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segunda-feira, 29 de julho de 2019

3104 - FF Haraquiri em Porto Alegre



O  BISCOITO  MOLHADO
Edição 5363 FF                           Data: 29 de julho de 2019

FUNDADOR: CARLOS EDUARDO NASCIMENTO - ANO: XXXVI


O fruto não cai longe da árvore

Meu pai é um colecionador. Teve, hoje em muito menor número, carros e carrinhos (dinky toys), trens Lionel, relógios e até caixas de som de um tipo caro (não me recordo a marca) ele tinha umas 10. O que uma pessoa quer fazer com 10 caixas de som eu nunca entendi, mas alguns devem se perguntar por que eu estranho, se eu mesmo tenho umas 9 mesas de botão. Lembro que eu comprei um som e muito orgulhoso mostrei para ele perguntando o que ele achava e ele de bate pronto:
- Que merda de som!

Um dos hábitos que peguei do meu pai foi visitar leilões, antiquários, etc. Claro que procuro por botões. É muito raro de encontrar, primeiro, porque muita gente faz isso, segundo, porque o território para achar os que me interessam é o Rio e terceiro, é que botão é um negócio raro mesmo, a maior parte das pessoas joga fora.
Mas, há cerca de uns 6 meses apareceu um lote. Botões que chamo de lua cheia, com as cores do meu time (Fluminense) e com o lance inicial baixo. Pensei, vou pegar, coloco um lance automático meio alto e pronto, já que não sou bom nessas vigílias e acho fazer lance por telefone muito démodé. Desconfiava que os botões não seriam suprassumo, mas pensei, estão valendo por um preço baixo.

Ocorre que me ferrei. No dia eu não acompanhei o leilão, mas, quando fui ver, eu tinha ganho, contudo por um preço muito maior do que tinha imaginado. 400 reais!!! Pensei de imediato, algum idiota ficou mandando lance e elevou o preço dessa merda. Me ferrei!!!

Coloquei um lance automático alto sei lá por quê, um quê de compulsivo, e foi isso.
Exclamei mais alguns palavrões e aceitei a ferroada. Recentemente fiquei sabendo quem era meu adversário no lote.

Eu e meu pai ficamos estremecidos um certo tempo e quando retomamos o contato, conversávamos sobre amenidades quando ele puxa o assunto futebol de botão.
- Rapaz, você não sabe o que ocorreu! Eu vi um leilão outro dia daqueles botões antigos que gosto que eram vendidos na Pequenina, sabe, aqueles botões bem redondos.
- Sei pai, aqueles que você comprava no Catete, que eu chamo de lua cheia.
- Isso! Então, eu vi o leilão e pensei, cacilda, time do Fluminense, um monte deles de osso (para o meu pai todo botão é de osso) e mesmo nessa merda de bater palmas em que eu estou, decidi que iria ganhar essa merda. Só que você não imagina o que aconteceu!!!
- O que?
- Eu não sei usar essa droga de internet, então fiquei dando o lance por telefone. E aí foi a cem, duzentos, trezentos, um cara bancando as subidas e pensei, agora ele pára, mas o filho da puta ainda deu um lance de 400 e aí eu desisti. Ficou demais para mim. Mas você não sabe da maior.
- Qual?
- Neste mesmo leilão, eu ganhei um outro lote, umas revistas de trem, então fui pegar lá no Centro do Rio de Janeiro, um calor senegalês, mas, intrépido e com a curiosidade de olhar os botões, que pareciam ser a oitava maravilha do mundo, senão a sétima. Cheguei lá e perguntei à mulher que me atendeu: - Olha, por curiosidade, uns botões que vocês anunciaram, ainda os tem aí?
- Tenho sim, senhor, quer ver?
- Quero sim, por favor.
Depois de uns 15 minutos naquele calor ensurdecedor, me vem uma caixinha muito bunda mole e logo falei:
- Não pode ser, os botões são grandes, bonitos, não iriam caber nessa caixinha.
- Não senhor, são estes mesmos, olha aqui.
- Rapaz, eu rasguei minhas cuecas. Eram uns botões de merda, do tamanho da unha de um anão e pensei, de que merda que escapei, o otário que pegou essas coisinhas vai fazer um Haraquiri na hora. Graças a Deus escapei dessa.
- Amém, pai.