicial e, modéstia à parte, penso que me saí bem. Grandes figuras participaram
desses debates. Lembro meu querido amigo Aloísio Teixeira, reitor da UFRJ. O
editor Sebastião Lacerda. A juíza Comba Marques Porto. O meio-soprano Glória
Queiroz, entre outros convidados também muito importantes.
Um grande fã do programa era o Carlos
Nascimento, nosso inesquecível "Biscoito", que conheci através do
Roberto Dieckmann. Frequentemente ele mencionava esses debates no
"Biscoito Molhado", o que me deixava feliz da vida.
Minha segunda incursão radiofônica aconteceu
anos mais tarde, também por convocação do Artur da Távola. Seu novo projeto era
consertar a Rádio Roquete Pinto, devastada pelas administrações da família
Garotinho. Passei a comandar "As Melhores Vozes do Mundo", outra
"bolação" do Artur da Távola. Esse programa, ouso dizer, também
deu muito certo.
Na Roquete conheci Jonas Vieira, outro
personagem inesquecível. Quando fiquei impossibilitado de continuar com "As
Melhores Vozes", juntei-me ao Jonas para produzir e apresentar o "Rádio
Memória", que permanece no "hit parade" até hoje.
Par completar meu "curriculum
radiofônico", faltou mencionar a " Rádio OSB ", que concebi
quando ocupava o cargo de Diretor Executivo da Orquestra Sinfônica Brasileira.
Com essa iniciativa, os concertos da OSB passaram a ser gravados, com excelente
qualidade, sendo apresentados pela Rádio MEC nas tardes de domingo.
Meu trabalho radiofônico sempre demandou muita
pesquisa e uma montanha de anotações. Não tenho talento para apresentar meus
programas de improviso. Dezenas de cadernos atestam a trabalheira que tudo isso
me deu.
Empenhado em manter acesa a chama do "Biscoito
Molhado", ocorreu-me divulgar esses escritos junto aos nossos
leitores. Começo hoje, com os dois textos que seguem:
CHIQUINHA GONZAGA
Nem todos reconhecem o nome Francisca Edwiges
Neves Gonzaga. Mas todos conhecem Chiquinha Gonzaga, a compositora e pianista
brasileira que foi a primeira chorona, primeira pianista de choro e primeira
mulher a reger uma orquestra no Brasil. Filha de um general do exército e de
mãe humilde, ela era afilhada do Duque de Caxias.
Nasceu no Rio de Janeiro no dia 17 de outubro
de 1847. Com dezesseis anos, por imposição da família, casou-se com
Jacinto Ribeiro do Amaral, oficial da Marinha Imperial. Logo se separou. A
causa? Ela foi proibida de se envolver com música.
Passou a viver como musicista independente,
tocando piano em lojas de instrumentos musicais. Também dava aulas de piano,
com grande sucesso. Foi aí que começou a compor polcas, valsas, tangos e canções,
tendo formado um grupo de músicos para se apresentar em festas.
Chiquinha Gonzaga é considerada a primeira
compositora popular do Brasil. Seu primeiro grande sucesso aconteceu em 1877,
com uma polca intitulada "Atraente". É dela a marcha "Ô Abre
Alas", primeira música escrita para o carnaval de que se tem
notícia, e que foi produzida para o cordão "Rosa de Ouro", do
Andaraí. Em seguida ela se dedicou ao teatro de revistas e de variedades.
Estreou compondo a trilha da opereta "A Corte na Roça", em 1885. Em
1911 estreou seu maior sucesso no teatro, a opereta "Forrobodó",
que alcançou 1.500 apresentações, marca até hoje não superada. Outro êxito foi
a partitura da opereta "A Jurity", de Viriato Correa. Em 1934, com 87
anos de idade, ainda estava na ativa, preparando a música da opereta "Maria".
No total, Chiquinha Gonzaga escreveu música
para 77 peças teatrais, sendo autora de mais de 2.000
composições. Ela participou ativamente da campanha abolicionista e ajudou
a fundar a Sociedade Brasileira de Autores Teatrais.
SOMEWHERE OVER THE RAINBOW
O filme " O Mágico de Oz " é um clássico
do cinema norte-americano, tendo concorrido a seis estatuetas da Academia em
1939, inclusive a de melhor filme do ano. Essa produção envolveu algumas
curiosidades. Parte do filme foi registrado em preto e branco, notadamente as
sequências que se passaram no Estado do Kansas. Para outras sequências foi
utilizado um negativo em tom sépia. Finalmente, as cenas de Dorothy e seus
amigos no reino de Oz foram filmadas em Technicolor.
Mas o que nos interessa de verdade nesse
momento é a canção do filme. "Somewhere over the rainbow" ganhou
o Oscar de melhor canção de 1939. Seus autores são Harold Arlen e Edgar
Yip Harburg. Registre-se aqui mais uma curiosidade. A canção, que viria a se
tornar marca registrada de Judy Garland, nasceu com o título "Over the
rainbow". Dele não constava a palavra "somewhere". E um detalhe
a mais merece ser mencionado. A música, que vendeu milhões de discos durante
décadas, foi gravada em estúdio por Judy Garland em 7 de outubro de 1938.
A versão que ela gravou quando da produção do filme guarda diferenças em
relação a essa primeira. A segunda não tem introdução e contém alguns versos
diferentes. Esta versão, a do filme, só chegaria às lojas de discos em 1956, quando
a Metro lançou o disco da trilha sonora, coincidindo com o momento em que o
filme começava a ser exibido também nas redes de televisão norte-americanas.
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